Pedro do Coutto
É absolutamente incrível o fato registrado no programa Em Pauta, da Globo News, na última quinta-feira, quando a jornalista Eliane Cantanhêde comentou a preocupação absurda de uma corrente do PT que tece restrições à nomeação de Simone Tebet para o Ministério do Desenvolvimento Social.
A justificativa é a de que a senadora de Mato Grosso do Sul pode crescer com o desempenho na pasta e tornar-se um nome forte para a sucessão presidencial – vejam só – de 2026. Outros jornalistas comentaram também a improcedência da atitude, entre eles André Trigueiro e Mônica Waldvogel.
EQUÍVOCO – Essa corrente petista demonstra que se preocupa mais com a perspectiva futura de poder do que com o êxito do governo consagrado nas urnas de outubro de 2022. Um equívoco total, pois o desempenho de um governo depende fundamentalmente de quem dirige os setores da administração pública, seja na parte econômica, seja na área política, seja no plano social.
A senadora Simone Tebet demonstrou na campanha, e antes mesmo dela, na CPI da Covid, a sua capacidade de observação, análise e atuação concreta num tema em que estava em jogo – e ainda está – a vida de milhões de pessoas. Capacidade não se transfere. Quem exerce uma função executiva tem que ser capaz, pois é impossível transferir a assessores e assessoras a tomada de decisões e análises corretas dos fatos e dos obstáculos que inevitavelmente vão se suceder envolvendo todos os governos.
No governo Bolsonaro, por exemplo, o presidente da República absurdamente demitiu o ministro Henrique Mandetta da Saúde porque ele vinha se destacando no combate à pandemia e assim obtendo uma exposição intensa nos jornais e nas emissoras de televisão. Bolsonaro não levou em conta que faltavam ainda três anos para a sua sucessão no Planalto de Brasília.
SUCESSÃO DE 2026 – Esse mesmo pensamento baseado na inveja reaparece agora numa corrente ainda não bem identificada do Partido dos Trabalhadores depois da vitória nas urnas. Quer dizer que para essa facção retrógrada importa mais a sucessão de 2026 do que o sucesso do governo Lula a partir de 2023. A simples colocação revela bem o caráter medíocre e também negativista dos seus integrantes.
Trata-se de um lance de inveja que não procura atingir o objeto invejado, mas apagá-lo da consciência e da percepção dos eleitores e eleitoras do país, olhando com uma lente de aumento uma distância na qual se inclui a imprevisibilidade política.
PONTE ENTRE FATOS E O POVO – O jornalismo, abrangendo as edições impressas, as emissoras de televisão e de rádio, e também a internet, constitui de fato o único canal entre fatos e o povo de qualquer país. Entre nós, reportagem de Renata Galf, Folha de S. Paulo desta sexta-feira, está sendo realizado um evento promovido pela Associação Nacional de Jornais sobre a liberdade de Imprensa e contra as pressões e ameaças a jornalistas, e também contra a desinformação plantada criminosamente em redes da internet.
Jornalismo, conforme digo sempre, é a única ponte através da qual circulam os fatos entre sua descoberta e o endereço do povo. Quando uma reportagem, um artigo ou uma coluna desagrada a alguns, o texto foi produzido por quem se encontra na faixa entre a obtenção da notícia e o seu destino. Não adianta inventar fatos. Eles se impõem pela verdade.
APOSENTADORIAS – O Supremo Tribunal Federal decidiu no final da tarde de quinta-feira pela revisão das aposentadorias do INSS concedida até julho de 1994. A ministra Rosa Weber decidiu a votação que havia sido iniciada com o voto favorável de Marco Aurélio Mello que se aposentou. Reportagem de Mariana Muniz, O Globo, focaliza o tema.
Os contrastes verificados ao longo do tempo, por exemplo, decorrem dos segurados que descontaram com base no teto de dez salários mínimos e foram surpreendidos pela mudança desse teto para cinco salários mínimos no governo Fernando Henrique Cardoso. A decisão é muito ampla, mas já surgiram obstáculos. Advogados com interesse em representar clientes sustentam que cada um que se julgar atingido deve recorrer à justiça.
Vejam só. Uma decisão ampla da Corte Suprema de Justiça poderá dessa forma se transformar em milhões de ações individuais ou em grupos. É um modo sinuoso de não cumprir a decisão que deve ser respeitada e colocada em prática pelo próprio INSS.