GABRIELA GUERREIROda Folha Online, em Brasília
Atualizada às 19h03
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse hoje que é crime o vazamento do dossiê com informações dos gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, da ex-primeira-dama Ruth Cardoso e de ex-ministros da gestão tucana. Dilma admitiu ainda que o Planalto suspeita da possibilidade de os computadores da Casa Civil terem sofrido uma invasão.
"Quem é que colocou, que pegou, que chupou elementos do nosso banco de dados e manipulou? Foi feito aqui dentro? Nós vamos investigar isto. Não que a pessoa que pegou os dados aqui dentro tenha cometido algum crime. O crime está em pegar e vazar, mas não porque ali tem alguma coisa estarrecedora", disse Dilma.
Ela anunciou ainda duas medidas: a audoria dos computadores usados na Casa Civil e uma avaliação do Planalto sobre a necessidade de colocar a PF (Polícia Federal) para investigar o vazamento de dados sigilosos. Reportagem publicada hoje na Folha informa que o dossiê saiu pronto da Casa Civil.
Alan Marques/Folha Imagem
Dilma nega que Planalto tenha organizado dossiê e diz que vazamento é crime
Segundo ela, o governo vai avaliar a necessidade de usar a Polícia Federal para investigar o vazamento dessas informações. "Quero avaliar com o ministro da Justiça [Tarso Genro] a questão da investigação do vazamento. Vou reiterar que o crime reside no vazamento. Esse governo não vazou, não difundiu, não publicou informações confidenciais. Nem tampouco essas informações que não são nada confidenciais."
Dilma disse que uma eventual investigação da PF vai apurar o vazamento, e não a montagem do dossiê. "O que é possível é investigar é o vazamento. Se houve dossiê ou banco de dados, não é possível [investigar]. Vamos fazer avaliação para ver como faremos."
Dilma afirmou ainda que o governo não teria nenhum interesse em vazar essas informações, pois parte delas não seriam confidenciais. "Elas não são confidenciais porque nasceram não confidenciais. As informações estariam todas no Portal da Transparência [que na época do antigo governo não tinha sido criado]. Vamos chantagear com o que, com o público e notório?", questionou ela.
A ministra disse ainda que parecer haver uma "tentativa de dolo". "Teve senador da oposição que viu esse banco de dados, que teve acesso. Foi insinuado que havia conhecimento de um deputado da situação. Este até agora não apareceu. Nós hoje temos de considerar duas coisas: fiscalizar o que ocorreu na Casa Civil. Porque achamos que tem uma tentativa de dolo muito clara. Vamos fazer um processo de investigação rigoroso. Pedi uma auditoria ao ITI [Instituto Nacional de Tecnologia da Informação]. Queremos uma avaliação bem clara, técnica de tudo o que tem nos computadores que estavam sendo usados no processo, seja no nosso período [do governo Lula] seja no período anterior [da gestão FHC]."
Sem citar os partidos de oposição, Dilma insinuou que há adversários do governo por trás desse vazamento. "A quem interessa forjar falsos crimes? Aos incomodados com a situação positiva do país, com o aumento da distribuição de renda."
Dilma afirmou ainda que o vazamento do dossiê foi endereçado a ela. "Tem uma direção certa. Endereçada a mim. Tem uma tentativa de atribuir à Casa Civil responsabilidade. Pelo o quê? Por um suposto dossiê."
A ministra criticou o que chamou de "escandalização do nada" porque parte dos gastos presentes no dossiê são essenciais à Presidência da República. "Eu acho estarrecedor a escandalização do nada dos gastos da presidência da República. O presidente receber convidados sem nenhum rito especial não está de acordo com a democracia? É possível ter algum pequeno problema, mas podem procurar de lupa, não vão encontrar. É o fato de tentarem escandalizar o nada, seja ao que se refere ao nosso período ou ao período do ex-presidente Fernando Henrique."
Invasão de computadores
Dilma disse ainda que o governo trabalha com a hipótese de as informações do dossiê sejam resultado da suposta invasão dos computadores da Casa Civil. "Há a possibilidade do computador da Casa Civil ter sido invadido. Parece coisa de agente secreto com crachá. Sabe aquele agente tão óbvio que usa crachá?"
No entanto, ela afirmou que o governo não descarta que as informações tenham sido vazadas por pessoas "de dentro" da Casa Civil. "Fiz uma consulta e me disseram que em casos desse tipo [...]. Em 90% dos casos os dados saem de dentro. Vamos investigar. Houve um processo. Não descartamos hoje nenhuma hipótese. Estamos abertos a qualquer hipótese. Se fechar em qualquer hipótese podemos deixar de ver as outras coisas."
Dados sigilosos
Segundo ela, os dados fazem parte de um banco de dados a que a Casa Civil tem acesso. Dilma disse que os únicos dados sigilosos que foram divulgados são aqueles feitos pela ex-primeira-dama Ruth Cardoso. "Interessante sinalizar que excetuando a dona Ruth, os demais dados que integram o suposto dossiê não são sigilosos. Então por que fazer dossiê de informações que não são sigilosas. Por que um dossiê com informações que por solicitação da CPI [dos Cartões] seremos obrigados a entregar agora."
Dilma afirmou que o banco de dados --como a ministra se refere ao dossiê --começou a ser levantado pelo governo antes do início da disputa entre governo e oposição em torno dos gastos do Executivo com cartões corporativos. "Não é algo que tenha começado a fazer ontem ou anteontem, ou que comecei porque queria prejudicar a, b ou c, ou queria chantagear. Até agora, não apareceu o vazador", disse.
Reportagem
Dilma minimizou reportagem publicada pela Folha com a informação de que o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PDSB) foi montado no Palácio do Planalto, sem alterações. Dilma disse que pode haver inconsistências nas informações divulgadas pelo jornal uma vez que encontrou versões diferentes para um fax publicado na edição da Folha.
Dilma disse que recebeu, nesta quinta-feira, um fax do jornal com cópia de uma página de computador com uma das planilhas de gastos levantada pela Casa Civil. A versão da planilha, segundo a ministra, foi publicada de forma diferente da recebida por ela na edição impressa da Folha.
"A folha de rosto de um computador da Casa Civil foi entregue para nós ontem à noite. Esse fax tem a parte relativa ao horário rasurada. O interessante é que este mesmo fax, ao ser publicado, não estava rasurado, a parte do horário estava apagada. Não estou querendo fazer comentário do porquê isso aconteceu. O que quero evidenciar é a fragilidade desta capa [do computador reproduzida na matéria]."
A ministra também afirmou que uma das colunas publicadas pelo jornal com informações do banco de dados levantado pela Casa Civil não está nos arquivos do órgão. "Todos os elementos que obtive mostram que a coluna não existe na nossa base de dados. [...] Nós suspeitamos de que isso seja verdade como falso e ficamos muito intrigado com essas duas versões: a impressa [no fax] e a do jornal", afirmou.
Fonte: Folha Online
Certificado Lei geral de proteção de dados
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