
Com seu radicalismo, Moraes prejudica a democracia
Merval Pereira
O Globo
A mais recente pesquisa Quaest aponta que 55% dos entrevistados consideram justa a prisão domiciliar de Bolsonaro e 39% a consideram injusta; e 49% não estão de acordo com as sanções do governo americano impostas ao ministro Alexandre de Moraes, enquanto 39% estão de acordo.
Outra pesquisa, da Atlas/Intel, diz que 49% aprovam a posição do ministro, e 51% desaprovam. O ministro Alexandre de Moraes representa a polarização política que vigora no país hoje. É um mau sinal, porque o STF passa a ser parte da questão, e deveria estar acima das disputas políticas.
PLAYER POLÍTICO – Na verdade, sempre teve envolvimento político, mas nos últimos anos cresceu muito, a partir do mensalão e do petrolão, quando passou a ser um player político, cujas decisões interferem na disputa eleitoral. Foi assim com Lula e está sendo com Bolsonaro. Não é um bom sinal da nossa democracia. Mas no mundo inteiro está assim.
Nos EUA, Trump faz o que quer e a Suprema Corte atua como apoio, quando as questões chegam até lá. É um reflexo da nossa política atual, de confrontação e do uso do poder judiciário para fortalecer o poder político.
Muitos governos controlam a Suprema Corte com manobras e decisões autoritárias, que garantem a aparência de uma democracia, mas no fundo estão sendo controladas pelos governos autoritários. É assim que a coisa anda por esse nosso mundo conturbado.
A família Bolsonaro deixará que o bolsonarismo sobreviva sem ela à frente?

Eduardo Bolsonaro é o Chacrinha que veio complicar
Mario Sabino
Metrópoles
Jair Bolsonaro está se conformando com a realidade de que não será candidato em 2026. Estará preso, e só falta definir o tamanho da cana no julgamento que começa na semana que vem.
Agora, Eduardo e Carlos Bolsonaro precisam se convencer disso, visto que Flávio já parece aceitar o irremediável. No caso de Eduardo, acrescente-se uma dificuldade para o convencimento: a candidatura impossível do pai lhe serve para acalentar o sonho de ser o substituto do insubstituível.
OPERAÇÃO TARCÍSIO – Na visão dele, explicitada na rede social X, está em curso uma operação política da chamada direita permitida para o pai ser forçado a apoiar Tarcísio de Freitas desde já, embora ele não cite o nome do governador de São Paulo:
“Se houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com base em chantagem. Acho que já deixei claro que não aceito chantagens. Qualquer decisão política será tomada por nós. Não adianta vir com o papo de ‘única salvação’, porque não iremos nos submeter. Não há ganho estratégico em fazer esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento.”
Ele acredita que o julgamento é “a faca no pescoço” do seu pai, “o meio de pressão eficaz para forçar Bolsonaro a tomar uma decisão da qual não possa mais voltar atrás”.
MIL VEZES – Eduardo arremata que “quem compactua com essa nojeira pode repetir mil vezes que é pró-Bolsonaro, mas não será percebido como apoiador e muito menos como merecedor dos votos bolsonaristas. São com atitudes — e não com palavras — que mostramos quem somos. Antes de mais nada, caminhar com Bolsonaro significa ter princípios, coerência e valores”.
O recado para Tarcísio de Freitas e para quem o apoia não poderia ser mais claro.
A questão, no entanto, transcende a eventual candidatura do governador paulista. É saber se os Bolsonaro vão permitir que o bolsonarismo sobreviva sem Jair ou qualquer outro integrante do clã à frente ou se vão preferir seguir a máxima atribuída originalmente à Madame de Pompadour, amante de Luís XV: “depois de nós, o dilúvio”.