Edson Luiz
Um documento encontrado pela Polícia Federal (PF), durante as buscas e apreensões feitas pela Operação Satiagraha, mostra que o banqueiro Daniel Dantas, controlador do banco Opportunity, pode ter usado até 10 empresas para lavagem de dinheiro, principalmente nas áreas de agropecuária e turismo. O documento foi encaminhado ao Banco Central, encarregado de analisar as movimentações, principalmente de compra de gado no Pará. O dinheiro seria resultado de transações feitas no exterior pela instituição financeira de Dantas, suspeita de enviar irregularmente dinheiro de brasileiros para fundos de investimentos que só podem ser utilizados por investidores estrangeiros.
"É necessário ainda a finalização da análise do material de informática apreendido para que possamos fazer o desenho do processo de ocultação dos recursos pelos investigados", assinala o delegado Ricardo Andrade Saadi, no relatório parcial enviado à Justiça. "Porém, já é possível dizer que existem fortes indícios de que os recursos estariam sendo lavados principalmente através de compras de fazendas e de gado, mas também com a compra de terrenos para exploração de minério e possivelmente na exploração imobiliária, envolvendo o turismo", ressalta Saadi.
O delegado enviou à 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo uma espécie de cronograma encontrado nas buscas e apreensões, mostrando as quantidades de fazendas adquiridas e administradas pelo grupo ligado ao Opportunity. O esquema, segundo o relatório de Saadi, é gerido pela Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, sediada em São Paulo. Os nomes das firmas foram encaminhadas ao Bacen, que está realizando o levantamento das transações. O delegado também ressalta que a análise pode demorar, já que existem papéis sendo rastreados no exterior.
As primeiras avaliações feitas por Saadi praticamente confirmam as investigações do delegado Protógenes Queiroz durante a Operação Satiagraha. A ação policial, desencadeada no início de julho passado, resultou na prisão de Daniel Dantas, e causou uma crise institucional no governo, após a descoberta de que integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) participaram do caso. Protógenes pediu afastamento da apuração, depois de ser criticado por superiores que questionaram seus métodos de atuação. Saadi foi nomeado para a função do colega, mas sua linha de investigação tem sido a de apreciar os materiais apreendidos.
Com isso, Saadi evita procurar novas frentes, enquanto não se esgota o que já tem em mãos. Tanto é que outros dois delegados conduzem os inquéritos relacionados ao ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e ao investidor Naji Nahas, também presos durante a Operação Satiagraha. O ex-prefeito pode ser denunciado por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e peculato, enquanto Nahas responde pelos mesmo crimes, além da acusação de utilizar informações privilegiadas. Para o procurador da República em São Paulo, Rodrigo De Grandis, outras acusações podem ser imputadas aos dois e a Daniel Dantas. "É possível que surjam novos crimes durante as investigações", diz De Grandis, que atua no processo.
Relatório indica gosto por gado, exploração de minérios e imóveis
Trecho do parecer destaca início da vida empresarial do banqueiro
Ilegalidade começa com privatizações, diz PF
Em seu relatório parcial, o delegado Ricardo Saadi praticamente faz um retrospecto da vida do banqueiro Daniel Dantas. Começa relembrando que o início de sua carreira no mundo financeiro começou na Bahia, em 1990, pelas mãos do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, falecido no ano passado. A partir desse período, o objetivo de Dantas, segundo narra o delegado, foram as privatizações que se iniciariam pouco depois.
"Dantas vislumbrou a possibilidade de realizar bons negócios com as privatizações que seriam realizadas pelo governo federal", escreveu Saadi em seu relatório encaminhado à 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo. O banqueiro procurou diversos parceiros para entrar no negócio, fechando parceria com um grande banco internacional e com os fundos de pensão brasileiros. Além disso, juntaram-se a Dantas diversos empresários que realizavam investimentos com recursos não declarados à União.
Foi a partir dessas parcerias que, segundo o relatório do delegado, começaram as supostas ilegalidades que voltaram à tona com a Operação Satiagraha. Com base no que foi apurado pelo delegado Protógenes Queiroz, na primeira fase da ação da PF, Saadi decidiu fazer um cruzamento com as operações realizadas a partir de 2002 pelo Opportunity. As novas investigações indicam que Dantas fez aplicações no exterior de forma irregular. Para a defesa do banqueiro, todas as denúncias veiculadas recentemente já eram conhecidas. (E.L).
Os personagens da crise
Daniel Dantas
O banqueiro se tornou um personagem polêmico não apenas no setor financeiro, onde atua desde 1990, mas também no mundo político brasileiro. Contra Dantas há a suspeita de crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha e gestão fraudulenta de instituição bancária. É réu no processo de tentativa de suborno de um delegado que atuou na Operação Satiagraha.
Fausto De Sanctis
O destino de Dantas está nas mãos do juiz da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, que julgará até a próxima semana o processo de tentativa de corrupção. De Sanctis é acusado pela defesa do banqueiro de atuar de forma apaixonada na condução do caso. Tanto é que os advogados pediam a suspeição do magistrado, o que não foi acatado pela Justiça.
Protógenes Queiroz
Afastado das investigações da Operação Satiagraha, o delegado também tornou-se uma figura polêmica no cenário nacional, principalmente entre seus colegas da Polícia Federal. Protógenes foi o autor da prisão de Dantas, por duas vezes, mas pediu afastamento do caso. É investigado pela própria PF de vazamento de informações e podeser indiciado.
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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