Publicado em 29 de maio de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Lendo-se com atenção os resultados da pesquisa do Datafolha, que apontou 48% para Lula da Silva contra 27% de Jair Bolsonaro,além da reportagem de Joelmir Tavares e Carolina Linhares, edição da Folha de S. Paulo de sexta-feira, e acompanhando os debates sobre as tendências, no programa Em Pauta, na GloboNews, chega-se à conclusão de que a diferença é reflexo tanto do comportamento pessoal do presidente da República, quanto da política econômica traçada por Paulo Guedes e seguida por Jair Bolsonaro.
A política traçada por Guedes é simplesmente um desastre para o país, de modo geral e para o projeto de reeleição de Bolsonaro. Não é possível um governo esperar vencer nas urnas democráticas com uma política econômica que se choca frontalmente com o plano social.
PREÇOS LIBERADOS – Os salários estão estacionados, como digo sempre, e repito mais uma vez. Mas os preços estão liberados, sobem rapidamente à vontade em vários setores e ao mesmo tempo. Uma série de fatores que refletem-se no comportamento dos eleitores e eleitoras.
Além disso, o comportamento do presidente da República acarreta uma reprovação superior a 50%, sendo que, no caso das eleitoras, a reação contrária atinge 60% do eleitorado feminino. Paulo Guedes criou uma névoa de fantasia no Planalto e no próprio país. Basta ver o que ele disse sobre a economia brasileira no Fórum de Davos, na Suíça.
Guedes começou com a Reforma da Previdência, ampliando o tempo de idade mínima para homens e mulheres se aposentarem. Os que se encontravam à véspera da aposentadoria, como devem se sentir, hoje?
REAJUSTE – Agora, Guedes quer destinar 5% de reajuste ao funcionalismo público. Mas a inflação de 2021, segundo o IBGE, foi de 10,2%. Portanto, os 5% não são reposição, mas a confirmação da queda do poder de consumo. O presidente Jair Bolsonaro, entretanto, dá a impressão que acredita na fantasia de Guedes.
A Folha de S. Paulo, também na edição de sexta-feira, publicou uma longa reportagem de Luciana Coelho, enviada da FSP a Davos, reproduzindo os pontos essenciais de uma entrevista que Paulo Guedes concedeu aos jornalistas no encerramento do fórum internacional, na tarde de quinta-feira.
“A democracia é um algoritmo de decisão política descentralizada. Por isso, ela faz barulho. O presidente fala uma coisa, o Supremo Tribunal Federal fala outra, O Congresso mais uma outras. Mas esse barulho é normal em uma democracia”, frisou.
DESCONEXO – Paulo Guedes participou de um almoço oferecido pelo jornal Washington Post, e afirmou que os participantes do Fórum passaram a respeitar o Brasil e a confiar tanto na democracia brasileira quanto na capacidade de realizar reformas. Entretanto, acrescentou, “atrapalham essas reformas”. Como se observa, Guedes é desconexo.
Para se ter uma ideia do peso negativo de Paulo Guedes na administração brasileira, basta lembrar que ao assumir a pasta da Economia no início de 2019, ele era ao mesmo tempo ministro da Fazenda, do Planejamento, do Trabalho, da Previdência Social, além de coordenador da equipe voltada para a privatização de empresas como é o caso da Eletrobras.
Não há ninguém no mundo capaz de exercer essas cinco administrações ao mesmo tempo, já que não terá tempo de lidar com essa constelação de assuntos. Em segundo lugar, Guedes é voltado para a a área financeira, mas com pouca afinidade com a área econômica vinculada à produção de bens no país. Paulo Guedes, acrescento, constitui o segundo maior adversário eleitoral do presidente da República, já que o primeiro é o próprio Bolsonaro que o mantém no governo.
URNAS ELETRÔNICAS – Na edição deste sábado, da Folha de S. Paulo, Carolina Linhares e Joelmir Tavares focalizam dados sobre a reação popular em relação às urnas eletrônicas, que também integra o levantamento das intenções de voto dos dois principais candidatos. Aliás, dos dois únicos candidatos, já que Ciro Gomes é o terceiro longe dos dois primeiros, e os demais aparecem com preferências mínimas na escala de apenas 2% das intenções de votos, incluindo Simone Tebet.
Quanto às urnas eletrônicas, 73% afirmaram confiar nelas, enquanto 24% nao confiam. Houve um recuo nessa confiança, pois no mês de março confiavam nas urnas eletrônicas, usadas a partir das eleições de 1996, 8″%.
OFENSIVA – A diferença para menos é interpretada na matéria como uma consequência da ofensiva de Bolsonaro levantando seguidamente desconfiança em relação à possibilidade (não comprovada) de permitirem a ocorrência de fraudes.
O posicionamento do chefe do Executivo é contraditório, sobretudo porque até hoje não foi apresentada uma denúncia sequer que tenha sido comprovada na prática. E de 1996 a 2022, lá se vão 26 anos.
AÇÕES DA ELETROBRAS – Ampla reportagem de Bruno Rosa, Renan Seti, João Sorima Neto e Geralda Doca, O Globo de ontem, focaliza com destaque o projeto que o governo Bolsonaro pretende colocar em prática para privatizar o comando administrativo da Eletrobras ainda no mês de junho.
O ministro Paulo Guedes pretende resolver logo a questão porque o mercado teme que um governo Lula da Silva possa sustar o processo. A matéria publicada no O Globo revela que grandes fundos de investimentos estrangeiros já reservaram recursos para a compra das ações. A operação pode movimentar R$ 35 bilhões caso – ponto obscuro do projeto – apresentem um lote adicional de papéis à oferta básica.
O Ministério da Economia, mais uma vez, não está sendo claro. O lote básico poderá corresponder a R$ 30,7 bilhões e há um dispositivo que permite o uso de recursos do FGTS. Os recursos do FGTS, depositados na Caixa Econômica Federal, não são recursos financeiros públicos; eles pertencem a milhões de trabalhadores brasileiros, incluindo servidores das estatais (Furnas, entre elas). Logo, as aplicações só podem ser feitas pelos titulares das contas. Mas, por outro lado, o governo quer limitar as retiradas do FGTS na escala de R$ 6 bilhões.
VENDA DE TERRENOS – No O Globo de sábado, Rafael Ribas publica matéria destacando que Furnas, que no final do ano passado se mudou para o Centro do Rio, pretende vender em leilão público uma área de 10 mil metros quadrados que possui. Furnas pretende arrecadar R$ 109 milhões e o lance mínimo é de R$ 16,9 milhões.
O leilão nao inclui – posso informar – os edifícios que sediavam a principal empresa do sistema Eletrobras. Esses edifícios pertencem, isso sim, à Fundação Real Grandeza, fundo de pensão e de aposentadoria complementar dos servidores efetivos. Por coincidência, a Fundação Real Grandeza, presidida pelo engenheiro Sérgio Wilson Fontes, tem o mesmo nome da rua onde está a fachada principal da empresa, que foi grande no passado.
Em relação aos edifícios, que são são três com dezoito andares cada um, mais um prédios de três ou quatro andares entre as ruas Real Grandeza e São João Batista, Furnas pagava aluguel à Fundação pela utilização dos imóveis. Deixou de pagar, encolhendo de tamanho substancialmente, instalando-se no Centro da Cidade, na Avenida Graça Aranha. Deixo os esclarecimentos apenas para evitar que uma empresa compradora possa supor que R$ 109 milhões incluíssem os terrenos aos quais me referi e também aos edifícios.