Bruno Tavares e Rodrigo Pereira
Antes mesmo da estréia de Tropa de Elite nos cinemas, a equipe de investigadores chefiada pelo delegado Pedro Luiz Pórrio usou a "técnica" do saco plástico na cabeça para tentar arrancar informações de traficantes em Campinas, segundo depoimento prestado ao Ministério Público Estadual (MPE). Ao contrário do filme, que retrata a forma como policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) obtém confissões, o grupo de Pórrio tinha um único objetivo, acreditam promotores: conseguir bens e dinheiro.
Foi o que ocorreu no dia 21 de setembro, depois que policiais de Osasco capturaram José Silas Pereira da Silva em Campinas. Suspeito de ter recebido de um traficante de drogas a quantia de R$ 1.800,00, ele foi abordado na entrada do bairro Xangrilá, onde mora com a família. Com medo de que os investigadores agredissem sua mulher, recém-operada, Silva levou a equipe até a casa de sua irmã. Mesmo sem mandado de busca e apreensão, os policiais reviraram a residência atrás de dinheiro e drogas. Encontraram apenas uma espingarda Simson, calibre 28. Irritados, os policiais iniciaram uma sessão de tortura para forçar Silva a revelar o endereço de sua casa.
"Havia um policial chamado Sandro, que eu não me recordo se me bateu", diz Silva em seu depoimento ao MPE, a que o Estado teve acesso. "Todos os demais me bateram." Silva diz ter apanhado muito - levou socos e chutes por todo o corpo. Diante das negativas do suspeito, os investigadores usaram um saco plástico para sufocá-lo, fazendo com que desmaiasse. Nesse momento, as agressões foram direcionadas à irmã dele. O espancamento, segundo o depoimento, ficou a cargo de Regina Santos, a única policial civil do grupo. Ao ver a irmã sendo torturada, Silva cedeu e revelou seu endereço aos policiais.
Chegando na residência, uma chácara no bairro Jardim Monte Belo, os investigadores suspeitaram de um eletricista. Forçaram o homem a cavar buracos pelo terreno, na tentativa de encontrar drogas que estivessem enterradas. Mais uma vez, nada foi encontrado.
Surpreendida pela chegada da Corregedoria de Campinas, a equipe de Pórrio resolveu levar Silva para a delegacia. "No caminho, eles mandaram que eu pegasse leve com eles e não falasse nada sobre as torturas", conta Silva. Para livrar a irmã de um eventual indiciamento, Silva acabou assumindo a posse da espingarda. "Estava com medo que eles prendessem minha família", declarou. "Como eles iriam me trazer para São Paulo, sabia que estava na mão deles.".
Depois de prestar esclarecimentos na Corregedoria em Campinas, Silva desceu de elevador com um "senhor forte e de bigode". "Ele disse que meu depoimento tinha sido muito bom", contou Silva. Por meio de reconhecimento fotográfico feito pelos promotores, ele soube que o "senhor forte e de bigode" era o delegado Pórrio. "Sou capaz de reconhecer todos os policiais que me agrediram", afirmou Silva.
Fonte: O Estado de S.Paulo
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