Em visita a Salvador, ontem, o ex-senador e deputado federal Roberto Freire, presidente nacional do PPS, mais uma vez direcionou a sua metralhadora para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem rotula de “direita”. Freire veio à capital baiana exclusivamente para prestigiar o ato de filiação do vereador Virgílio Pacheco ao seu partido. Acompanhado do presidente da executiva estadual, George Gurgel, o ex-comunista concedeu uma entrevista coletiva à imprensa no salão nobre da Câmara de Vereadores, quando falou sobre a Reforma Política, CPMF e a crise no Congresso. Com posições corajosas, o presidente do PPS começou falando sobre a infidelidade partidária e a decisão que o Supremo Tribunal Federal deverá tomar no próximo dia 3 de outubro. “No sistema proporcional, o voto é do partido. O TSE decidiu assim porque o voto é partidário”, declarou Freire, explicando como o Supremo deverá interpretar a polêmica decisão, que é fruto de representações do PSDB, DEM e PPS, que cobram a devolução dos mandatos dos deputados que trocaram estas legendas para partidos da base governista. Questionado se o parecer dado pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, favorável à manutenção dos mandatos para os deputados, influenciará na decisão do Supremo, Freire minimizou. “O parecer do procurador não vai influenciar na decisão do Supremo. Aliás, não custa lembrar que o placar já está três a zero, pois três ministros que votaram no TSE também fazem parte do Supremo”, disse ele, que mostrou-se menos confiante do que da última vez em que esteve em Salvador. “É que, do jeito que as coisas estão no Brasil, não dá mais para a gente ter certeza de nada”, avaliou. Embora reconheça que o Supremo não recebe pressões externas, Freire desconfia que o governo tente influenciar no julgamento, “principalmente porque a perda dos mandatos dos deputados infiéis provocaria uma desarrumação na base aliada”. Nesta linha de raciocínio, o líder comunista acusou o governo Lula pelo trabalho de cooptação dos deputados junto aos partidos com o objetivo de reforçar a sua base de apoio. “De que forma ele vem fazendo isso, eu não sei; mas que tem alguém se beneficiando com alguma coisa, eu não tenho a menor dúvida”, disse, referindo-se às migrações com o aval do governo. (Por Evandro Matos)
"Governo Itamar foi sério"
Advertido por um repórter de que a prática sempre aconteceu no Brasil, Freire rechaçou a tese de imediato. “Não. Não é bem assim. No governo Itamar, por exemplo, não teve nada disso. Eu estive lá e posso bem assegurar. Ninguém nunca ouviu falar dessa barganha política, nem desta falta de ética, no governo do presidente Itamar Franco”, defendeu o comunista. Mesmo diante deste quadro, ele disse continuar otimista em relação à política brasileira, pois confia na sociedade e no amadurecimento da democracia, mesmo sem acontecer a Reforma Política. Ele defendeu modificação nos procedimentos políticos, e culpou a falta de interesse do governo para levar a idéia adiante. Qual seria a saída para a crise, então? Como quem busca uma cartada decisiva, disse: “A grande reforma política que está para acontecer é a decisão do Supremo. Isso é uma reforma política”, disse, referindo-se ao julgamento do Supremo, que deverá acontecer no dia 3 de outubro. Freire alertou ainda que a economia brasileira pode ter conseqüências ruins por conta da crise mundial, tomando como parâmetro o déficit da balança financeira. Ele criticou também a forma como o governo conduz a votação da emenda que prorroga a CPMF: “A CPMF poderia ser um imposto interessante, caso houvesse um rateio com os estados e municípios. Do jeito que está, o PPS é contra”, declarou. Freire também falou sobre as questões da política baiana e do futuro do seu partido no Brasil. “Conseguimos superar esta última perda que nós tivemos, enfraquecendo o partido. Eu quero dizer que parece que foi para o bem. Porque o partido hoje está muito melhor do que o que estava antes, inclusive com a presença deles”, disse, referindo-se à saída dos deputados Colbert Martins e Veloso. “Nós vamos ter candidatos, coisa que nunca pensamos em ter, em algumas cidades importantes da Bahia”, concluiu. O comunista disse ainda que o seu partido sempre se posicionou com independência na Bahia, “sem se preocupar com essa idéia de linha carlista e anticarlista”. Ele lembrou também que o PPS , “entre o perde e ganha que se transformou o País”, deverá disputar as eleições de 2008 com boas condições de competição em Recife, com Raul Juggman, no Rio de Janeiro, com Denise Frossard, e em Goiânia. Embora reconheça que sempre teve um bom relacionamento com o atual governador de São Paulo, José Serra, ele disse que isso não significa compromisso para a sucessão de Lula em 2010: “O Serra não será o candidato do Sistema Financeiro. Ele tem uma visão de país até mais do que qualquer um foi agora. Mas isso não significa que nós vamos apoiá-lo, até porque não tem nada definido”, disse. (Por Evandro Matos)
Virgílio: a nova estrela do PPS
O vereador Virgílio Pacheco, que se desfiliou do PDT para entrar no PPS, disse que durante 20 anos militou no partido brizolista, ajudando a defender a bandeira da educação e na formação da cidadania. “Mas, agora, aconteceu o esgotamento de uma relação. Quando não há mais convergência, cada um procura o seu caminho”, disse. “O PPS tem valores que tem adicionado ao longo do tempo. No Congresso, por exemplo, a sua bancada é das mais competentes, mostrando coerência, sem agir com oportunismo”, elogiou. Virgílio falou também que não está entrando no partido para defender uma possível candidatura à prefeitura ou à Câmara Municipal. “O meu projeto é dentro do PPS, no espaçamento das suas idéias. Para a conscientização da sociedade, não se pleiteia mandato”, filosofou. Ao lado de George Gurgel, presidente do diretório estadual, ele recebeu elogios de Roberto Freire pela sua entrada no partido. Na oportunidade, Freire aproveitou para lançar o nome de Gurgel à prefeitura de Salvador para eleição de 2008. Esta é a primeira vez que o partido vai lançar candidato à prefeitura da capital baiana. O líder comunista revelou também que o PPS vai ter candidato em todas as cidades brasileiras com mais de cem mil habitantes, uma estratégia a ser adotada para o seu crescimento. (Por Evandro Matos)
Mudanças enfraquecem PMDB
Na ponta do lápis, é possível que, entre os 63 deputados da Assembléia Legislativa, a oposição fique apenas com 13 dos 33 que elegeu, na maior revoada partidária de que se tem notícia na Bahia. O líder da minoria, Gildásio Penedo (DEM), acredita que o STF vai votar pela cassação dos mandatos dos infiéis, que, no máximo, terão a possibilidade de voltar a seus partidos de origem – se forem perdoados. Ao contrário de Muniz, que sonha com a antiga correlação de forças, ele acha que os partidos devem receber de volta quem saiu, porque a perda do mandato “é uma medida muito dura”. O DEM, antigo PFL, que elegeu 16 deputados, ficará seguramente com nove: o próprio Gildásio, Heraldo Rocha, Paulo Azi, Clóvis Ferraz, José Nunes, Júnior Magalhães, Misael Neto, Eliedson Ferreira e Rogério Andrade. Tarcízio Pimenta, que postula a prefeitura de Feira de Santana, poderá sair apenas para garantir legenda para sua candidatura, mas seguirá oposicionista. Por outro lado, Sandro Régis, que não irá para o governo com o PR, está de malas prontas para o DEM. O deputado Ivo de Assis, também do PR, disse que apoiará a decisão da “direção partidária”. Portanto, se o PR ficar sob a presidência do senador César Borges, ele estará na oposição. Se Borges recuar da filiação, o deputado passará a obedecer às diretrizes do atual presidente, o deputado federal neogovernista José Carlos Araújo. A deputada Antônia Pedrosa (PRP), aliada dos independentes, tende ao governo, pois seu marido, Antônio Henrique, prefeito de Barreiras, já está no PMDB. A rearrumação nas bancadas é conseqüência direta do confronto PT-PMDB, simbolizado na apresentação de candidaturas distintas à vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. “Para não ficar refém” do ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB, como disse um deputado do DEM, o governador Jaques Wagner acelerou a busca de novos apoios na Assembléia e quer até mudar a Constituição para acabar o voto secreto. “Caminhamos, se não para um partido único, pelo menos para uma base única”, ironizou o parlamentar. Apontado até pelos adversários como um competente articulador na bancada do PT, o deputado Paulo Rangel sentencia, diante da barafunda política em que se transformou o plenário da Assembléia: “É a morte da ideologia, que acabou tragada pelo pragmatismo”. Para ele, certo artificialismo que sempre envolveu a atividade política “agora foi exacerbado”. Rangel recorda com nostalgia o tempo em que, na esquerda, havia até a divisão, que “beirava a religiosidade”, entre stalinistas e trotskistas .”Agora”, suspirou, “a gente vê o PFL indo para o PT, para o PCdoB, como se fosse a coisa mais natural do mundo”. A respeito dessa volubilidade nos meios políticos, recordou a explicação do ex-governador pernambucano Miguel Arraes, que tinha a seu lado 150 prefeitos, reduzidos a 17 depois que perdeu a eleição: “É que a gente só tinha esses 17 mesmo”. (Por Luis Augusto Gomes)
Fonte: Tribuna da Bahia
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