Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Uma bomba explodiu no PMDB, depois de haver ficado clara a candidatura de Dilma Rousseff à presidência da República, pelo PT. Melhor seria dizer uma antibomba, um daqueles artefatos que em vez de explodir, implodem, feito de antimatéria, capaz de arremessar para dentro o que se supunha destinado para fora.
Quem quer ser candidato à vice-presidência na chapa de dona Dilma? Primeiro falaram em Geddel Vieira Lima, que saltou de banda alegando compromissos com o eleitorado baiano, ou seja, pretende disputar o governo do estado ou uma das duas vagas de senador, em 2010. Só não quer arriscar seu futuro político. Depois, no próprio ministério, apareceu Edison Lobão, um craque na arte de dar nó em pingo d'água, mas de olho, mesmo, no governo do Maranhão.
Falou-se, em seguida, em Michel Temer, eleito presidente da Câmara e ainda aferrado à presidência nacional do partido. Sua candidatura jogaria para o espaço a perspectiva de candidatar-se ao governo de São Paulo, à senatoria ou à permanência tranquila na Câmara dos Deputados, podendo ocupar o biênio 09/10 e, depois, 11/12, como permite a lei, por tratar-se de nova Legislatura. Acresce que Michel tem simpatias por José Serra, do outro lado. Melhor, para ele, manter um pássaro na mão do que dois voando.
Roberto Requião, rejeitado para entrar no camarote do presidente Lula em pleno domingo de Carnaval, aceitaria? Sérgio Cabral, com a reeleição garantida para o governo do Rio de Janeiro?
A verdade é que apesar das aparências o PMDB não quer conversa com Dilma Roussef, pelo menos enquanto não houver certeza de que ela poderá chegar ao segundo turno das eleições de 2010. Todos fazendo reverências e curvaturas à candidata, mas sequiosos de que o PT levante a tese da "chapa pura", ou seja, dois petistas integrados na disputa pela sucessão do presidente Lula.
Só que nem o PT pretende entregar-se assim aos azares da política. No partido, não se encontra um só companheiro disposto ao sacrifício. Nem Ricardo Berzoini, nem Tarso Genro, muito menos Marta Suplicy, para quem essa história de duas mulheres numa só candidatura acaba afrontando a cultura nacional e dando jacaré.
Ao menos por enquanto, ninguém arrisca o próprio futuro nas cores de dona Dilma, uma espécie de "duplo zero" na roleta assentada no pano verde. Nem Ciro Gomes, que já foi lembrado. Aguardam todos que a candidata decole, pois só se acoplarão a ela diante da certeza de poderem chegar pelo menos ao segundo turno.
Já que o presidente Lula impôs a candidata sem consultar seu próprio partido ou os aliados, ele que decifre o enigma. Que defina também o companheiro de chapa de sua escolha, pronto para assumir toda a responsabilidade pela aventura.
No mínimo, 14 pedidos
Anuncia o ministro José Múcio, da Coordenação Política, que o presidente Lula começará a receber, em separado, os presidentes dos 14 partidos da base governamental. Não haverá quem duvide de que, no mínimo, serão 14 pedidos. Ou mais. Até o presidente do PT, Ricardo Berzoini, não deixará de aproveitar a oportunidade. É provável que o presidente Lula convide para ficar a seu lado o próprio José Múcio e, também, a ministra Dilma Rousseff. A conta do apoio ao governo será renovada.
Mensaleiros em paz
Não terminará antes do fim do ano a oitiva de mais de cem testemunhas de defesa dos mensaleiros atualmente processados no Supremo Tribunal Federal. A tarefa caberá a juízes singulares, carecendo a mais alta corte nacional de justiça de instrumentos e mecanismos para a tarefa. Diversas testemunhas arroladas pelos quarenta réus moram no exterior, registrando-se entre todos um denominador comum: deporão acentuando jamais ter ouvido falar em mensalão. Melhor faria o relator, ministro Joaquim Barbosa, se tomasse os depoimentos como completados, desde já, procedendo então o julgamento no plenário, depois de suas conclusões. Na bolsa de apostas de Brasília, não há quem arrisque um centavo na condenação sequer de Delúbio Soares.
Reação do baixo clero
Nem será preciso realizar pesquisa de opinião. O chamado baixo clero, na Câmara, rejeitará o projeto que estabelece a votação em listas fechadas para deputado federal, estadual e vereador. Como os párocos constituem ampla maioria sobre os bispos e os cardeais, parece afastada a hipótese. A razão é simples: as listas partidárias seriam elaboradas pelos dirigentes, que sem dúvida se colocariam nos primeiros lugares. Poderiam concorrer tranquilamente, até sem fazer campanha, com a eleição garantida.
Da mesma forma não se espere a ressurreição da cláusula de barreira, já aprovada uma vez e revogada por apelo dos pequenos partidos. Salvar-se-ão as legendas históricas de poucos votos, ainda que o preço a pagar seja a permanência dos partidos de aluguel.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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