Se há uma classe de pessoas que fazem da mentira, mais do que um hábito, uma arte, são naturalmente os políticos - e, entre eles, os mais exímios tapeadores são, obviamente, os mais cínicos, que não enrubescem quando passam seus contos-do-vigário e assim evitam, ou adiam, o descrédito. No fundo, assim como se diz que a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude, a mentira bem contada é uma forma de respeitar a inteligência alheia. Pois foi rigorosamente o contrário disso, ou seja, um escárnio à inteligência, uma zombaria de quem as ouvem ou lêem, as patranhas proferidas pelo presidente Lula ao ser indagado pelos jornalistas sobre a fragorosa derrota que sofrera na véspera, quarta-feira, no Senado. Por 46 votos a 22, a Casa derrubou a medida provisória que havia criado a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, cujo titular era o controvertido acadêmico Roberto Mangabeira Unger. Treze dos 16 senadores peemedebistas presentes (de uma bancada de 19) votaram contra o governo do qual o seu partido faz parte, mas não tanto quanto gostariam os que, por isso mesmo, resolveram aplicar um corretivo no presidente - ou “uma rasteira”, na expressão do coordenador político do Planalto, ministro Walfrido dos Mares Guia. A cobrança por mais cargos e mais verbas, a eterna reivindicação dos fisiológicos que compõem a grande maioria da coalizão lulista, foi uma das causas da traição. (Na Câmara, o PMDB demandou mundos e fundos para aprovar a prorrogação da CPMF. Conseguiu o suficiente para se manter fiel - por enquanto.) O outro motivo do golpe foi o descontentamento com a tendência de setores petistas de se distanciar do presidente do Senado, Renan Calheiros, por ele não ter retribuído os votos que o salvaram da cassação, afastando-se do cargo.Tudo isso é de pleno conhecimento do governo, dos políticos, dos jornalistas e da parcela mais bem informada da população, que ainda tem estômago para acompanhar o que se passa em Brasília. Se, apesar disso, se rememora aqui o episódio, é para mostrar por que Lula superou todas as façanhas do barão de Münchhausen na sua reação pública àquilo que, na intimidade palaciana, ele classificou de “deslealdade”. Abordado pelos repórteres, à saída de um evento no Itamaraty, ele sacou da mais velha das platitudes políticas - aquela que a imprensa registra invariavelmente associada ao verbo desconversar. “A democracia é isso”, desconversou o presidente. “Você ganha uma, perde outra.” Naturalmente, os jornalistas insistiram, e ele, entre calar-se e confeccionar uma desculpa palatável, preferiu assumir sua conhecida pose de professor, e, com a cara mais séria do mundo, tentar passar o “conto da ética petista”, que contém três patranhas. Uma, que o PMDB “não pediu nada”, como se os peemedebistas não vivessem explicitando os seus pedidos, com a maior naturalidade, ao primeiro repórter interessado em conhecê-los. Outra, digna do Livro Guinness, merece transcrição integral. “Eu não barganho. Eu faço acordo programático, acordo com o partido, mas não é possível você ficar barganhando cada votação que vai para o Congresso Nacional.” Barganha, sim. A cada votação. E já cansou de dizer que sem isso ninguém governa este país - o que não é uma mentira. No seu caso, a barganha suprema entrou para a história com o aumentativo mensalão. A terceira patranha presidencial foi a de que ele não teme que o contravapor do Senado interfira na votação da CPMF na Casa (depois da deliberação em segundo turno, na Câmara, marcada para o dia 9 de outubro). Teme - e como! Porque o governo não tem, fechados, os 49 votos do quórum qualificado necessário para fazer passar a emenda que prorroga o tributo. Daí o assédio aos senadores do DEM propensos a se bandear para uma sigla governista. E daí a preocupação, há tempos perceptível no Planalto, com os efeitos da crise, em que os processos contra Renan Calheiros mergulharam o Senado, sobre a tramitação da CPMF. Naturalmente, o senador alagoano tem tentado capitalizar o resultado desastroso para o governo como prova de que ainda dá as cartas na Casa que insiste em presidir. Mas, se os senadores peemedebistas tivessem recebido a sua parte em cargos e emendas liberadas, dificilmente se rebelariam só para dar uma força ao correligionário ameaçado.
Fonte: O Estado de Sào Paulo
Certificado Lei geral de proteção de dados
Em destaque
PL confirma apoio a Davi Alcolumbre no Senado, e a anistia está avançando
Publicado em 31 de outubro de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Ana Carolina Curvello Gazeta do Povo O líder da o...
Mais visitadas
-
, "Atenção fiscais de partidos e juridico estou recebendo um comunicado de alerta pedindo que faça uma matéria para averiguação de su...
-
Pedido de Impeachment de Deri do Paloma: Um Silêncio que Clama por Justiça Na Câmara de Vereadores de Jeremoabo, um processo vital que dev...
-
O comício do candidato a prefeito, sobrinho do atual gestor Deri do Paloma, mergulhou Jeremoabo em uma verdadeira desordem. A cidade, já...
-
. O prefeito Deri do Paloma tem criticado a inelegibilidade dos opositores, mas há suspeitas de fraude nas eleições de 2024 em Jeremoabo. A ...
-
Para ir direto no assunto inicie o vídeo e 1:13 minutos O "calvário" do prefeito Deri do Paloma começa a se desenrolar no Tribu...
-
O governo de Deri do Paloma em Jeremoabo tem se destacado por alegações infundadas e acusações direcionadas à ex-prefeita Anabel, especial...
-
A recente decisão judicial que suspendeu o concurso público em Juazeiro, no Sertão do São Francisco, traz à tona uma série de questões que...
-
Veja que petulância esse áudio de Tistinha. Tomando a liberdade de determinar o que a polícia tem que fazer. Isso é PARA INTIMIDAR nosso p...
-
O texto traz uma denúncia de hostilidade contra a Igreja Católica em Jeremoabo, destacando um episódio específico em que um indivíduo conhec...