Publicado em 12 de abril de 2025 por Tribuna da Internet

Motta devia ser proibido de ter ideias; é perda de tempo
Mario Sabino
Metrópoles
Não presto atenção ao que diz homem que usa gel no cabelo. É porque as ideias também têm gel, e basta dar uma enxaguada e o lustro vai embora. Mas, contrariando a minha resolução existencial, prestei atenção ao que disse o deputado Hugo Motta, presidente da Câmara, sobre o abacaxi dos condenados pelo 8 de Janeiro.
Pressionado pelos bolsonaristas a colocar o projeto de anistia em votação e obsequioso com o STF, tudo ao mesmo tempo agora, o gajo disse aos jornalistas Luciana Lima e Eumano Silva que negocia uma solução para o imbróglio com Lula, em nome da pacificação do país (quando ouço falar em pacificação, penso sempre nas 50 mil vítimas de assassinato a cada ano). Alguém precisa fazer política, não é?
ENTENDIMENTO? – A ideia é chegar a um entendimento entre os Três Poderes para que as penas pesadíssimas impostas aos participantes do 8 de Janeiro sejam aliviadas.
“O que tenho defendido é a capacidade de a gente se entender. Eu tenho conversado com muita gente. Também o Executivo tem um papel importante a cumprir nisso”, disse Hugo Motta.
Depois de ler a frase, perguntei aos meus botões (eu estava de camisa social) se não foi “muita gente” que deu esta ideia a ele: substituir o projeto de anistia com outro que prevê o abrandamento de condenações, de tal modo que tiraria a maioria dos depredadores da cadeia e daria aos brasileiros, eternamente em busca de uma ilusão, o sentimento de que a Justiça finalmente voltou ao seu leito.
PETISTAS GOSTAM – Segundo os autores da reportagem, alguns petistas gostam da ideia, porque esvaziaria o discurso bolsonarista (como eles poderiam ser contra aliviar sentenças condenatórias?) e concentraria as punições em quem eles apontam como os cabeças do 8 de Janeiro.
Assim, Jair Bolsonaro e o seu entorno não teriam mais como misturar-se à geleia geral de uma anistia que beneficiaria tubarões e bagrinhos.
SEM O ABACAXI – É bom para todos os interessados: Hugo Motta se livraria do abacaxi da anistia; Lula transmitiria a imagem de misericordioso com chance de ganhar pontos de popularidade nas proximidades de um público que o detesta; e o STF deixaria de ser o antipático antagonista de uma anistia humanitária e passaria a ser o simpático protagonista de uma, vamos lá outra vez, pacificação nacional que não fere a sua autoridade.
Será que a ideia é mesmo de Hugo Motta? De qualquer modo, preciso começar a prestar atenção ao que dizem homens que usam gel no cabelo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A ideia é absolutamente idiota e inexequível. Para diminuir as penas tem de mudar artigos do Código Penal e de outras leis, como a do Terrorismo. É uma imbecilidade a ser esquecida. Quanto ao gel nos cabelos, Motta estava ficando careca e fez um implante muito bem executado, mas faltou cabelo para implantar e ele tem de botar gel para esconder a calvície. Motta não tem cabelos nem nada na cabeça. (C.N.)