
Aliados veem impacto em candidatura de Tarcísio contra Lula
Bela Megale
O Globo
Aliados de Jair Bolsonaro avaliam que os acontecimentos recentes, que desgastaram as pautas da direita, têm potencial para impactar uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas à Presidência e levá-lo a repensar sua entrada na disputa contra Lula.
Eles apontam uma série de derrotas que também foram acumuladas pelo governador de São Paulo desde que passou a abraçar com mais intensidade uma agenda de pré-candidato ao Palácio do Planalto, a começar pela anistia.
DISCURSO RADICAL – No início do mês, Tarcísio encampou a proposta ao desembarcar em Brasília na semana do julgamento de Jair Bolsonaro, liderando articulações com parlamentares em defesa da medida. Em paralelo, adotou um discurso radical no 7 de Setembro, na Avenida Paulista, onde chamou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de “tirano”.
A anistia, que chegou a ter a urgência aprovada na noite da quarta-feira passada (17), subiu no telhado após as manifestações que tomaram as capitais do Brasil contra a proposta, associada à chamada PEC da Blindagem. Bolsonaristas passaram a culpar o fato de a votação da anistia ter ocorrido no dia seguinte à aprovação da medida que dificulta a investigação de parlamentares.
A agenda de votações, no entanto, chegou a ser discutida com o próprio Tarcísio, que se reuniu com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de seu partido, e com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). O encontro ocorreu no Palácio dos Bandeirantes três dias antes da votação.
RECUO – Após mergulhar nas articulações, Tarcísio recuou estrategicamente, alegando que os movimentos possíveis em favor da anistia já haviam sido feitos. Nesta semana, o governador afirmou, em entrevista a jornalistas, que a proposta seria o “caminho para a paz dialogada” e quebrou o silêncio sobre a PEC da Blindagem, ao dizer que a medida revela uma “desconexão” dos parlamentares com a sociedade.
Além disso, Tarcísio segue em rota de colisão com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que já sinalizou intenção de concorrer à Presidência, mesmo que o governador se lance com o apoio de seu pai.
Outro ponto destacado por aliados do ex-presidente são os reflexos que a conversa entre Donald Trump e Lula sobre o tarifaço pode ter sobre o governador. Quando a medida foi anunciada, em julho, Tarcísio entrou em campo e teve uma reunião com o encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, na tentativa de amenizar o problema. Sem sucesso, acabou recebendo mais críticas de Eduardo Bolsonaro.
EVASIVO – Questionado por jornalistas sobre a conversa entre Lula e Trump, anunciada nesta terça-feira pelo presidente americano, o governador disse que espera que eles “se resolvam”.
Apesar das agendas e discursos de pré-candidato, publicamente Tarcísio segue afirmando que disputará a reeleição em São Paulo. Desde o ano passado, o governador tem sido claro, em conversas reservadas, ao dizer que só subirá no cavalo da eleição contra Lula se ele passar montado. Para os aliados do ex-presidente, os acontecimentos recentes afastam esse cavalo de Tarcísio.