Landercy Hemerson
Os lembretes de ontem no fim da missa dominical das 11h na Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem, na área central de Belo Horizonte, mais uma vez foram além da agenda da paróquia ou das atividades do grupo de jovens. Seguindo a liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o padre Eugênio Barbosa Martins pediu aos fiéis que estavam com seus títulos de eleitores para que assinassem a ficha de adesão ao projeto de lei de iniciativa popular que impede a candidatura de condenados pela Justiça já em primeira instância, além de tornar o acusado inelegível por oito anos. Atualmente, a inelegibilidade ocorre somente depois de esgotada toda possibilidade de recursos à Justiça.
A proposta poderá revolucionar o processo de escolha do presidente da República, governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores no país. O texto impede também a candidatura de ocupantes de cargos nos poderes Executivo e Legislativo que, diante de possível condenação na Justiça, se afastam dos postos para não se tornar inelegíveis.
O projeto já conta com cerca de 800 mil adesões de eleitores e, pela legislação, precisa ter 1,3 milhão de assinaturas - 1% do eleitorado brasileiro - para ser enviado à Câmara dos Deputados. O alvo da CNBB é conseguir pelo menos mais 500 mil assinaturas. Com o apelo, que vem sendo realizado nos cerca de 40 mil templos que tem no Brasil, a Igreja Católica foi a responsável por aproximadamente 90% das 800 mil adesões alcançadas até o momento, conforme dados da CNBB.
"Cremos em Jesus Cristo, que tem como fundamento a justiça e a verdade. Portanto, nosso testemunho é crer na defesa contundente desses valores. Não podemos ser coniventes com a corrupção, com a injustiça praticada por alguns políticos", justificou o padre Eugênio Barbosa. Aos fiéis, durante a celebração, o religioso destacou que a assinatura da ficha em adesão ao projeto é uma forma de colaborar com o combate à corrupção política.
A dona de casa Genice Pereira, de 87 anos, aprovou a iniciativa da CNBB. "Foi uma decisão acertada. Vivi numa época em que o político era honesto. Ainda bem que a igreja está em defesa do projeto. E não assumiu tarde essa postura, mas no momento correto", afirmou Genice, depois de preencher a ficha de adesão à proposta. A doméstica Efigênia da Graça, de 50, também entrou na fila para assinar a ficha. "A impunidade é que leva à sujeira da corrupção. E o católico deve enxugar tudo isso com a verdade", disse.
O bancário aposentado Cristiano de Oliveira Gomes, de 57, falou sobre a importância da participação dos fiéis. "Acho válida a iniciativa da Igreja. O povo é quem precisa fazer por ele, e não esperar dos políticos um posicionamento. Esse tipo de ação não deveria ser apenas da CNBB, mas de outras entidades de classe e também religiosas", sugeriu o bancário. O advogado Carlos Daimond, de 30, completou: "É preciso um envolvimento da comunidade cristã e a Igreja está em seu papel".
Assinaturas Desde maio de 2008, os celebrantes das missas vêm pedindo aos fiéis para aderirem ao projeto. A previsão do secretário executivo-adjunto da Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB, Daniel Seidel, é de que o total de assinaturas necessárias seja alcançado em agosto. Um grande volume de fichas já foi enviado à sede da entidade, em Brasília, mas por falta de pessoal ainda não foram contabilizadas as assinaturas.
O planejamento da CNBB, e das outras 40 entidades que participam da busca por adesões, prevê o envio do texto ainda este ano para aprovação pelo Congresso. Assim, o projeto já passaria a valer em 2010, quando serão eleitos o presidente da República, dois terços do Senado, governadores, deputados federais e estaduais. Há 10 anos foi aprovado pelos parlamentares o primeiro projeto de lei de iniciativa popular que previa punição para candidatos que utilizavam da compra de votos para se eleger, movimento também capitaneado pela CNBB. O sucesso da campanha anterior motivou a atual.
Fonte: Estado de Minas (MG)
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