Vicente NunesCorreio Braziliense
De superministro, ao qual foi dado todo poder para decidir sobre os rumos da economia do país, Paulo Guedes parece ter se transformado em um estorvo para o governo. Não por acaso, gente graúda da Esplanada dos Ministérios começou a fazer aposta: até quando o ministro da Economia permanece no cargo?
Especialistas em governo veem, nas últimas declarações do presidente Jair Bolsonaro, a repetição do modus operandi usado por ele para despachar subordinados.
MAIS REPRISE – O filme está se repetindo com Guedes, que acredita — ou finge acreditar — que ainda tem poder. Bolsonaro já não se informa mais com o Posto Ipiranga quando o assunto é economia.
Mesmo entre integrantes da equipe econômica, a percepção é a de que os dias de Guedes estão contados. Para eles, as críticas públicas do presidente às propostas para o Renda Brasil, que substituirá o Bolsa Família, são o exemplo mais claro de que o ministro da Economia já não agrada mais o chefe do Executivo.
A avaliação entre técnicos da equipe econômica é a de que, se realmente quisesse preservar Guedes, Bolsonaro não exporia tanto o ministro, que vem sendo nitidamente esvaziado. “É como se o presidente estivesse indicando a porta de saída para Guedes. Divergências são normais, mas expôr o ministro do jeito que fez Bolsonaro ficou muito estranho”, diz um técnico.
MARINHO E OS MILITARES – Há vários grupos trabalhando contra o ministro da Economia. Um reúne o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e os ministros militares com assento do Palácio do Planalto. Outro, abrange líderes do Centrão, que nunca foram com a cara do ministro pela dificuldade de interlocução com ele. É o pior que poderia acontecer para Guedes.
Marinho é hoje o ministro mais citado pelo presidente — o nome do chefe da equipe econômica sequer apareceu no discurso que Bolsonaro fez na abertura do congresso da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), na noite de terça-feira (25/08). Os militares têm muita ascendência sobre o chefe e os líderes do Centrão são a garantia do mandatário de que ele não sofrerá processo de impeachment no Congresso.
Pode parecer repetitivo, implicância, mas o roteiro de Brasília sempre prima pela repetição. Só mesmo uma reviravolta nos ventos que sopram pela capital sustentará a permanência de Guedes por muito mais tempo no governo.