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Se houver segundo turno entre Lula e Bolsonaro, os cenários na eleição paulista teriam efeitos distintos
Com 66,7 milhões de eleitores, quase 43% do total, a Região Sudeste se tornou o principal campo de batalha entre as campanhas eleitorais dos candidatos Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Os cientistas políticos acompanham com atenção o que acontece num estado da região, Minas Gerais, por representar uma média do Brasil e se comportar como a proverbial ovelha que carrega o sino no rebanho — Minas votou majoritariamente no presidente eleito em todas as eleições desde a redemocratização. Nesta eleição, contudo, os olhares têm se voltado também para outro estado da região: São Paulo.
Estado mais populoso da Federação, São Paulo concentra quase 35 milhões de eleitores — um em cada cinco brasileiros tem título paulista. Não se trata apenas de tamanho. A política local passou por uma ruptura recente com a conflagração que tomou conta do PSDB, partido que domina o governo desde 1995. O ex-governador João Doria deixou como legado um divórcio na aliança entre os moderados tucanos e os conservadores (outrora malufistas), que garantia vitórias contra o PT.
Um dos principais caciques do PSDB no estado era Geraldo Alckmin, eleito três vezes governador pelo partido. Desafeto de Doria, ele se tornou candidato a vice na chapa de Lula e hoje faz campanha pelo candidato petista ao governo, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad. O resultado é que o candidato tucano, o atual governador Rodrigo Garcia, disputa o cargo com dois adversários fortíssimos: Haddad, apoiado por Lula, e o ex-ministro Tarcísio de Freitas, candidato de Bolsonaro.
Pelas últimas pesquisas, Haddad lidera, seguido de Tarcísio e Garcia. Mas a situação está indefinida — qualquer um dos dois últimos poderia disputar um segundo turno contra Haddad com chance de vitória, e qualquer um dos três poderia ser eleito. Há, porém, um complicador: se houver segundo turno na eleição nacional, os cenários em São Paulo terão efeitos distintos.
Lula vê em Haddad a possibilidade de enfim romper o domínio tucano sobre o estado. Se o adversário deste num eventual segundo turno for o bolsonarista Tarcísio, a eleição paulista se transformará em espelho da eleição nacional — cada um carregando votos para seu padrinho e candidato a presidente. A força de Bolsonaro tenderá a crescer no estado com a adesão dos eleitores órfãos dos tucanos, entre os quais persiste o antipetismo.
Se, ao contrário, Garcia — hoje em terceiro nas pesquisas — ultrapassar Tarcísio e levar a disputa com Haddad ao segundo turno, o estado assistirá à reprise de um filme conhecido: o embate entre petistas e tucanos. Nessa situação, a maioria dos eleitores bolsonaristas e conservadores provavelmente votaria em Garcia, mas não haveria associação imediata, capaz de levar para Bolsonaro os votos do tucano.
Para Haddad, Tarcísio seria um adversário melhor, por lhe permitir empunhar a bandeira do antibolsonarismo. Para Lula, não necessariamente, já que Tarcísio levaria votos para Bolsonaro num estado crítico para a eleição presidencial. Com Garcia no segundo turno, Lula e Garcia seria uma dobradinha tão aceitável na urna quanto Lula e Romeu Zema em Minas Gerais ou Lula e Cláudio Castro no Rio — algo impensável com Tarcísio. Num momento em que as pesquisas sugerem um quadro mais apertado na disputa presidencial, a eleição em São Paulo se tornou decisiva para o cenário nacional.
O Globo