Leandro Mazzini
Brasília. O Estado de Alagoas tem cerca de 1,8 milhão de eleitores em 102 cidades e, ano que vem, três políticos de expressão que vão medir forças para tentar voltar à cena nacional em 2010. A capital Maceió - com 600 mil eleitores - será o palco principal da batalha entre uma professora universitária, um presidente do Senado afastado e castigado por denúncias, e um ex-presidente da República que sofreu impeachment. Uma disputa que, se não tão acirrada como a da região Sudeste aos holofotes da mídia, surge como inédita pela peculiaridade dos personagens envolvidos. Em comum entre eles, o plano de usar a eleição municipal como um laboratório para saltos mais altos daqui a três anos.
E todos têm condições de alçar vôo. Não por acaso, o trio tem surpreendentes 1,5 milhão de votos no Estado - levando-se em conta os 815 mil que elegeram Renan Calheiros em 2002, e, do ano passado, os 180 mil de Heloísa Helena na disputa pela Presidência e os 550 mil que levaram Fernando Collor ao Senado.
Em situações distintas, Collor, o presidente da República que caiu em 1992 e hoje senador pelo PTB, a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL), surpresa na disputa pelo Planalto, e o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB), formam um trio que iniciou uma disputa pelo poder nos rincões de Alagoas. Longe de uma aliança e cada um a seu modo. Collor se licenciou do Senado para estruturar o partido para as disputas municipais. Será o cabo eleitoral na meta de conquistar pelo menos 35 prefeituras no Estado. Heloísa percorre o interior numa caravana a fim de mapear onde tem chances. Por enquanto, elabora o programa de governo que norteará seus candidatos. E Renan, para mostrar que não sucumbiu às denúncias, reuniu 40 prefeitos alagoanos semana passada a fim de esboçar uma força-tarefa em que se fortaleça para renovar o mandato de senador em 2010.
- Em março vamos decidir as estratégias das campanhas. Nossa bandeira será emprego e geração de renda - adianta Heloísa Helena.
A idéia da ex-senadora, presidente do PSOL, é lançar candidatos em todas as capitais. Um plano para se cacifar nacionalmente. O objetivo maior, dizem interlocutores, é tentar voltar ao Senado. Por isso tem aproveitado cada denúncia contra Renan para aparecer em Brasília. Heloísa desconversa, com discurso humilde sobre as pretensões.
- Peço a Deus saúde e força suficiente para continuar na militância política. Seria presunção demais pensar em 2010.
Renan não se dá por morto politicamente. Já decidiu renunciar ao cargo de presidente do Senado, num acordo com a base e oposição para salvar o mandato. Segundo pesquisas locais, Renanzinho, seu filho, aparece como o melhor prefeito do Estado, no comando da miúda Murici. Isso animou o senador a buscar mais apoio. Daí ter realizado o banquete para prefeitos de vários partidos na residência oficial do Senado. Também quer articular apoio do PMDB em candidaturas em cidades pólo de Alagoas. Na capital, será difícil. O prefeito Cícero Almeida (PP) tem boa aceitação, e sua vice é a filha do usineiro João Lyra - adversário figadal de Renan. O senador decidiu investir no interior para pavimentar sua reeleição ao Senado em 2010.
Já Fernando Collor, depois de uma retirada estratégica do Senado - para se afastar do caso Renan, de quem é amigo, mas não aliado - também investe no interior. Conseguiu fundar diretórios do PTB, seu novo partido, em 94 cidades. Ainda não prevê coligações. Collor pretende usar a força de seu nome para eleger seus prefeitos.
- O PTB se sustenta e o presidente Collor é um grande puxador de votos. Ele será nosso timoneiro - comenta Heraldo Firmino, braço direito de Collor no Estado.
O PTB tem 18 prefeitos e mais de 100 vereadores. Terá candidatos em 70 cidades. A autoconfiança de Collor, no entanto, esbarra no poderio dos coronéis alagoanos. Tanto que Firmino reconhece ser importante alianças com PRB, PTC e o PHS por lá. Em outras linhas, Collor não quer passar por nova e desagradável experiência de se ver isolado e enfraquecido como há 15 anos. Ainda mais em seu próprio reduto.
Fonte: JB Online
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