terça-feira, outubro 21, 2025

O ouro da corrupção é ameaça global, com a erosão da confiança pública


Proteger o que é público é um compromisso de todos

Pedro do Coutto

Vivemos um tempo em que a corrupção deixou de ser um fenômeno restrito a determinados países ou governos e se transformou em uma ameaça global, infiltrando-se tanto em administrações públicas quanto em instituições de prestígio.

O episódio narrado sobre o roubo de joias no Museu do Louvre, em Paris, serve como uma poderosa metáfora desse cenário. O fato de ladrões terem conseguido penetrar em um dos espaços mais vigiados e simbólicos do mundo — supostamente com ajuda interna — revela que nenhuma estrutura, por mais sólida que pareça, está imune quando a ética e a integridade se fragilizam por dentro.

FERRUGEM SILENCIOSA – A corrupção é isso: um roubo que não vem de fora, mas que nasce no interior das próprias instituições, corroendo-as como ferrugem silenciosa. No Brasil, a mesma lógica se aplica a órgãos públicos que deveriam ser sinônimo de confiança e proteção social, como o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Recentemente, investigações da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal revelaram um esquema bilionário de fraudes, com descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas. Estima-se que cerca de R$ 6,3 bilhões tenham sido desviados entre 2019 e 2024, em um esquema que envolvia associações e sindicatos falsamente conveniados.

Beneficiários, muitos deles idosos e vulneráveis, descobriram que parte de seus rendimentos havia sido retida sem autorização. O caso escancara um problema estrutural: o enfraquecimento dos mecanismos de controle interno e a complacência com práticas ilícitas que se tornaram quase rotina na administração pública.

CONFIANÇA SOCIAL – A corrupção, quando se alastra, não destrói apenas os cofres, mas a confiança social. Ela mina a credibilidade do Estado e fragiliza o pacto democrático. Quando um aposentado descobre que foi lesado por quem deveria protegê-lo, o dano é mais profundo do que o financeiro: é simbólico, é moral.

A sensação de impotência e de injustiça amplia o distanciamento entre o cidadão e o poder público, alimentando o descrédito nas instituições e abrindo espaço para discursos populistas que exploram o ressentimento social. Esse ciclo é perigoso porque transforma o cansaço moral em combustível político.

A história mostra que, onde há fragilidade institucional, a corrupção se instala com mais facilidade. O Brasil, herdeiro de uma cultura patrimonialista, ainda mistura o público e o privado em sua lógica de funcionamento. O velho hábito do “toma lá, dá cá” continua presente nas relações entre o Executivo e o Congresso, e os escândalos se repetem como se fossem capítulos de uma série sem fim.

PREJUÍZOS E DÉFICITS – A crise nos Correios, que vem acumulando prejuízos bilionários, e os déficits em fundos de pensão, como o Postalis, são sintomas de um mesmo mal: a captura do Estado por interesses particulares. Soma-se a isso a queda nas receitas, o avanço da tecnologia que reduziu a demanda por serviços tradicionais e a má gestão de recursos aplicados de forma temerária na bolsa de valores. O resultado é um quadro de instabilidade que atinge não apenas o erário, mas também a confiança do trabalhador brasileiro.

Enquanto isso, no cenário internacional, o mundo também enfrenta suas próprias crises de moralidade e poder. O conflito em Gaza, reacendido por ataques israelenses que deixaram dezenas de mortos, mostra que até mesmo os compromissos de trégua podem ser rompidos por interesses políticos.

ESTRATÉGIA –  O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, pressionado internamente, parece prolongar o conflito como estratégia de sobrevivência política. Do outro lado, os Estados Unidos observam com cautela, enquanto Donald Trump tenta equilibrar seu papel de mediador com a necessidade de mostrar força.

A diplomacia se mistura ao cálculo eleitoral, e a paz vira um ativo político. Nesse tabuleiro global, o roubo de joias em Paris, o desvio de verbas no INSS e as bombas lançadas em Gaza parecem eventos distintos, mas partilham um mesmo denominador comum: a degradação da ética pública e da responsabilidade moral no exercício do poder.

É inevitável, portanto, reconhecer que a corrupção, seja em forma de fraude administrativa ou de guerra política, nasce da mesma semente — a do egoísmo humano que transforma o bem comum em bem próprio. Combater esse mal exige mais do que punições exemplares: requer uma mudança cultural, uma educação ética que valorize o serviço público como vocação, não como oportunidade.

VOZ E MEIOS – O fortalecimento das instituições de controle, a transparência ativa e o empoderamento da sociedade civil são caminhos indispensáveis. O cidadão precisa voltar a ter voz e meios de fiscalizar o Estado. É inaceitável que alguém trabalhe a vida inteira e veja parte de sua aposentadoria ser desviada por esquemas obscuros, enquanto os responsáveis permanecem impunes.

O Brasil tem leis modernas, como a Lei Anticorrupção, mas ainda peca na aplicação e na fiscalização. É preciso que a justiça funcione sem seletividade, que os agentes públicos e privados envolvidos em desvios sejam punidos com rigor e que as estruturas de poder deixem de proteger seus próprios integrantes.

ZELO PELO COLETIVO – Só assim será possível reconstruir o elo de confiança entre governo e sociedade. A corrupção, no fundo, é o espelho da nossa incapacidade de zelar pelo coletivo. Quando um museu perde suas joias, um aposentado perde seu benefício e um país perde sua integridade, o que se rouba não é apenas o ouro ou o dinheiro — é a dignidade de um povo.

O desafio que se impõe ao Brasil, e ao mundo, é o de reerguer as muralhas da confiança. Proteger o que é público não é apenas uma tarefa do Estado, mas um compromisso de todos. A honestidade precisa voltar a ser um valor inegociável, e não uma exceção admirável. É tempo de compreender que o verdadeiro tesouro de uma nação não está nas joias do Louvre, nem nos cofres do INSS, mas na solidez moral de suas instituições e na ética de seus cidadãos.

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