Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

quinta-feira, novembro 22, 2007

"Ipea quer pensar o futuro"

Liliana Lavoratti


São Paulo. Reforçar o "a" de aplicada e abrir o debate em torno de uma agenda de trabalho voltada ao desenvolvimento do país no médio e longo prazos é a missão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma o presidente do órgão, Márcio Pochmann.
- Temos de recolocar o Ipea em seu leito natural, que é oferecer subsídios para o planejamento do futuro do Brasil - enfatiza o economista, acusado pela oposição, principalmente o PSDB, de promover "expurgo" e "caça às bruxas" ao afastar quatro pesquisadores identificados com a política econômica liberal que norteou os dois mandatos do governo Fernando Henrique Cardoso. Política, aliás, que foi seguida pelo Banco Central no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pochmann rejeita a idéia de que a troca no comando do Ipea possa se transformar em foco de crítica à condução macroeconômica do governo, especialmente a política de juros altos praticada pelo Banco Central. As mudanças no instituto aconteceram depois que o Ipea foi transferido do Ministério do Planejamento para as mãos do ministro extraordinário de Ações de Longo Prazo, Mangabeira Unger, indicado pelo vice-presidente da República, José Alencar, contumaz crítico da Selic elevada.
A seguir os principais pontos da entrevista de Pochmann.
Qual o papel do Ipea daqui para frente?-Estamos redefinindo o papel do Ipea e isso não é por vontade individual, é uma exigência que vem justamente da necessidade do país restabelecer o diálogo com o médio e longo prazos. O Ipea é uma excelente instituição de pesquisa, mas que precisa considerar agora cada vez mais a cultura do planejamento, algo que o órgão abandonou praticamente desde a década de 80 para se concentrar nas visões, avaliações, posições de curto prazo.
Essa remontagem exigiu o afastamento dos quatro pesquisadores?- Os eventos sobre os quais nós temos sido questionados não estão relacionados a essa missão do Ipea, são meras decisões administrativas tomadas rotineiramente. Em vez de Fabio Giambiagi, Regis Bonelli, Otávio Tourinho e Gervásio Rezende, poderiam ser outros nomes. A todo momento tem gente que entra e sai do Ipea por força de instrumentos legais. Eu ou qualquer outra pessoa no exercício dessa função não pode desconsiderar as regras da administração pública.
O senhor está dizendo que o afastamento dos pesquisadores é questão de rotina?- Existem instrumentos legais, que podem ser um convênio, contrato, cargo de confiança, contratação por concurso. Os convênios têm objeto e prazo. No caso do convênio do BNDES, que se encerra em dezembro e envolvia Fábio Giambiagi e Otávio Tourinho, o objeto era avaliar o papel do banco no desenvolvimento. Quem define os nomes do banco para fazer parte da atividade conveniada é o BNDES e não o Ipea. Depois de reconstituído o convênio, se o banco entender que os dois pesquisadores devem voltar, eu não tenho capacidade de expurgar ou não.
Existem outros aposentados na mesma situação dos dois que foram afastados?- A legislação é clara. Quando requisita aposentadoria, o servidor público só pode retornar por meio de novo concurso, cargo de confiança ou convênio. Lamentavelmente isso não existia no caso dos dois colegas - Regis Bonelli e Gervasio Rezende. Já decidimos criar um instrumento legal para o Ipea ter pesquisadores seniors.
Então é mera coincidência o fato de os quatro afastados seguirem uma orientação mais ortodoxa? - Desde que assumi este cargo, uma das tarefas principais é estimular e mobilizar a inteligência nacional. Todos os diretores estão envolvidos na construção de um plano de trabalho a partir das ações setoriais de cada diretoria e considerando os pontos fortes do Ipea. Tudo isso com um olhar para o futuro do país. Até o final do ano teremos uma agenda preliminar de investigações, de cooperações e ações do Ipea para oferecer ao debate, inicialmente para o conselho de orientação, que, aliás, não existia e foi criado agora. Este conselho é formado por pensadores das mais variadas orientações políticas e econômicas, são pessoas que pensam o desenvolvimento do país sob os mais diversos matizes ideológicos, acadêmicos, históricos. O Ipea está vivendo um momento singular em sua história, praticamente todas as visões econômicas e de sociedade estão representadas na instituição, inclusive mais ortodoxas que as defendidas por Giambiagi.
A que o senhor atribui a acusação de autoritarismo e tentativa de implantar no Ipea uma visão única? - Quem conhece minha trajetória de mais duas décadas de participação no debate e pesquisa sabe que gosto de polêmica. E debate necessita de visões distintas, seria contraditório dirigir uma instituição que está no centro do debate e estabelecer uma orientação única. Isso não fez e não fará parte da minha história.
Há risco de o Ipea se transformar em foco de crítica à política econômica do governo, especialmente no que diz respeito aos juros altos?- O Ipea não é liberal nem desenvolvimentista, é uma instituição de pesquisa. Temos uma missão a cumprir, do presidente ao porteiro, vivemos de recursos públicos para oferecer à sociedade uma agenda de debate que coloque diálogo com o futuro, mostre as possibilidades do Brasil daqui duas décadas. E não se ater à conjuntura, se o juro está alto ou baixo. Não vamos acabar o debate conjuntural, isso alimenta a perspectiva do futuro. Produzir análises é para os bancos, Banco Central, o Ipea não vai se furtar disso, mas nossa missão é o médio e o longo prazo. Criticar a política monetária não é a questão fundamental , nosso mandato é o médio e longo prazo, queremos retornar o Ipea a seu leito natural. É esse o nosso papel e não confrontar a política macroeconômica a favor de "a" opu "b".
Na sua opinião, a produção de conhecimento do Ipea obedecia a uma única orientação?- Participo da idéia de que, como instituição de pesquisa econômica e aplicada, é necessário reforçar o "a" do aplicada do Ipea. Temos de oferecer alternativas para quem toma decisões, se serão levadas em conta ou não é outro problema, nós não executamos políticas públicas.
Fonte: JB Online

Em destaque

Michelle viaja e Bolsonaro espera que Trump reverta sua inelegibilidade

Publicado em 18 de janeiro de 2025 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Com lágrimas nos olhos, Bolsonaro chega ao aeropo...

Mais visitadas