Quando um paciente internado com covid-19 evolui para um quadro de insuficiência respiratória hipoxêmica grave, ou seja, quando perde a capacidade de fazer a oxigenação adequada e não consegue mais respirar sozinho, ele precisa passar pelo procedimento de intubação, que o auxilia na respiração por meio de um tubo colocado na garganta. É o que explica Fernando Sabia Tallo, médico clínico intensivista e coordenador da Força-Tarefa Covid da Associação Médica Brasileira.
“Nesses casos, o médico é obrigado a intubar o paciente, colocá-lo em um ventilador artificial que é capaz de dar concentração de oxigênio de até 100%”, explica. Segundo Sabia Tallo, pelo menos 10% das pessoas internadas com covid-19 precisam ser intubadas, procedimento que faz parte do tratamento nas UTIs (Unidade de Terapia Intensiva).
“Tenho dois pacientes com o mesmo nível de pulmão acometido, mas eles vão reagir de formas diferentes, pode ser que um eu tenha que intubar e o outro não, vai da experiência e da equipe médica perceber isso”, afirma.
Intubação não é sentença de morte Um estudo publicado na revista científica The Lancet Respiratory Medicine revelou que 80% dos pacientes que precisaram ser intubados por causa da covid-19 morreram no Brasil. Mas, segundo o médico, o procedimento não pode ser considerado uma sentença de morte.
Para ele, a mortalidade está associada à falta de estrutura para lidar com a alta demanda das UTIs causada pela pandemia - país enfrenta colapso no sistema de saúde com a falta de leitos de terapia intensiva em todos os estados.
“Se eu citar grandes hospitais brasileiros, a mortalidade por covid nessas UTIs jamais será grande, mas em alguns hospitais que não tinham nenhum leito de UTI e de repente precisaram abrir 10 e não tinham equipe especializada, aí posso imaginar que a mortalidade seja alta. Nós temos 8 mil intensivistas que são especialistas para esse tipo de atendimento, mas hoje nossa demanda para isso é pelo menos 50 vezes maior”, avalia. Segundo o médico, a iminente falta do “kit intubação” nos hospitais - conjunto de anestésicos, sedativos e relaxantes musculares, necessário para realizar o procedimento - também pode aumentar a possibilidade de óbito em pacientes intubados.
“A falta do kit intubação prejudica, porque se não há os sedativos adequados isso leva a um prejuízo no processo de ventilação, o que pode ter impacto na mortalidade”, afirma Sabia Tallo.
O que leva uma pessoa a ser intubada duas vezes? De acordo com o médico clínico intensivista, de 10% a 15% dos pacientes que passaram pelo procedimento de intubação precisam ser intubados novamente. Isso porque, segundo explica, nenhum dos critérios para a extubação é 100% seguro.
“Se o paciente está acordado e ventilando bem, com capacidade de respirar sozinho, ele está em condições de ser extubado. Mas a cada 10 pacientes, 1 começa de novo a sentir falta de ar e precisa ser intubado novamente”, afirma.
R7
Foto: AMANDA PEROBELLI/REUTERS
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