Vicente Nunes
Correio Braziliense
A troca dos comandantes das três Forças Armadas: Marinha, Exército e Aeronáutica foi o jeito encontrado para não deixar o comandante do Exército, Edson Pujol, sozinho na chuva. Era uma determinação do presidente Jair Bolsonaro trocar Pujol. Mas ele acabou mandando demitir os três como sinal de que quem manda é ele.
Pujol vinha sendo mantido no cargo, mesmo com toda a pressão de Bolsonaro, por determinação do então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. Como ele foi demitido, as portas ficaram abertas para que o presidente da República assumisse o comando do Exército.
PERIGO À VISTA – A meta de Bolsonaro é ver as Forças Armadas, sobretudo o Exército, totalmente vinculadas a seu governo. Um perigo, como ressaltou o próprio Azevedo e Silva, que barrou, por diversas vezes, a entrada da política nos quartéis. A chegada do general Braga Netto no Ministério da Defesa é a senha para a mudança de postura na Forças.
A politização dos quartéis é vista com muita apreensão no Congresso e no Judiciário. Bolsonaro já mostrou, por diversas vezes, o desejo de adotar um tom autoritário em seu governo. Recentemente, disse que “o meu Exército” atuaria contra as medidas restritivas adotadas por prefeitos e governadores contra a pandemia do novo coronavírus.
TROPAS DIVIDIDAS – A demissão dos três chefes da Forças Armadas, fato inédito na República, ocorre um dia antes da data marcada como o do golpe militar de 1964. A partir de agora, é ficar atento aos nomes que serão escolhidos para suceder Edson Pujol no Exército, Ilques Barbosa Júnior, na Marinha, e Antonio Carlos Bermudez, na Aeronáutica. A tendência é de que os novos comandantes das Três Forças sejam mais alinhadas a Bolsonaro. É aí que mora o perigo.
O clima é de tensão nos quartéis. Há divisão nas tropas. A maior parte do alto escalão é contra o alinhamento das Forças ao governo e à política. As bases estão quase que totalmente fechadas com o bolsonarismo.