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Tarcísio levou boneco de Bolsonaro e defendeu seu aliado
Pedro do Coutto
Na Festa do Peão de Barretos, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, dividiu o palanque com Ronaldo Caiado e Romeu Zema para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro, gesto que reforça a polarização com o presidente Lula e aquece especulações sobre o futuro político do governador.
A cena não foi apenas uma demonstração de lealdade ao bolsonarismo, mas também um recado calculado: Tarcísio deseja ocupar espaço como herdeiro político de um campo que, embora fragilizado por denúncias e investigações, ainda conserva uma base eleitoral robusta. Nesse movimento, o governador mostra que compreende o jogo simbólico da política nacional, em que cada gesto é lido como sinal de posicionamento estratégico.
DILEMA – A dúvida que paira é se Tarcísio buscará a reeleição em São Paulo ou se arriscará uma candidatura presidencial em 2026. O dilema não é apenas estratégico, mas também jurídico: se decidir concorrer ao Planalto, terá de deixar o cargo em abril do próximo ano, seis meses antes da eleição, em razão da regra de desincompatibilização. Mas, se optar pela reeleição, poderá permanecer no governo até o último dia do mandato, privilégio esculpido pela emenda constitucional aprovada ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, que institucionalizou a reeleição sem obrigar o afastamento do titular.
Trata-se de uma contradição que beneficia ocupantes de cargos executivos e impõe barreiras apenas quando se busca outro posto, distorcendo a lógica da igualdade eleitoral e criando um regime de exceção para presidentes, governadores e prefeitos. Enquanto essa disputa de poder se desenha, o país convive com dramas mais profundos e cotidianos, que expõem a distância entre a elite política e a realidade da população.
EXCLUSÃO – Enquanto as elites discutem cargos, privilégios e estratégias eleitorais, a população paga o preço da precariedade, da exclusão e da falta de humanidade na condução do Estado. Tarcísio encarna a ambição de uma nova direita que se equilibra entre a imagem técnica e o respaldo bolsonarista, mas seu futuro dependerá não apenas da escolha pessoal entre reeleição ou Presidência, e sim da capacidade de dialogar com um Brasil cansado de contradições e desigualdades.
Se quiser se apresentar como alternativa real ao Planalto, terá de provar que é mais do que um apêndice de Bolsonaro e que é capaz de propor soluções concretas para os problemas estruturais que corroem o país. Caso contrário, corre o risco de repetir um padrão que já se tornou demasiado conhecido: políticos que falam em nome da mudança, mas que, ao se beneficiarem de regras distorcidas e privilégios eleitorais, apenas perpetuam um sistema excludente e desigual.