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A audácia de Daniel Vorcaro vai lhe custar muito caro
Alvaro Gribel
Estadão
O Banco Master é um problema de múltiplas dimensões, e o Banco Central falhou na supervisão do banco. As incertezas sobre o Master envolvem tanto os seus passivos (as suas dívidas), que têm custos elevadíssimos, quanto os seus ativos (os seus investimentos), que não demonstram solidez. Na prática, o Master já está desenquadrado dos índices de Basileia, o que o forçaria a receber uma forte injeção de capital, vender ativos ou a sofrer uma intervenção do BC.
Sob o lado dos passivos, o banco toma empréstimos pagando 140% do CDI e até mais. Para bom entendedor, era como se ele convidasse as pessoas físicas para se tornarem agiotas do banco, recebendo juros altíssimos em troca. Quase uma completa inversão de papéis.
IRRESPONSABILIDADE – Já sob o lado dos ativos, há fumaça por todos os lados, mas uma só já seria suficiente para o banco ser motivo de forte diligência por parte do Banco Central.
Carregar R$ 8,5 bilhões em direitos creditórios, um ativo que, sob a visão do próprio BC, tem ponderação de risco de 1250%, é uma irresponsabilidade com quem emprestou dinheiro ao banco e com o próprio sistema financeiro.
Houve quem argumentasse que o Banco Central não poderia recalcular o estoque de precatórios e direitos creditórios (uma espécie de pré-precatório) do banco, porque isso seria injusto com a instituição, já que ela não teria feito nada ilegal. O problema do raciocínio é que ou um ativo é de alto risco ou ele não é.
MANTEVE SIGILO – E o que o BC fez, ao estabelecer uma data de corte em junho de 2023, foi permitir que o banco escondesse essa informação dos seus clientes, e com isso ele pudesse continuar pedalando para crescer em ritmo acelerado.
Como mostrou o Estadão, há pelo menos cinco fundos de pensão com cerca de R$ 1,1 bilhão investido no Master. Dinheiro de aposentados, mas que não estão garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), já que o investimento foi feito em letras financeiras, que não entra no escopo de cobertura do fundo.
Em entrevista à CNN Brasil, o economista-chefe do banco, Paulo Gala, disse que tudo se trata de uma briga setorial. A explicação é que os grandes bancos estão incomodados com o crescimento “robusto” do Master e que eles querem manter a concentração do sistema bancário. O sistema brasileiro é concentrado, não há dúvida, mas não é disso que se trata.
BALANÇO MANIPULADO – A verdade é que o balanço do banco de 2024 foi turbinado por receitas atípicas, que se fossem recalculadas levariam a instituição ao prejuízo líquido.
Tudo que envolve o banco causa estranheza: a forte participação em empresas com problemas, as variações dessas empresas na bolsa, uso de fundos para dificultar a análise dos ativos, entre outras práticas pouco ortodoxas.
Neste sábado, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, se encontrou com banqueiros para tentar uma solução. A reunião, em si, promovida em pleno sábado, revela a gravidade da situação e o risco moral que paira sob o sistema financeiro.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Não há problemas em manter precatórios em carteira, porque são títulos com data de vencimento, na ordem dos pagamentos judiciais. Não se leva mais cano de precatórios, especialmente federais. Já os títulos creditórios são dívidas cobradas na justiça, mas que ainda não receberam sentença, portanto, não se sabe se serão pagos e quando isso poderá acontecer. Quando as empresas vão à falência, sempre deixam um buraco na praça, a não ser que sejam como as Americanas, cujos controladores têm dinheiro para dar e vencer. (C.N.)