Leandro Colon
Os senadores não poderão reclamar de desconforto para trabalhar em 2009. Cada um dos 81 parlamentares terá à disposição em seu gabinete uma cadeira nova de couro preto, costura dupla, encosto alto, apoio na cabeça, espuma de poliuretano, e, para completar, uma base giratória que permite movimentos silenciosos e giros de 360 graus.
Na contramão do corte de gastos com a crise financeira mundial, o Senado fará uma licitação de R$ 2,49 milhões em 3 de fevereiro para comprar 1724 cadeiras e 62 sofás. O edital foi publicado na quarta-feira passada. Do material, 85 cadeiras luxuosas são destinadas aos senadores e à Mesa Diretora. O documento não poupa exigências à qualidade. Os senadores só aceitarão cadeiras com "assento estruturado em concha". Importante: a regulagem da altura deve ser pneumática ou a gás. Será aceita somente cobertura dos braços das cadeiras em alumínio ou aço cromado, "fixada à estrutura da base e não diretamente no assento", exige o edital.
O Correio fez uma pesquisa de preços em um shopping especializado de Brasília e em lojas na internet. A reportagem não encontrou nenhuma cadeira dessa por menos de R$ 1,1 mil. Um preço inferior até é possível, desde que ela não seja revestida por couro legítimo. O problema é que o edital é claro: "couro preto, com acabamento em costura dupla". Dependendo do modelo e da marca, uma cadeira pode chegar a R$ 4,8 mil.
O Senado comprará, por exemplo, 354 com os mesmos requisitos, mas sem o encosto de cabeça e o couro. Exige-se, porém, "tecido de fibra natural do tipo lã antialérgica ou algodão". Os preços de cada uma variam de R$ 300 a R$ 850. Dessa vez, permite-se a cor azul para a empresa interessada em participar da concorrência. Essas cadeiras serão usadas pelas áreas administrativas da Casa, como a TV Senado e a Secretaria-Geral. Há, inclusive, 215 do tipo "interlocutor", para receber visitas, sem falar nos sofás azuis de "borda arredondada". Serão comprados 12 de um lugar, 45 para duas pessoas, e 5 de três assentos. A empresa vencedora com o menor preço oferecido terá 60 dias para entregar o material após a assinatura do contrato, o que deve ocorrer ainda em fevereiro. O edital estima um valor global de R$ 2.490.961,42 com as despesas.
A reportagem procurou o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), para comentar o gasto milionário num período em que há apelos por cortes de despesas nos órgãos públicos. Sua assessoria informou que a responsabilidade é do diretor-geral, Agaciel Maia. À reportagem, Maia alegou que os recursos já estavam previstos no orçamento. A compra do material, segundo ele, servirá para substituir cadeiras e sofás que estariam deteriorados. "Isso tudo obedece a critérios. Há uma demanda de várias áreas. A aquisição é para todas as unidades", disse.
Discurso
Respondendo pela Secretaria de Comunicação Social, a diretora da TV Senado, Virgínia Galvez, reforçou o mesmo discurso. Em e-mail, ela explicou que, segundo o diretor de Patrimônio do Senado, Aloysio Novais Teixeira, a aquisição de cadeiras servirá "para os próximos 5 anos e constitui previsão orçamentária já realizada. Destinam-se à reposição de material desgastado pelo tempo e uso". "A própria TV Senado aguarda a mencionada aquisição para substituir cadeiras danificadas e complementar a necessidade da área", afirmou.
A direção-geral não soube informar quando ocorreu a última troca de cadeiras e sofás na Casa. As do plenário não serão trocadas agora. Segundo o Senado, é preciso uma autorização do arquiteto Oscar Niemeyer para fazer esse tipo de mudança.
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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