sexta-feira, janeiro 23, 2009

Tarso Genro entre Cacciola e Cesare Battisti

Por: Pedro do Coutto
O governo italiano está protestando contra o ato do ministro Tarso Genro que, inclusive contrariando posição anterior do Itamaraty, decidiu conceder asilo político a Cesare Battisti, cuja extradição foi pedida por Roma. Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália (lá não existe pena de morte), tem contra si a acusação de quatro homicídios quando integrava o movimento terrorista Proletários Armados Pelo Comunismo. Dificilmente alguém acusado e condenado por quatro assassinatos é inocente.
Ele próprio não se considera assim. Tanto quer primeiro fugiu para a França, depois para o Brasil. Ficou oculto em nosso País até ser preso pela Polícia do Rio de Janeiro há quatro anos. Battisti não se defendeu das acusações, nem na França, nem aqui, procurando a sombra, ingressando num plano que não o tornasse visível. Escolheu o caminho da fuga. Mas não é cidadão brasileiro e não tentou naturalizar-se.
Agora, vejam os leitores o contraste: o ministro da Justiça, que concedeu asilo e liberdade a Battisti, é o mesmo que viajou para o Principado de Mônaco para agir no sentido da extradição do cidadão italiano Salvatore Cacciola, condenado por crime financeiro no Brasil.
Cacciola não podia ser extraditado, pois nasceu na Itália. Mas a viagem de lazer a Mônaco, o levou a cruzar a fronteira da proteção e da liberdade. Foi preso. Seu nome estava na lista da Interpol como um criminoso foragido da Justiça brasileira. Condenado em nosso País, recorria da sentença em liberdade face ao habeas-corpus que recebeu do ministro Marco Aurélio Melo.
Aproveitou-se disso, embarcou no Tom Jobim e desceu em Roma.
Uma excelente reportagem de Vera Gonçalves de Araujo, “O Globo”, de 15 janeiro, focaliza amplamente todo o tema, as contradições de Tarso Genro, o equívoco do governo brasileiro, a reação internacional. Só não fez a comparação com o episódio Cacciola.
Mas registrou a diferença de procedimento usada em relação a Battisti e o colocado em prática quanto aos pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que abandonaram, no Brasil, a delegação de Havana no final dos Jogos Pan-americanos.
Tentaram e não obtiveram asilo político. Foram entregues ao regime agora chefiado por Raul Castro. Mas esta é outra questão.
O essencial no caso Battisti é que, sobretudo, o ministro Tarso Genro, de acordo com texto publicado por “O Globo”, sustentou que Battisti não teve o direito de defesa.
Como? Para fazer tal afirmação, o titular da Justiça teria que ter lido na íntegra os vários processos movidos pelo governo italiano contra Battisti ao longo de trinta anos. Não é aceitável acreditar-se não ter encontrado ele o direito de defesa e os meios legais e jurídicos de fazê-lo. Preferiu escapar da Justiça, assim como praticou Salvatore Cacciola.
Mas entre ambos existem diferenças enormes. A mais visível: Cacciola é um italiano condenado e preso no Brasil. Battisti é um italiano condenado e passa a ser livre pela concessão de asilo, em nosso País.
Fonte: Tribuna da Imprensa

Em destaque

Centrão barra avanço bolsonarista e isola Tarcísio em disputa pela liderança da direita

Publicado em 14 de dezembro de 2025 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Centrão avalia que Tarcísio precisa se distancia...

Mais visitadas