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terça-feira, janeiro 30, 2024

Estudo sugere que forma muito rara de Alzheimer pode ser transmissível




Estudo sugere que pode existir uma forma rara de o Alzheimer ser adquirido clinicamente

Descoberta foi feita em pacientes que passaram por tratamento hormonal específico na infância, entre 1959 e 1985

Por Gabriela Maraccini

Cinco pessoas que receberam um tratamento com hormônio de crescimento derivado da hipófise – uma glândula localizada no cérebro – proveniente de cadáveres, desenvolveram problemas de cognição que preenchiam os critérios para o diagnóstico de Alzheimer. Os achados são de um estudo publicado na Nature Medicine nesta segunda (29). Os pacientes receberam o tratamento durante a infância, entre os anos de 1959 e 1985.

Apesar de o resultado ser raro, já que esse tratamento hormonal é proibido atualmente, a descoberta sugere que o Alzheimer pode ser adquirido clinicamente, por meio iatrogênico (ou seja, como consequência ou efeito colateral de algum procedimento médico).  No entanto, não há evidências de que a doença pode ser transmitida em outras situações.

Para entender os resultados desse estudo, é preciso voltar alguns anos: entre 1959 e 1985, cerca de 1.848 pacientes foram tratados com hormônio de crescimento humano extraído de glândulas pituitárias de cadáveres (c-hGH), no Reino Unido. Essa prática foi proibida mundialmente depois que algumas dessas pessoas receberam hormônio contaminado por príon – um tipo de agente infeccioso composto por proteínas – e desenvolveram, posteriormente, a doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ).

Pesquisas anteriores, realizadas após a morte dos pacientes, mostraram que algumas dessas pessoas contaminadas tinham uma grande quantidade da proteína beta-amiloide no cérebro, um biomarcador para o Alzheimer. Porém, ainda não havia evidências de que essas pessoas apresentavam sintomas da doença antes de sua morte, já que teriam sido mascaradas pelos sintomas da DCJ.

Quais foram os resultados do estudo?

O estudo recente analisou oito pessoas do Reino Unido que receberam c-hGH na infância, mas que não desenvolveram DCJ. Cinco desses pacientes apresentavam sintomas de demência de início precoce (entre 38 e 55 anos de idade) e que preenchiam os critérios de diagnóstico para doença de Alzheimer. Era o caso de comprometimento progressivo da cognição, grave o suficiente para afetar suas atividades cotidianas.

Entre as três pessoas restantes que foram analisadas pelo estudo atual, uma apresentava sintomas leves de comprometimento cognitivo, outra apresentava apenas sintomas cognitivos subjetivos – que não se enquadravam no critério para Alzheimer – e a terceira era assintomática.

A análise de biomarcadores, como a presenta de proteínas beta-amiloide no cérebro, apoiaram o diagnóstico de Alzheimer em duas das pessoas com sintomas da doença e formaram suspeitas em outro paciente. Também foram analisadas amostras de tecido cerebral em dois pacientes que morreram durante o período do atual estudo – um desses pacientes também foi diagnosticado com Alzheimer.

Por fim, testes genéticos para genes causadores da doença apresentaram resultados negativos nos cinco pacientes para os quais as amostras estavam disponíveis.

Segundo os autores, esses resultados sugerem que o Alzheimer é potencialmente transmissível e propõem que, tal como a DCJ, a patologia pode ter formas hereditárias, esporádicas e raras de ser adquirida. Porém, os pesquisadores indicam que a transmissão iatrogênica é rara, principalmente porque o tratamento hormonal com c-hGH não é mais utilizado no mundo e os pacientes descritos no estudo desenvolveram os sintomas de Alzheimer depois de serem expostos ao hormônio repetidas vezes ao longo de vários anos.

CNN

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