
Charge do Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)
Pedro do Coutto
O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou ironizar o movimento realizado no domingo passado em São Paulo contra a anistia dos depredadores de Brasília, e que reuniu um número pequeno de participantes. Organizado por centrais sindicais e movimentos sociais da esquerda, o ato reuniu cerca de 6,6 mil pessoas, segundo o grupo de pesquisa Monitor do Debate Político, da Universidade de São Paulo (USP), e a ONG More in Common.
Bolsonaro compartilhou um vídeo em que poucas pessoas estavam reunidas na praça Oswaldo Cruz, local de concentração do ato, e disse que “a manifestação do PT contra a anistia aos presos políticos do 8 de janeiro tinha 5 bilhões de pessoas”. Na mesma linha do pai, o senador Flávio Bolsonaro repostou um post feito por um apoiador que zombava do ato ao compartilhar uma foto de outro momento e dizia que o público calculado havia sido de um milhão de pessoas”.
8 DE JANEIRO – Mas, essa não é a questão essencial. O fato é que, no fundo, Bolsonaro defende o que aconteceu no dia 8 de janeiro, quando vândalos atacaram o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto. Os filmes feitos são de conhecimento de todos e se torna incrível alguém direta ou indiretamente apoiar uma série de crimes com intuito de criar um clima no país que levasse a uma intervenção absurda com a derrubada do governo Lula, eleito democraticamente.
A anistia, inclusive, tem que ser verificada depois da condenação. No momento, parte dos que estão presos não foram ainda penalizados. Defender a anistia é levantar a bandeira do golpe. Bolsonaro, desde o início do seu mandato, se preparava para fraudar a tentativa de reeleição. Não conseguiu e agora busca retomar a linguagem subversiva, apoiando uma espécie de imunidade para os que invadiram prédios públicos.
CRÍTICAS – Uma parte expressiva da população confunde críticas ao governo Lula como impulso para derrubá-lo sob argumentos absolutamente irreais. Queriam tirar o governo e sequer apresentavam motivos lógicos. Seria um desastre democrático se o movimento tivesse êxito, indicando um novo período ditatorial.
É preciso ainda se levar em conta as manifestações nas portas dos quartéis pedindo a intervenção do governo e do país. Nunca se viu algo assim, criando-se pequenas comunidades que reivindicavam um golpe de Estado capaz de apagar, inclusive, as eleições de 2022. Defender depredadores, anistiando-os, cria uma situação completamente fora da curva, na medida em que os vândalos escapam da punição que receberam.
A anistia, nesse caso, coloca em risco a propriedade privada e aponta uma ruptura do poder político que resultou nas urnas que asseguraram a vitória do presidente Lula. Além disso, há episódios como o das joias compradas e revendidas, e o empenho do ex-presidente Bolsonaro através do tenente-coronel Mauro Cid em torná-las patrimônio pessoal. Defender a anistia é corroborar com as ações antidemocráticas e fazer o país retornar a 31 de março de 1964, com uma ditadura que durou 21 anos, deixando um rastro de violação dos direitos humanos.