quinta-feira, agosto 28, 2025

Está no fim a carreira de Malafaia como ‘papa dos evangélicos’?


Silas Malafaia foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal na quarta-feira (20)

Malafaia se comporta como se fosse o papa evangélico

Juliano Spyer
Folha

Está em curso uma disputa sucessória para substituir o pastor Silas Malafaia como a voz e a consciência política dos evangélicos? Um outro pastor de direita o criticou publicamente por se apresentar como alguém perseguido por suas crenças.

Após depor na Polícia Federal, Malafaia voltou a chamar o ministro Alexandre de Moraes de ditador e insistiu que não teme ser preso. Convidado para repercutir o caso, o deputado federal Otoni de Paula, que é pastor da Assembleia de Deus, defendeu que o ministro do STF pode ser criticado, mas não por atacar uma religião.

NÃO É O CASO -“Seria perseguição religiosa só se o pastor Silas estivesse no inquérito da Polícia Federal porque estava orando, evangelizando em praça pública, pregando a palavra de Deus. Não é o caso”, disse Otoni em entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews.

Ex-vice-líder do governo Bolsonaro e da bancada evangélica no Congresso, Otoni se reposicionou politicamente após ser rejeitado pelo ex-presidente como candidato para disputar a Prefeitura do Rio em 2024.

Pastor do poderoso Ministério Madureira da Assembleia de Deus, Otoni parece contar com o respaldo de suas lideranças para se projetar como uma nova referência nacional, em um esforço de estancar os problemas criados pela associação das igrejas ao bolsonarismo.

OUTRA NARRATIVA – Otoni vem apresentando uma narrativa alternativa à de Malafaia para orientar a atuação política dos evangélicos. Afirma ser conservador nos valores e, por isso, se identifica como alguém de direita, mas critica os que substituíram o culto a Jesus pela devoção a Bolsonaro.

A imagem mostra um grupo de homens, alguns usando camisetas amarelas, em uma manifestação. No centro, um homem de camiseta azul está com a mão no coração, enquanto é cercado por câmeras e repórteres. Ao fundo, uma multidão se reúne em uma rua, com árvores e sinalização visíveis. A atmosfera parece ser de apoio e mobilização.

Foi a partir desse argumento que Otoni responsabilizou Malafaia por uma eventual prisão. “Eu faço parte da geração que viu o pastor Silas ganhando almas, falando as verdades do evangelho. Mas ele vai ser preso por amor a Bolsonaro, e isso não glorifica Jesus”, disse o deputado. E provocou: “Eu não vou atrapalhar o sonho do pastor Silas, que é ser preso”.

PERDE E GANHA – O posicionamento do deputado reflete a percepção de parte da liderança evangélica de que suas igrejas mais perdem do que ganham ao abraçar o bolsonarismo.

Essa aproximação gerou atritos internos e perseguição a membros que rejeitam o ex-presidente, além de associar ao campo evangélico temas polêmicos, como a defesa do uso de armas.

O bolsonarismo também enfraqueceu a representação política evangélica, já que fiéis passaram a apoiar candidatos conservadores sem vínculos religiosos.

NOVA FRENTE – O argumento de perseguição religiosa é central para Malafaia. O evangelicalismo brasileiro mantém vínculos estreitos com denominações influentes nos EUA, muitas delas entre os apoiadores mais fiéis de Donald Trump.

Ao levar o embate com Moraes ao campo religioso, Malafaia pode abrir nova frente de pressão para que o governo Trump penalize o Brasil e opositores de Bolsonaro.

Já o posicionamento de Otoni sinaliza que parte dos evangélicos começa a contemplar um futuro sem Bolsonaro, que deve ser preso, e sem Malafaia, que perde seu papel de “papa dos evangélicos”.

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