Renan manobra para procrastinar os processos até 2008
Oposição articula apoio do PT e quer ‘julgamento rápido’
Em reunião reservada com o dissidente Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e com José Agripino Maia (RN), líder do DEM, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) assumiu um compromisso com a oposição: disse que conseguirá amealhar na bancada de 12 senadores do PT dez votos a favor da cassação do mandato de Renan Calheiros –o dele e o de outros nove petistas. Não mencionou os nomes.
O encontro ocorreu no início da tarde desta segunda-feira (8). Mercadante disse, segundo apurou o blog, que os votos do PT não seriam suficientes para passar na lâmina o mandato de Renan. Listou os quintas-colunas que identifica nas fileiras do PSDB e do DEM. E insinuou que as legendas oposicionistas precisariam deter os seus traidores. Agripino disse no encontro que o movimento do PT ajudaria a minar as adesões de tucanos e ‘demos’ à causa de Renan.
Na semana passada, Renan despachara um emissário para conversar com Mercadante. Não chegou a pedir o apoio do senador petista. Mas rogou a Mercadante, por meio do preposto, que pelo menos adotasse uma posição de neutralidade. Na reunião desta segunda, ficou claro que Mercadante, que se absteve no primeiro julgamento de Renan, não atendeu aos apelos do presidente do Senado. Há, porém, dúvidas quanto à capacidade de Mercadante de entregar o que prometeu. Reservadamente, Tião Viana (PT-AC), outro petista que Renan enxerga como adversário, disse a um interlocutor que não há na bancada uma dezena de votos favoráveis à cassação.
Alheio à movimentação dos adversários, Renan trama com seus aliados um plano para retardar ao máximo um novo julgamento no plenário do Senado. Há três representações pendentes de apreciação no Conselho de Ética. Nesta terça-feira (9), PSDB e DEM devem protocolar a quarta, relacionada ao plano de espionagem de opositores atribuído ao presidente do Senado.
A pedido do comandante, a soldadesca de Renan busca no regimento do Senado todas as brechas que podem ser utilizadas na tática de empurrar os processos com a barriga. Menciona-se o Natal como data mágica. Renan acha que, se não for julgado antes do recesso parlamentar do final do ano, sua ressurreição estará garantida. Em 2008, afirma, a crise terá arrefecido e a oposição não conseguirá cassá-lo.
Farejando a movimentação do adversário, as lideranças que se opõem à permanência de Renan se movem em sentido contrário. Vão intensificar a cobrança para que o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), um praça de Renan, indique o relator do processo em que o senador é acusado de comprar empresas de comunicação por meio de laranjas. É neste caso que a oposição deposita a maioria de suas fichas.
Escolhido o relator, PSDB, DEM, dissidentes do PMDB e, agora, também uma parte do petismo vão exigir de Quintanilha o compromisso de que todas as representações sejam levadas a voto no conselho em 30 dias. Deseja-se que cheguem ao plenário em meados de novembro. Até lá, pretende-se costurar um entendimento que assegure um resultado diferente da fatídica absolvição de 12 de setembro –40 votos pela manutenção do mandato de Renan, 35 a favor da cassação e seis abstenções. Daí a aproximação entre oposicionistas e petistas.
No meio da reunião que manteve com Jarbas e Mercadante, Agripino recebeu um telefonema de Renan. Ele jurou que não mandara investigar os negócios da empresa do filho de Agripino, Felipe Maia, com a Petrobras. Embora tenha sido enfático, Renan, a julgar pelos comentários feitos na reunião, não convenceu.
Saindo do encontro com Mercadante, Agripino e Jarbas se avistaram com Tasso Jereissati (CE), presidente do PSDB. Decidiu-se encomendar às assessorias jurídicas do PSDB e do DEM a nova representação contra Renan, a ser protocolada nesta terça. Tasso estava especialmente belicoso. Disse que Renan reduzira o Senado a um centro de “patifaria” e “canalhice”, expressões que repetiria aos jornalistas mais tarde.
Jarbas chegou a brincar: “Nesse tom, daqui a pouco você será levado ao Conselho de Ética. A irritação de Tasso não foi provocada apenas pela revelação de que Renan tentara espionar Marconi Perillo (PSDB-GO) e Demóstenes Torres (DEM-GO). O presidente do PSDB recebera a informação de que Renan encomendara ao diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, um levantamento do uso da verba de representação dos senadores (R$ 15 mil por mês). Soube que ele próprio era um dos alvos da pesquisa de Agaciel.
Em viagem à Espanha, Agaciel foi avisado de que estava na bica de virar alvo. Apressou-se em redigir uma nota de desmentido, que foi lida no plenário pelo vice-presidente do Senado, Tião Viana. A oposição não deu crédito às negaças de Agaciel. Busca funcionários do Senado que se disponham a depor contra o diretor-geral e Renan.
Escrito por Josias de Souza às 03h15
Fonte: Folha Online
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