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terça-feira, maio 31, 2022

A pandemia ignorada: 360 milhões de cristãos perseguidos mundo afora




"A pior perseguição de cristãos da história ocorreu" em 2021: 16 cristãos assassinados em média devido à sua fé, todo santo dia. Essa perseguição, que já era hedionda, saltou quase 70% nos últimos cinco anos, sem sinais de arrefecimento. 

Por Raymond Ibrahim *

"A pior perseguição de cristãos da história ocorreu" em 2021, 16 cristãos assassinados, em média, devido à sua fé, todo santo dia.

Os dados apresentados são da World Watch List-2022 (WWL-2022), recentemente publicado pela organização humanitária internacional Open Doors. O relatório divulgado todos os anos ordena os primeiros 50 países onde os cristãos sofrem as maiores perseguições por conta da sua fé. A WWL usa informações coletadas por equipes de campo e especialistas externos para quantificar e analisar a perseguição nos quatro cantos do planeta.

Segundo o WWL-2022 que vai de 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021:

    "mais de 360 milhões de cristãos sofrem altos níveis de perseguição e discriminação por conta da sua fé, um salto de 20 milhões de pessoas se comparado ao ano passado. O contingente representa um em cada sete cristãos do mundo inteiro. Aquele período registra os níveis mais altos de perseguição desde que a primeira lista foi publicada 29 anos atrás..."

Naquele mesmo período do relatório, 5.898 cristãos foram assassinados "devido à sua fé", representando uma escalada de 24% em relação a 2021 (quando "apenas" 4.761 cristãos foram assassinados). Além disso, "6.175 fiéis foram detidos sem julgamento, presos, sentenciados ou encarcerados" e 3.829 foram sequestrados.

Talvez ainda mais indicativo do ódio ao cristianismo, 5.110 igrejas e outros edifícios cristãos (escolas, mosteiros, etc...), foram atacados e profanados.

Transformando os números acima em médias diárias, as estatísticas acima mostram que todos os dias em todo o mundo, mais de 16 cristãos foram assassinados por conta da sua fé, 27 foram detidos ilegalmente e presos por autoridades não cristãs ou sequestrados por agentes não cristãos e 14 igrejas foram destruídas ou profanadas.

Pela primeira vez desde o início da publicação desses relatórios da WWL, o Afeganistão, que por anos a fio tem sido, via de regra, classificado como a segunda pior nação (atrás da Coreia do Norte), subiu para o 1º lugar,significando que "o Afeganistão é agora o lugar mais perigoso do mundo para se ser cristão." E não para por aí:

    *Cristãos do sexo masculino estão diante da morte quase certa se sua fé for descoberta.

    *Mulheres e meninas podem escapar da morte, mas poderão ter que se casar com jovens combatentes do Talibã que querem os "espólios de guerra". Depois que mulheres e meninas são estupradas, elas são traficadas.

    *O novo regime talibã teve acesso a gravações e relatórios que ajudaram a identificar cristãos. Eles foram detidos com assiduidade, com o propósito de identificar redes de cristãos, antes de serem assassinados.

    *Combatentes do Talibã ainda estão diligentemente rastreando cristãos a partir de dados da inteligência, às vezes indo de porta em porta para encontrá-los.

Dez nações, atrás do Afeganistão, receberam a mesma classificação de "perseguição extrema". Isso significa que esses lugares são apenas ligeiramente mais seguros para os cristãos. São eles: Coreia do Norte (2º), Somália (3º), Líbia (4º), Iêmen (5º), Eritreia (6º), Nigéria (7º), Paquistão (8º), Irã (9º), Índia (10º) e Arábia Saudita (11º). Nesses países, os cristãos enfrentam perseguições que vão desde assédio, espancamento, estupro, encarceramento ou assassinato apenas por ser identificado como cristão ou frequentar a igreja.

Vale lembrar que a "perseguição extrema" imposta aos cristãos em nove das 11 piores nações vem da opressão islâmica ou ocorre em nações de maioria muçulmana. Isso significa que 82% da mais ferrenha perseguição ocorre em nome do Islã.

Essa tendência afeta toda a lista: a perseguição pela qual os cristãos estão passando em 39 das 50 nações da lista também é fruto da "opressão islâmica" ou então ocorre em nações de maioria muçulmana. A esmagadora maioria dessas nações é governada por alguma vertente da Sharia (lei islâmica). Ela é posta em prática diretamente pelo governo ou pela sociedade ou, via de regra, por ambos, embora membros da família indignados em particular em relação a parentes que se converteram, tendam a ser mais zelosos quanto à sua aplicação.

Em uma seção intitulada "Encorajado: A 'Talibanização da África Ocidental e mais além", o relatório sugere que a tendência está indo de mal a pior:

    "a queda de Cabul botou mais lenha na fogueira na nova atmosfera de invulnerabilidade em outros grupos jihadistas mundo afora. Os grupos acreditam que não enfrentarão séria oposição do Ocidente quanto a seus propósitos expansionistas e com isso exploram nações com governos fracos ou corruptos... A África Subsaariana, lugar onde a violência contra os cristãos já é a mais alta, se viu diante de novas escaladas na violência jihadista, havendo temores de que uma parcela significativa da região enfrente desestabilizações..."

Em outra seção, o relatório analisa detalhadamente:

    "Na Nigéria e em Camarões, o Boko Haram continua espalhando o caos, o grupo Estado Islâmico está ativo na África Ocidental e em Moçambique e o Al Shabab controla grandes porções da Somália. Parece que não há nada que se possa fazer para impedir o avanço do extremismo islâmico.

    "Sabemos como os crentes veem a ideologia islâmica radical porque vimos como funciona no Iraque e na Síria. Quando o ISIS assumiu o controle de parcelas do Oriente Médio, os cristãos foram executados, sequestrados, atacados sexualmente e caçados. Onde quer que grupos como o Boko Haram e al Shabab estejam ativos, os perigos do gênero são inevitáveis. Quando o Talibã tomou o controle do Afeganistão, eles tentaram fazer de conta que eram moderados, mas não há nenhuma sinalização de que desta vez não será uma sentença de morte para o cristianismo."

Embora o Islã continue sendo responsável pela maior fatia em termos de perseguição, o nacionalismo religioso em nações não muçulmanas também a impulsiona hierarquicamente. Mianmar ocupa a 12º posição,

    "os convertidos ao cristianismo... são perseguidos pelas suas famílias e comunidades budistas, muçulmanas ou tribais porque deixaram sua antiga fé e, assim, se retiraram da vida comunitária. Comunidades cuja meta é continuar sendo 'somente budista' fazem da vida do convertido um inferno por não permitirem que ele utilize os recursos hídricos do bairro."

O recrudescimento do nacionalismo hindu lançou a Índia para a 10ª posição, entre as nações "perseguidoras extremas":

    "a perseguição aos cristãos na Índia se intensificou à medida que os extremistas hindus objetivam limpar o país de sua presença e influência. Os extremistas não consideram os cristãos indianos e outras minorias religiosas como verdadeiros indianos e acham que o país deveria ser purificado dos não hindus. Isto levou a uma segmentação sistêmica, muitas vezes violenta, de cristãos e demais minorias religiosas, incluindo o uso de redes sociais para disseminar desinformação e incitar o ódio. A pandemia da COVID-19 proporcionou uma nova arma aos perseguidores. Em algumas regiões, os cristãos foram deliberadamente deixados de lado na distribuição de ajuda do governo e foram até acusados de espalhar o vírus".

Inúmeras nações além desta, de um jeito ou de outro, exploraram a COVID-19 para discriminar ou perseguir cristãos. Por exemplo, "a COVID-19 deu às autoridades chinesas (17º posição) um motivo para fechar muitas igrejas e mantê-las fechadas".

Na mesma linha, no Catar, "a violência contra os cristãos aumentou acentuadamente porque muitas igrejas foram forçadas a permanecer fechadas devido às restrições da COVID-19. Além disso, "no Catar, sede da Copa do Mundo deste ano, os convertidos do Islã enfrentam em especial violência física, psicológica e (no caso das mulheres) sexual", — saltou 11 posições (agora 18º, de 29º no ano passado).

Em Bangladesh (29º), as autoridades locais informaram os muçulmanos convertidos ao cristianismo que, a exemplo de seus homólogos muçulmanos, buscavam ajuda governamental, "a retornarem ao Islã ou não receber nada". Conforme um bengali explicou: "vemos muitos aldeões e vizinhos receber ajuda do governo, mas nós, cristãos, não recebemos nenhuma ajuda".

Na República Centro Africana, que foi "duramente castigada pela pandemia da COVID-19... aos cristãos foram negados a ajuda do governo e instruídos a se converterem ao islamismo se quisessem comer".

Outra tendência que salta aos olhos diz respeito à escalada de pessoas desalojadas interna ou externamente, 84 milhões: "um contingente significativo destas é de cristãos que fogem da perseguição religiosa." A estes cristãos que acabam como refugiados em nações muçulmanas vizinhas "poderá ser negada ajuda humanitária e demais assistências básicas decretadas pelas autoridades".

E não para por aí:

    "cristãs que fogem de suas casas em busca de segurança relatam que os ataques sexuais são o principal motivo de perseguição e que há inúmeros relatos de mulheres e crianças submetidas a estupro, escravidão sexual e muito mais, tanto em acampamentos quanto em viagens em busca de segurança. A miséria e a insegurança agrava ainda mais a vulnerabilidade, envolvendo algumas na prostituição para poderem sobreviver. À medida que o jihadismo se espalha e desestabiliza nações, cresce a probabilidade deste êxodo cristão se multiplicar com mais intensidade."

Não obstante o relatório estar limitado às 50 nações que mais perseguem, ao que tudo indica, a perseguição generalizada está se expandindo em todo o mundo. Senão vejamos: embora a Coreia do Norte esteja no momento na 2ª posição, reflexo de como as coisas pioraram de fora a fora, o relatório explica que "o escore relativo à perseguição na Coreia do Norte, na realidade subiu (em comparação com o ano passado), não obstante a classificação tenha caído."

Paralelamente, os crimes de ódio contra o cristianismo na Europa Ocidental também estão batendo recordes. De acordo com um relatório de 16 de novembro de 2021 da Organização pela Segurança e Cooperação na Europa, pelo menos um quarto, sem dúvida incontestavelmente muito mais, de todos os crimes de ódio registrados na Europa em 2020 foram cometidos contra cristãos, representando um salto de 70% em relação a 2019. O cristianismo é, além disso, a religião mais visada nos crimes de ódio, sendo que o judaísmo está encostando na segunda posição. Há, a bem da verdade, significativamente menos judeus em todo o mundo (aproximadamente 15 milhões) do que cristãos (2,8 bilhões).

Muito embora os órgãos de imprensa raramente identifiquem quem está por trás desses crimes de ódio contra os cristãos, muitos ocorrem em meio a atos de vandalismo em igrejas, é revelador que as nações europeias que mais sofrem também são as de maiores populações muçulmanas da Europa, ou seja, a Alemanha (onde os crimes de ódio contra cristãos mais do que dobraram desde 2019) e a França (onde, segundo consta, duas igrejas são atacadas todos os dias, algumas, a exemplo do que acontece no mundo muçulmano, com fezes humanas).

Espelhando o quão ruim a perseguição chegou em outras partes do mundo, nenhuma nação da Europa Ocidental entrou na lista das 50 piores.

Ao fim e ao cabo, talvez a tendência mais desconcertante seja a que indique que o número de cristãos perseguidos continue aumentando anualmente. Conforme foi visto, de acordo com as estatísticas mais recentes, 360 milhões de cristãos ao redor do mundo enfrentam "altos níveis de perseguição e discriminação". Isto representa um aumento de 6% em relação a 2021, quando 340 milhões de cristãos sofreram o mesmo nível de perseguição e este número representa um aumento de 31% em relação a 2020, quando 260 milhões de cristãos experimentaram o mesmo nível de perseguição e este por sua vez representa um aumento de 6% em relação a 2019, quando 245 milhões sofreram o mesmo nível de perseguição e este número representa um aumento de 14% em relação a 2018, quando 215 milhões passaram pela mesma aflição.

Em suma, a perseguição aos cristãos, que já era hedionda, saltou quase 70% nos últimos cinco anos, sem sinais de arrefecimento.

Quanto tempo irá passar até que essa tendência aparentemente irreversível chegue às nações atualmente festejadas por sua liberdade religiosa?

*Raymond Ibrahim, autor do livro Sword and Scimitar, Fourteen Centuries of War between Islam and the West, é Ilustre Senior Fellow do Gatestone Institute, Shillman Fellow do David Horowitz Freedom Center e Judith Rosen Friedman Fellow do Middle East Foru

Gatestone Institute

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