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terça-feira, novembro 30, 2021

Detecção de contágios da variante ômicron se multiplica na Europa, e restrições pela nova onda aumentam




Um grupo de passageiros espera os resultados do exame de coronavírus no aeroporto de Amsterdã, no sábado, em uma imagem obtida nas redes sociais.

Pelo menos seis países da UE localizaram infectados com a mutação do coronavírus. Por enquanto, todos os casos são de viajantes recém-retornados do sul da África, onde foi descoberta

Madri - Desde a última sexta-feira, quando saltaram os primeiros alertas pela nova variante do coronavírus, chamada ômicron e que a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica por enquanto como “preocupante”, a Europa vem registrando um constante acúmulo de casos. Em pelo menos seis países da União Europeia, aos quais se soma o Reino Unido, foram confirmados contágios com a nova mutação, que os cientistas ainda estão estudando para tentar averiguar sua periculosidade. A OMS informou no domingo que “ainda não está claro” se ela é mais contagiosa nem se causa efeitos mais graves nos pacientes. E nesta segunda-feira acrescentou que o risco global associado a ela é “muito alto”. A nova variante sacudiu as Bolsas (a do Japão volta a registrar perdas nesta segunda-feira, enquanto as europeias sobem) e gerou uma cascata de anúncios de fechamentos de fronteiras aos viajantes provenientes do sul da África. Também há contágios sendo detectados fora da Europa, como na Austrália e Israel. O Governo deste último país foi o mais radical nas medidas para tentar vedar seu território à nova variante ômicron: no domingo, proibiu a entrada de qualquer viajante estrangeiro a partir desta segunda-feira, durante pelo menos duas semanas. Pouco depois, o Executivo marroquino tomou a mesma decisão e suspendeu a chegada de todos os voos internacionais por 15 dias. Os ministros da Saúde do G-7 (bloco das sete maiores economias mundiais) devem se reunir nesta segunda-feira de forma extraordinária para discutir a situação.

Muitos outros governos nacionais, como os 27 membros da UE, endureceram os controles e suspenderam voos e a entrada de passageiros procedentes de sete países do sul da África: África do Sul, Botsuana, Essuatini (ex-Suazilândia), Lesoto, Moçambique, Namíbia e Zimbábue. A OMS criticou no domingo esta medida e aplaudiu a gestão feita pelo Governo da África do Sul, o país que detectou a nova variante e a notificou oficialmente à comunidade internacional na quinta-feira, um dia antes do pânico tomar conta do planeta. A Espanha também endureceu no sábado os controles de acesso às pessoas que provenham dessas sete nações africanas, incluídas agora na categoria de países de “alto risco”. Fontes do Ministério da Saúde espanhol dizem que estão em contato com os governos regionais e, por enquanto, não se noticiou nenhum caso de contágio com a nova mutação.

Todos os casos de pessoas diagnosticadas com a nova variante na Europa são viajantes procedentes do sul da África ou têm relação com eles, por isso não se sabe se a cepa já está circulando pelo continente, e em que grau. A aparição da ômicron chega num momento em que os alarmes já tinham sido acionados na UE devido ao aumento de casos, aos quais muitos países do bloco vinham respondendo com o endurecimento das medidas sanitárias, com vacinações obrigatórias e seguindo a recomendação da Comissão Europeia de uma terceira dose. Esta era a situação no domingo nos países europeus onde foram detectados contágios da nova variante:

Portugal. O país detectou 13 casos da nova variante, todos de jogadores de futebol ou funcionários do Belenenses, time da primeira divisão do futebol português, que tem seu estádio no bairro de Belém, em Lisboa. O jogador sul-africano Cafú Phete, parte do elenco, voltou em 22 de novembro a Portugal após disputar dois jogos com a seleção do seu país. Todos os atletas e seus contatos estreitos estão de quarentena.

No sábado à noite, o Belenenses foi a campo para cumprir seu compromisso contra o Benfica, também em Lisboa, o que gerou uma forte polêmica no país. Àquela altura, sabia-se que havia um foco de covid-19 na equipe, mas se desconhecia a presença da nova variante (os exames que a detectaram foram feitos no domingo). Devido às baixas sanitárias, o Belenenses só conseguiu reunir nove jogadores para entrar em campo. Após o intervalo, o jogo foi interrompido, conforme determina a regra, porque o time ficou com menos de sete jogadores.

Holanda. Confirmaram 13 casos da nova variante. Os afetados são parte do grupo de 61 passageiros com coronavírus ― de um total de 624 ― que desembarcou na sexta-feira em dois voos da KLM procedentes de Johanesburgo e Cidade do Cabo, ambas na África do Sul. É possível que a cifra aumente, porque os exames laboratoriais não foram concluídos. Todos os viajantes contagiados foram isolados, a maioria em um hotel próximo ao aeroporto de Amsterdã. Um grupo de cinco positivos pôde retornar ao seu lar porque moravam sozinhos ou viajavam com todas as pessoas com as quais convivem. Todos, indistintamente, deverão cumprir quarentena. O ministro da Saúde, Hugo de Jonge, disse não descartar a adoção de novas medidas restritivas.

Os passageiros que viajavam nos dois voos em que os 61 contágios foram detectados não precisavam apresentar exame PCR com resultado negativo para embarcar, pois até a última sexta-feira os Países Baixos dispensavam dessa exigência os viajantes que estivessem vacinados. Quem não tivesse recebido a vacina deveria fazer o exame PCR no máximo 48 horas antes de embarcar, ou um teste rápido de antígenos nas 24 horas anteriores. Na sexta-feira, antes de conhecer os 61 contágios procedentes da África do Sul, o Governo holandês já tinha anunciado novas medidas restritivas para conter o avanço das infecções e as internações hospitalares. Durante as próximas três semanas, restaurantes, espaços culturais e centros de práticas esportivas só poderão abrir ao público entre 5h e 17h, entre outras restrições. As autoridades recomendaram trabalhar em casa.

Alemanha. O país confirmou no domingo um terceiro caso da variante ômicron, após conhecer o resultado do sequenciamento do PCR de um passageiro que desembarcou em Frankfurt proveniente da África do Sul em 21 de novembro. No sábado, as autoridades do Estado da Baviera (sul) confirmaram os dois primeiros, em viajantes que pousaram em Munique no dia 24. A incidência semanal continua crescendo na Alemanha, com 447 casos por 100.000 habitantes (a Espanha está com 98). O país tem mais de 800.000 infecções ativas de coronavírus, especialmente no sul e leste do país. A incidência na Saxônia, o Estado federado com a pior taxa de vacinação (60%,contra uma média de 68%), está disparada, acima de 1.200.

Na semana passada, superou-se a barreira psicológica dos 100.000 mortos desde o início da pandemia. As autoridades sanitárias pediram ajuda ao Exército para transferir pacientes críticos dos Estados mais afetados, Baviera e Saxônia, para hospitais com leitos livres no norte do país. O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, somou-se no domingo às mensagens que políticos e cientistas vêm repetindo há dias: a população tem que reduzir os contatos para evitar um novo fechamento da vida pública. Steinmeier publicou um artigo no jornal Bild, o mais lido do país, com um apelo aos 14 milhões de adultos ainda não imunizados para que se vacinem, e aos demais para que recebam a dose de reforço o quanto antes. Nesta semana foram registradas300 mortes por dia. As autoridades endureceram as restrições para os não vacinados, que não podem ter acesso a bares, restaurantes, casas noturnas, atividades culturais e práticas esportivas em locais fechados.

Reino Unido. O ministro britânico da Saúde, Sajid Javid, afirmou no domingo à BBC que não haverá um confinamento total para se defender da variante ômicron, da qual já foram detectados pelo menos três casos na Inglaterra durante a última semana. No caso de dois dos infectados, se trata de pessoas com uma relação entre si, e foi possível estabelecer um vínculo com uma viagem recente à África do Sul. No terceiro dos casos, o Executivo de Boris Johnson informou que o paciente já não se encontra no Reino Unido.

O Governo britânico ampliou as restrições, embora sem chegar a adotar por completo o plano B que disse ter preparado em setembro. A partir da terça-feira, voltará a ser obrigatório na Inglaterra (como já era na Escócia e Gales) o uso de máscaras em comércios e no transporte público, embora não em restaurantes e pubs. Viajantes que não procedam de um país da lista vermelha (como a África do Sul), deverão permanecer isolados até o segundo dia após sua entrada no Reino Unido, quando deverão fazer um PCR. Se apresentarem resultado negativo, poderão deixar a quarentena. O Governo britânico reluta por enquanto em recomendar o teletrabalho ou a exigir o passaporte covid para ter acesso a lugares públicos, como já fazem outros países europeus.

Bélgica. A Bélgica foi o primeiro país europeu a detectar, na sexta-feira, a presença da nova variante, mas as últimas medidas das autoridades belgas não se devem tanto à ameaça do ômicron,e sim a uma tentativa de conter no país a quarta onda de contágios desde o início da pandemia. A estratégia do Governo belga se centra em acelerar a dose de reforço. As autoridades sanitárias decidiram no sábado lançar oficialmente uma nova campanha de vacinação para administrar a dose suplementar a três milhões de pessoas maiores de 18 anos antes do fim de anoe a outras cinco milhões até março de 2022 (numa população total de 11 milhões).

A chegada de ômicron surpreende a Bélgica em pleno repique do número de contágios, que passaram de uma média diária de 7.800 no fim de outubro a mais de 16.000 em meados de novembro. Em resposta à incipiente quarta onda, na sexta-feira se decidiu, entre outras coisas, o fechamento de restaurantes a partir das 23h, a interdição das discotecas e uma limitação de público de 50 pessoas em eventos e reuniões.

Dinamarca. As autoridades sanitárias dinamarquesas confirmaram no domingo o contágio com a nova variante em dois viajantes procedentes da África do Sul. Essas duas pessoas estão isoladas, e as autoridades iniciaram o rastreamento de contatos estreitos. A Dinamarca também endureceu os controles dos países procedentes do sul da África, e o Governo recomenda que todos os viajantes procedentes dessa região façam um PCR e se isolem até terem um resultado negativo passados seis dias da sua entrada.

Itália. A Itália foi pioneira na implantação do certificado de vacinação como salvo-conduto para quase todas as atividades públicas, incluídas as de âmbito profissional. Mesmo assim, o Governo restringiu ainda mais as medidas nesta semana, tornando obrigatória a terceira dose aos que completaram a pauta há mais de nove meses. A situação ainda está relativamente estável na maioria das regiões, mas a ameaça da nova variante ômicron já é evidente. Neste fim de semana, um diretor da empresa energética Eni que voltava de Moçambique após fazer escala na África do Sul deu positivo para a nova mutação. Também cinco familiares, que se encontram em quarentena e sem sintomas.

República Tcheca. A República Tcheca também detectou a presença do ômicron. No sábado, um canal local informou que um hospital da cidade de Liberec tinha detectado uma paciente contagiada com esta variante durante um exame feito no sábado. A mulher voltou para sua casa na semana passada, procedente da Namíbia, com escalas na África do Sul e Dubai. A paciente apresenta sintomas leves da doença e está confinada com outras oito pessoas que chegaram com ela. Outros países europeus, como Áustria e Portugal, também estão analisando casos suspeitos.

Com informação do Juan Carlos Sanz (Jerusalém), Francisco Peregil (Rabat), José Naranjo(Dacar), Isabel Ferrer (Haia), Elena G. Sevillano (Berlim), Rafa de Miguel (Londres), Bernardo de Miguel (Bruxelas) e Daniel Verdú (Roma).

El País

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