Bruno Boghossian
Folha
Depois do tropeço nas urnas há algumas semanas, Jair Bolsonaro tentou tirar uma casquinha da vitória de Donald Trump. O brasileiro fez propaganda da relação com o republicano, disse que a eleição americana é um “passo importantíssimo” para sua volta ao poder e especulou: “Tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse candidato”.
Bolsonaro não explicou o que Trump ganharia. Talvez o americano tenha interesse num governante que, no passado, esteve tão enamorado que ofereceu aos EUA mais benefícios do que receberia. Também é possível que o republicano queira apenas mais um bajulador. “Fui o último chefe de Estado a reconhecer a vitória do Biden, ele não esquece isso”, orgulha-se o brasileiro.
AVALIAÇÃO – Em entrevista à Folha, Bolsonaro fez uma avaliação ambiciosa do impacto da eleição americana sobre sua situação particular.
Deu voz à campanha que conecta a vitória do republicano à reversão de sua inelegibilidade e sugeriu que Alexandre de Moraes deveria liberá-lo para ir à posse de Trump: “Ele vai falar ‘não’ para o cara mais poderoso do mundo?”.
A mensagem tem poucas chances de ressoar no STF, mas o ex-presidente também está interessado em deixar um recado dentro da direita. Nas tensões internas desse campo, Bolsonaro recorre à pose de “amigo do rei” para tentar impressionar colegas e exibir prestígio num momento de questionamentos à sua liderança.
SUPERCONFIANTE – Bolsonaro precisa parecer um político influente e competitivo para que a direita (que inclui o centrão no Congresso) não se acostume com sua saída de cena e trabalhe para reabilitá-lo. Ostentar uma relação direta com o presidente americano passa por aí. Além disso, a vitória de um Trump praticamente sem freios abastece a ideia de que é possível eleger um radical novamente, reduzindo a urgência de fabricação de uma versão moderada.
Exagerando na confiança sobre o retorno às urnas, Bolsonaro chegou a citar a possibilidade de formar uma chapa com Michel Temer.
O emedebista negou os rumores (“achei esquisitíssimo”), disse que a eleição de Trump não muda nada e ainda afirmou que Moraes acertou ao condenar os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro.