NOVA YORK - O secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., recebeu ontem, em Nova York, o cheque de US$ 1,6 milhão das mãos do procurador Distrital, Robert Morgenthau, para repatriação dos recursos enviados ilegalmente aos Estados Unidos como parte do esquema conhecido como Banestado.
Embora Morgenthau não especifique quando, ele estima que mais recursos devem voltar às mãos do Brasil, uma vez que as investigações continuam em andamento nos EUA. "A recuperação destes recursos é uma vitória", afirmou Tuma Jr., após a entrega do cheque.
O recurso repatriado vai para uma conta do Ministério do Justiça e, posteriormente, será repassado aos cofres da União. "Este cheque mostra que os estados conseguiram superar barreiras que o crime organizado superou há muito tempo", afirmou.
Durante a cerimônia de entrega dos recursos, Tuma Jr. emendou que o cheque recebido "não será o último" desta investigação. O comentário foi reforçado por Morgenthau: "Esperamos encontrar dinheiro adicional para os parceiros brasileiros".
A quantia recebida pelo governo brasileiro é referente a um terço de aproximadamente US$ 4,8 milhões divididos entre a Procuradoria Distrital de NY e a aduana do Departamento de Segurança Nacional dos EUA, como fruto da investigação conjunta.
Dos estimados US$ 30 bilhões do caso Banestado, a Procuradoria de Nova York congelou US$ 17,7 milhões e mantém controle de aproximadamente US$ 12,5 milhões, que ainda faz parte da investigação em andamento. No Brasil, estão sendo indiciados 34 envolvidos, dos quais um é de nacionalidade uruguaia.
Os EUA estão indiciando 16 empresas das Ilhas Virgens Britânicas. De acordo com o assistente da Promotoria, Adam Kaufmann, nos Estados Unidos eles pegariam de um ano e meio a quatro anos em uma prisão do Estado. O assistente disse que a Promotoria de Nova York pretende acompanhar o desenrolar dos julgamentos dos indiciados no Brasil. "Não queremos que o país (EUA) seja usado para envio ilegal de dinheiro".
De 1998 a 2002, US$ 3,7 bilhões passaram por 39 contas do Valley National Bank e que foram congeladas pelo procurador. "Mais de US$ 3 milhões passaram pelo Bank of America", acrescentou Morgenthau. Pelo Israel Discount Bank de Nova York passaram US$ 2,2 bilhões enviados por doleiros brasileiros.
O secretário de Justiça brasileiro avalia que o dinheiro enviado ilicitamente para fora do país pode ser oriundo de crimes como corrupção ou sonegação de impostos. O procurador da República do Paraná, Orlando Martello Jr., lembrou que o Brasil caracteriza o crime como "formação de quadrilha e lavagem de dinheiro".
Os EUA não classificam o envio ilegal de divisas como lavagem, mas caracterizam como "atividade criminosa", explicou Morgenthau. "Estes recursos chegaram por doleiros, passaram por Nova York e foram para empresas nas Ilhas Virgens controladas no Brasil, e não vieram por fontes legais. Nova York é um entreposto", completou ao explicar que muitos dos recursos não ficam no país.
O assistente do promotor, Adam Kaufmann, lembrou que "a mesma coisa aconteceu com Maluf (deputado federal Paulo Maluf, PP-SP), que usou o nosso sistema". No início deste ano, Morgenthau indiciou Maluf por remessa ilegal de recursos aos EUA.
O deputado federal, assim como os doleiros do caso Banestado, tem prisão decretada nos EUA e não pode entrar no país sob o risco de ser preso. "Na verdade, adoraríamos que eles visitassem o país", ironizou Kaufmann.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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