Por: Helio Fernandes
Pode me chamar de presidente, e repetir 4 anos de retrocesso
Faltam pouco mais de 10 dias para a eleição, o 2º turno com a vitória anunciada de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2002, começando 4 meses antes da eleição, escrevi vários artigos, todos com o mesmo título, logicamente com textos diferentes, mas com igual convicção. Título geral: "Meu nome é Luiz Inácio Lula da Silva, mas pode me chamar de presidente".
52 milhões de eleitores confirmaram a esperança que se desprendia ou que surgia da alternância do Poder. Num país dominado pela elite, no Império e na República, um trabalhador no governo era mais do que uma experiência, era a consagração da democracia.
Isso foi dito com votos, com palavras, com expectativa, barulhenta ou silenciosa. E se 52 milhões de cidadãos "teclaram" o número de Lula em 2002, outros 52 milhões não fizeram isso, mas deixaram implícito e explícito: não davam a ele o voto na urna, mas emprestavam esse voto, na esperança, na compreensão, na divagação de que finalmente a República deixaria de ser um sonho arruinado, destroçado, desesperançado.
Durante esses quase 4 anos fui expressando minha decepção, minha inquietação, minha constatação de que nada aconteceria. Logo, logo não havia mais dúvida: Lula assumia com 2 projetos. Um, pessoal, que era de se impor através da exibição na televisão, ou então pelas viagens internacionais, dialogando com os donos do mundo. Nos primeiros meses ou até, digamos, 1 ano, seu charme, carisma, da vitória de um trabalhador pobríssimo que conseguira vencer tudo e chegar a presidente da República, se mantiveram intactos.
Mas logo se via que um outro esquema dominava o governo, o Planalto e o Alvorada, e por motivos os mais diversos arrastava o próprio Lula. Arrastava ou o mantinha inteiramente por fora de tudo? Lula continuava a se exibir na televisão interna e nos palcos externos, mas a desconfiança se consolidava. E imediatamente se materializava o grupo da ambição que se consolidava utilizando a corrupção. Pretendiam o que Hitler chamara de "Reich dos mil anos" e FHC os 20 anos, no mínimo do Poder pela entrega do patrimônio nacional.
Meu primeiro brado retumbante: quando o presidente Lula disse na televisão: "Fico esperando ansioso que o Palocci e o Meirelles acenem com o sinal verde para baixar os juros". Era muito, protestei abertamente. O regime é presidencialista, o presidente pode tudo, por que depender de dois subordinados? Por sua vez, subordinados ao FMI?
Em menos de 2 anos tudo desmoronou. Escândalos e mais escândalos foram chegando ao conhecimento geral. Eram de tal ordem, num volume tão extraordinário, que seqüestraram o próprio presidente Lula. Continuou negando, insistiu no monótono "não sei de nada", mas foi demitindo, desonrosamente, os principais auxiliares. Teve que expulsar com cartão vermelho aqueles que esperava que lhe acenassem com cartão verde.
Os 4 anos de Lula representam a maior e mais incoerente tragédia do que pode ser chamado sem qualquer hesitação de cópia do "fernandohenriquecardosismo". É terrível para um presidente que prometeu a esperança e a realização fazer tudo igual ao antecessor, que é conhecido pelo RETROCESSO DE 80 ANOS EM 8.
Ultrapassando logo o tempo e o espaço, estamos perto do 29 de outubro, do 2º turno e da nova vitória de Lula. No 1º turno teve 48,5% dos votos. Não vai perder 1 só desses votos e ganhará mais 6 ou 7%, chegando facilmente aos 55%. Alckmin pode chegar a 45%, que ilusão.
PS - Este artigo, bem antes da eleição inútil do dia 29 e do debate vazio do dia 27, pode ter, e tem mesmo, o título dos que escrevi em 2002. Mas o repórter, dominado pelo desalento, pelo desencanto, pela descrença.
PS 2 - Como não gosto de votar em branco ou anular o voto, e como votar em Alckmin representa a mesma coisa, ficou a opção a ser cumprida com tanta dor no coração, que o melhor mesmo é, antes da votação, colocar um marcapasso. Réplica do que colocaram no país, ESTAGNANDO-O ou CONDENANDO-O ao RETROCESSO.
Geraldo Alckmin
Outro que desaparece. Não tenho nada pessoalmente contra ele, só o que representa. Por isso o velório antes da morte, dia 29.
Meu artigo em defesa dos funcionários da AERUS, PETROS e AEROS, que são roubados na APOSENTADORIA COMPLEMENTAR, teve excelente repercussão. No sábado mesmo houve reunião-jantar, e quase ia saindo um acordo positivo. Ivan Barreto, presidente da AMBEP, tentou apoiar o lado bom da AEPET. Já fizera a defesa de Fernando Siqueira, diretor da AEPET e membro do Conselho Deliberativo da AMBEP. Mas logo o grupo ruim que assaltou a AEPET tomou providências.
O presidente da AEPET, Heitor Pereira, estava presente, mas quem falou foi o engenheiro Sidney Reis. Manda mais que o presidente, e se apresenta como ASSESSOR JURÍDICO. (Recado para a OAB: se ele não é advogado, pode ser ASSESSOR JURÍDICO?).
Como são malabaristas, na eleição da AMBEP, que não demora, querem tirar Fernando Siqueira do Conselho Deliberativo e colocá-lo no Conselho Fiscal. A AMBEP representa mais de 130 mil funcionários. Heitor Pereira continuará em silêncio.
A Sujíssima Veja errou mais uma vez. Garantiu que Alckmin é ameaça real (ou dólar?) ao presidente Lula.
Assim como engana o leitor na informação e na opinião, engana também na análise. Onde a surpresa? Lula não terá menos de 55% dos votos.
Alckmin contamina até amigos (?). Prometeu o Ministério da Fazenda ao corrupTASSO, ninguém foi tão derrotado quanto ele, principalmente no seu estado, o Ceará. Além disso, Alckmin que não ganha, prometeu em vão.
O presidenciável registrado pelo PSDB, mas com a cúpula desse partido com horror a ele, garantiu a Michel Temer que seria presidente da Câmara. Temer pretendia isso ou a vice do Serra, foi vetado por Quercia.
Temer já se julgava presidente da Câmara. Ficou em penúltimo lugar na legenda. Mas como 2 candidatos do PMDB foram impugnados e se elegeram, Temer, desesperado, vive a angústia de ser suplente. Se fosse no Senado, que maravilha viver. Não presidirá a Câmara.
Ney Suassuna, derrotado pelo povo do seu estado, e não reeeleito, faz agora apelo aos colegas: para que cassá-lo, seu mandato está no fim.
Não tem apoio, respondem: a cassação não é pelo tempo e sim pela credibilidade. O relator, Jefferson Peres, desconheceu os apelos, pediu sua cassação. Foi insultado, injuriado, agredido. Piorou a situação.
José Roberto Dutra é arrogante, pretensioso, incompetente. Perdeu para governador do Sergipe, não se reelegeu senador, ganhou de presente a Petrobras. Teve que ser demitido às pressas ou a grande empresa acabava.
Foi novamente candidato a senador, outra vez derrotado. Mesmo apoiado por Marcelo Déda, prefeito duas vezes e eleito governador.
Dutra sonha que Lula repita o 1º mandato e nomeie derrotados. Será salvo do ostracismo. Poderia ser ministro da Limpeza Pública, o cargo não existe.
Cristovam Buarque tem mandato no Senado até 2010. Tem dito a amigos que voltará ao governo do Distrito Federal. Como ganhar de Paulo Otavio (que será o sucessor de Arruda) ou até de Roriz?
Clodovil Hernandez não sabe mesmo o que irá fazer em Brasília. Começou esfogueado, foi aconselhado a "amainar", que palavra, "amainou".
Na verdade, quer um programa semanal na TV Globo, que até admite estudar. Se continuasse no pique em que ia, Clodovil estava ameaçado a nem chegar em Brasília. Ou sair muito antes.
Quando Sergio Cabral, com um projeto contra os gays, mudou de lado por questão eleitoral, alguém disse a ele, gozadoramente: "Você podia devolver tudo o que ganhou ilicitamente". E o candidato, rápido: "Se o Garotinho devolver, eu também devolvo". É um homem de convicções.
Que tristeza: Denise Frossard jogou fora uma eleição que precisava apenas dela passar para o 2º turno. Passou e fez tanta bobagem, que perdeu a grande chance da sua vida. E frustrou a expectativa do estado todo.
O PSDB do Rio e do Estado do Rio acabou, venho dizendo há meses. A liderança emergente é de Otavio Leite, que teve excelente votação.
Eduardo Paes, que cresceu na CPI contra corruptos, apóia Sergio Cabral. O PSDB não tem o governo, a prefeitura, os senadores. E bancada na Câmara Federal vai diminuindo cada vez mais. Sem renovação.
Continuo a análise (que comecei ontem) da revista "Piauí". Sigo apenas a exigência criada pela arrogância e pretensão dos banqueiros donos. Essa "Piauí" é um incrível desperdício. Para o público custa 7,90, para os donos muito mais, não importa, é dinheiro fácil.
Monótona, desinteressante, cansativa. Dois artigos tidos como alavanca e ponto de apoio: de Ivan Lessa, lembrando os 28 anos em que morou em Londres. 613 linhas, em 16 blocos indevassáveis, todas as linhas com 32 batidas. Memória inútil de Ivan Lessa, nada que valha a pena. Ninguém sabe o que faz ali. O tempo passou, Ivan Lessa acabou.
O melhor texto é de Dorrit Harazim, que escreve bem. Mas como editora da revista deveria ter percebido que ninguém vai se perder num emaranhado de 752 linhas na mesma diagramação da matéria do Ivan Lessa.
A atração (?) prometida era uma entrevista com Roberto Jefferson, feita pelo próprio banqueiro dono. Ficaram com vergonha, deixaram para o DVD que sairá dia 17 de novembro. Como o estilo é o homem, o banqueiro dono "aparece" escondido em diversas e inúteis páginas.
A revista não vai durar nem fechar. Será mantida pelo cacife do banco. Mas no máximo ficará como as revistas dominicais dos grandes jornais do mundo, que todos colocam de lado "para ler depois". E esquecem.
XXX
Flamengo e Vasco não saíram da mediocridade. Pegaram dois times na zona de rebaixamento, não tiveram piedade, não era para ter mesmo. Competição é competição.
O Fluminense acumula técnicos e derrotas, cada vez mais longe de qualquer objetivo positivo.
Só não está "garantido" no rebaixamento porque essa área já tem 3 donos certos. Mas é uma campanha lamentável.
Treinadores como PC Gusmão, Antonio Lopes, Geninho e outros não se destacam, mas pelo menos conhecem o Brasil inteiro. 1 mês em cada estado, que maravilha viver.
Contra esses timinhos que a seleção "enfrenta", Ronaldinho Gaúcho vai se reafirmando. Anteontem, pelo seu Barcelona, fez 1 gol de falta, como gosta. E mais 1 de pênalti, sem maiores dificuldades.
Deixa longe o outro Ronaldo, ex-fenômeno, que fez uma falta violentíssima, fora dos hábitos, o que contribuiu para a expulsão.
XXX
Para obter os votos que o PDT não tem, o ex-governador Alckmin se declara "contra a privatização". FHC não gostou, claro.
E qual a razão de Alckmin ter atravessado todo o furacão DOADOR do presidente FHC sem dar uma palavra, sem esboçar, pelo menos esboçar, um protesto?
Estamos assistindo total empulhação: a compra e venda de votos que não possuem.
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