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segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Allan dos Santos desafia Moraes e diz morar em Orlando: “Pede pro Mickey vir me pegar”…

Publicado em 28 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet

Imagem analisada visualmenteCaíque Alencar
Portal UOL

Foragido da justiça brasileira nos Estados Unidos, o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos disse que mora em Orlando, na Flórida, edesafiou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes a prendê-lo. O magistrado é relator do inquérito sobre as milícias digitais na Corte. Em outubro de 2021, Moraes determinou a prisão preventiva de Allan por disseminar fake news e atacar integrantes da Corte, mas o jornalista fugiu para os Estados Unidos.

Em vídeo que circula nas redes sociais, neste domingo (27/2), Allan dos Santos provoca o ministro. “Alexandre de Moraes, tá vendo isso aqui? Não tem mistério. Se você colocar no google, você consegue encontrar. Você pode pedir para o Mickey, pode pedir pra Minnie, pode pedir pro Pateta, ou você pode pedir para o pato Donald. É bem simples, você vai lá, pede pra eles, e vem me pegar”, desafia.

NOVOS PERFIS – O antigo perfil do blogueiro tinha como nome de usuário “Guerra de Informação”, mas foi tirado do ar após ele publicar na semana passada um vídeo chamando o ministro de “cabeça de piroca” e “amigo do PCC”. A conta havia sido criada em novembro de 2021.

Após o bloqueio, Santos criou outra conta, dessa vez com o nome “Ele voltou novamente”. De acordo com o blogueiro, esse novo perfil também já foi alvo de novo mandado de Moraes para ser tirado do ar.

“Pessoal, saiu mais uma decisão do Alexandre de Moraes para derrubar a conta ‘Ele voltou novamente’ lá no Instagram. Eu vou criar outra logo que eles derrubarem essa daí. Eu vou anunciar aqui, tá? Peçam para as pessoas seguirem o meu perfil aqui no Telegram que eu vou continuar criando conta. Quantas contas ele derrubar eu vou criar outra nova”, afirmou o blogueiro em áudio enviado em seu canal no aplicativo de mensagens russo.

CONTA DESATIVADA – Durante a manhã de hoje a nova conta seguia ativa, mas no início da tarde ela começou a exibir a mensagem de que a página não está mais disponível. O UOL entrou em contato com o Instagram, mas a rede social informou que não vai comentar o caso.

O UOL procurou o STF por meio da assessoria de imprensa, que disse que “o processo envolvendo o citado cidadão corre sob sigilo”.

No vídeo publicado na semana passada, Allan dos Santos chamou o ministro do STF de “cabeça de piroca” e “amigo do PCC”. As ofensas foram ditas por meio de uma música composta pelo próprio blogueiro, após Moraes mandar suspender a conta original dele. No vídeo, Santos aparece cantando e tocando guitarra.

LETRA DA CANÇÃO – “O cabeça de piroca pensa que pode me calar, mas não esperava que tenho amigos e estou livre agora. O escravo é você, que não pode sair na rua e ainda é amigo do PCC”, diz a letra da canção, em referência ao ministro, que já foi alvo de imagens manipuladas nas redes sociais que o associam à facção criminosa.

Moraes foi indicado ao STF em 2017 pelo então presidente Michel Temer (MDB). Após a indicação, em sabatina feita pelo Senado, ele negou que já tivesse advogado para o PCC.

O escritório de advocacia em que Moraes atuava defendeu a cooperativa de transportes Transcooper, suspeita de ligações com a facção. Moraes alega que o envolvimento da Transcooper com o PCC nunca foi comprovado. Em 2006, época dos ataques do PCC no estado de São Paulo, Moraes era membro do Conselho Nacional de Justiça.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Allan dos Santos é um irresponsável que caminha para se tornar um apátrida. Não pode voltar ao Brasil, porque será imediatamente preso, e jamais terá o green card que dá direito a morar legalmente nos Estados Unidos. Está em busca de 15 minutos de fama, como dizia o animador cultural Andy Warhol, e já conseguiu, mas é fama negativa(C.N.)

Ataque cibernético da Rússia atinge embaixada da Ucrânia no Brasil, diz encarregado de negócios

 




O encarregado de negócios da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach.

Anatoliy Tkach orientou interessados em oferecer ajuda humanitária ao país a fazer contato por meio das redes sociais da embaixada.

Por Luiz Felipe Barbiéri

O encarregado de negócios da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, afirmou neste domingo (27) que os canais oficiais da embaixada ucraniana foram bloqueados por “ataques cibernéticos massivos” feitos pela Rússia.

Ele orientou que os interessados em oferecer ajuda humanitária ao país, alvo de ação militar da Rússia desde quinta-feira (24), devem fazer contato por meio das redes sociais embaixada.

"As autoridades ucranianas estão sofrendo ataques cibernéticos massivos. Também o nosso site, e nosso email, não estão funcionando no momento", disse Tkach a jornalistas durante entrevista na embaixada da Ucrânia, em Brasília.

“Pedimos a todos que entrem em contato conosco, quem tem essa possibilidade, através de nossas redes sociais. Nossos sites e correios eletrônicos oficiais não estão funcionando por causa dos ataques cibernéticos”, afirmou.

De acordo com ele, um desses canais é a página da embaixada no Facebook.

Segundo Tkach, “especialistas técnicos” estão trabalhando para retomar os serviços, mas não há expectativa de quando os canais oficiais voltarão a funcionar.

Negociação

O presidente Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, disse neste domingo (27) que concordou em conversar com a Rússia e que o encontro será na fronteira com Belarus, perto de Chernobyl.

'Guerra na Ucrânia entra no 4º dia com confrontos em Kiev e Kharkiv'

A decisão foi tomada após mediação do presidente bielorrusso Alexander Lukashenko. O anúncio ocorreu no mesmo período do dia em que o presidente russo, Vladimir Putin, deu ordem para que o comando militar de seu país coloque as armas nucleares de represália em posição de alerta grave.

Os países da União Europeia começaram a entregar quantidades "significativas" de armas à Ucrânia para ajudá-la a se defender contra a invasão lançada pela Rússia, informaram neste domingo (27) várias autoridades europeias.

As entregas aconteceram no sábado (26) e outras serão feitas neste domingo. Elas são "significativas e permitirão que os ucranianos se defendam", disse uma das fontes.

Tkach disse que as experiências da Rússia com Crimeia, Luhansk e Donetsk mostram que o presidente Vladimir Putin tem ambições territoriais que vão além da Ucrânia.

"O assunto é que, se deixar o Putin fazer o que ele quer, se deixar ele ganhar os territórios, ele nunca pára", disse.

Segundo ele, as sanções econômicas já cobram um preço alto da economia russa, mas há espaço para impor ainda mais medidas para sufocar o país e força Putin a desistir da guerra.

"Neste momento, a principal foi o corte do sistema Swift e também o fechamento dos espaços aéreos de todos os países europeus", afirmou.

Balanço

Tkach disse que, embora a Ucrânia venha sofrendo com os ataques, as tropas russas também foram acometidas por "perdas pesadas".

Segundo ele, até o momento foram abatidos:

    27 aeronaves,
    26 helicópteros,
    146 tanques,
    706 veículos blindados,
    49 peças de artilharia, um sistema antiaéreo,
    30 automóveis,
    60 cisternas. 

O encarregado de negócios afirmou ainda que foram feitos mais de 200 prisioneiros de guerra.

G1

O custo da guerra - Editorial




Ataque à Ucrânia cria risco de quadro recessivo global, que impacta o Brasil

Com a ofensiva armada pela Ucrânia em curso e o anúncio de sanções econômicas à Rússia por parte das potências ocidentais, começam a se desenhar os impactos econômicos da guerra, que devem ocorrer em múltiplas frentes.

O primeiro e mais evidente é o salto das cotações de petróleo e gás, além de outras matérias-primas. No dia da invasão ao território ucraniano, o preço do barril de petróleo chegou a US$ 103, o maior desde 2014 —recuando quando ficou claro que o pacote de sanções europeias e americanas não atingiria o setor de energia.

Mesmo assim, a ação russa põe em risco as linhas de suprimento e, no caso do gás, a infraestrutura de transporte na Europa.

Com a maior inflação desde os anos 1980 e juros em alta no Ocidente, um choque adicional poderia levar a economia global a um quadro recessivo. Os bancos centrais teriam a inglória tarefa de endurecer a política monetária em meio à piora do emprego.

O problema será maior quanto mais tempo durar o conflito militar. No caso europeu, o encarecimento brusco do gás e, no pior cenário, a interrupção parcial ou total da oferta, implicaria forte contração da atividade industrial.

A outra frente de riscos advém justamente das sanções ocidentais, que se estendem ao bloqueio de transações com grandes bancos, empresas e oligarcas russos, controles de exportações de tecnologias sensíveis e outras medidas.

Por cálculo econômico, dada a dependência do gás russo em parte da Europa e o papel da Rússia no mercado mundial de alguns insumos essenciais, como fertilizantes, as sanções não incluem transações nas áreas de energia e agricultura.

Embora não seja suficiente para alterar a investida de Vladimir Putin, o custo para a economia do país será crescente. Caso o conflito se prolongue e cresça o número de vítimas, as sanções poderão ser ampliadas —no limite, até o bloqueio da compra de gás e petróleo.

Nesse caso, seria provável uma retaliação russa, que poderia interromper as vendas de fertilizantes, metais especiais e outros produtos críticos, com impacto negativo para o restante do mundo.

Cumpre não esquecer que, nessa hipótese extrema, a China provavelmente atuaria como compradora de última instância, garantindo o fluxo de dinheiro para Putin.

As consequências para o Brasil seguem essas linhas. Mais inflação e juros no mundo seriam ruins para o país, pois o fluxo de capitais para cá tenderia a ser menor.

Cotações de petróleo mais altas dificultariam a gestão doméstica dos preços dos combustíveis, o que reforçaria as tendências intervencionistas de Jair Bolsonaro (PL) e as ameaças aos cofres públicos.

Folha de São Paulo

Estou com o coração partido, silenciem as armas”, diz Papa

 




Pontífice voltou a pedir a abertura de corredores humanitários

O papa Francisco voltou a falar sobre a guerra na Ucrânia neste domingo (27), durante a celebração do Angelus, e afirmou que está “com o coração partido pelo que acontece no país e em outras partes do mundo”.

“Silenciem as armas, Deus está com os operadores da paz e não com quem usa a violência”, disse, ainda citando os conflitos do Iêmen, da Síria e da Etiópia.

Durante sua fala, o líder da Igreja Católica ainda voltou a fazer um apelo para a defesa dos civis que tentam fugir dos conflitos.

“Eles são irmãos e irmãs pelos quais é urgente abrir corredores humanitários. Eles precisam ser acolhidos. A lógica diabólica [da guerra] se distancia das pessoas comuns que querem a paz. Em cada conflito, são as pessoas comuns as verdadeiras vítimas que pagam em sua própria pele a loucura da guerra”, acrescentou.

“Quem ama a paz, como diz a Constituição italiana, repudia a guerra como instrumento de ofensa à liberdade de outros povos e como meio de resolução de controvérsias internacionais”, pontuou ainda.

A questão ucraniana vem sendo lembrada nas cerimônias e nos eventos do papa Francisco desde novembro do ano passado, quando a tensão começou a aumentar por conta dos exercícios bélicos da Rússia na fronteira com o país.

O Pontífice instituiu duas datas para rezar pela paz para os ucranianos: uma em 26 de janeiro e outra para o próximo 2 de março, dia que a Igreja celebra a quarta-feira de cinzas.

Além disso, Jorge Mario Bergoglio teve uma atitude inédita na última sexta-feira (25) indo pessoalmente à sede da embaixada da Rússia no Vaticano para pedir um cessar-fogo e o cuidado com os mais frágeis. No sábado (26), o líder católico telefonou para o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em contato que foi agradecido publicamente pelo mandatário.

ANSA / Daynews

Covardes e oportunistas




Por Mary Zaidan (foto)

Mesmo com exemplos de sobra – estatismo exacerbado, ojeriza à imprensa, obediência cega ao chefe, que sempre está acima de tudo e todos -, petistas e bolsonaristas viram bichos quando alguém aponta semelhanças entre eles. Na invasão da Ucrânia por Vladimir Putin, as parecenças reavivaram-se.

Ainda que com argumentos diferentes, ambos evitaram condenar o ataque do neoczar russo. As notas do Itamaraty e do PT, igualmente muristas, poderiam ser assinadas por um ou outro sem mexer em uma única vírgula. Como o que importa não são os mortos e feridos de uma guerra absurda e sim a eleição que se aproxima, os dois lados correram para desautorizar declarações e rearranjar discursos.

Jair Bolsonaro puxou a orelha do seu vice, Hamilton Mourão, que, na primeira hora, condenou veementemente o ataque russo. E o PT de Lula fez com que o seu líder do Senado, Paulo Rocha (PA), retirasse do Twitter uma “nota oficial” em que condenava a política dos Estados Unidos “de agressão à Rússia e de contínua expansão da Otan em direção às fronteiras russas”, que ele chamou de “política belicosa”.

O escorregão de sincericídio dos senadores petistas foi substituído por um texto anódino pró-diálogo e em favor da paz – algo que ninguém em sã consciência criticaria -, assinado pela presidente da legenda, Gleisi Hoffmann. Lula, por sua vez, chegou a repudiar o ataque em entrevista a uma emissora de rádio. Mas recuou em falar mais sobre a invasão, visto que parte de sua militância é aderente ao discurso anti-EUA, o país-diabo para a esquerda do século passado.

Intelectualizada, a retórica petista busca justificativas à base de convenientes reinterpretações da História. Condena a opressão dos Estados Unidos a todos os povos, exalta os tempos de glória da União Soviética, sem considerar a matança política de Stalin. Alia-se às ditaduras da Venezuela, da Nicarágua e de Cuba, destilando ódio às democracias ocidentais. Curiosamente, as mesmas que reverenciam Lula com tapete vermelho.

O raciocínio bolsonarista também é pra lá de tortuoso. O presidente não esconde a proximidade com a pauta conservadora de Putin, especialmente no que diz respeito aos costumes. Mas foi muito mais tímido do que o seu “irmão” ultradireitista Viktor Orbán, da Hungria, que condenou os ataques e abriu suas fronteiras para receber ucranianos.

Bolsonaro justifica sua neutralidade pela “dependência” que o Brasil tem hoje dos fertilizantes importados da Rússia e pela relação “extraordinária” com Putin, novamente confundindo o Brasil com suas simpatias pessoais. Nas redes, sua trupe mais aguerrida alia-se a Donald Trump, que, na tentativa de evidenciar uma alegada fragilidade do presidente Joe Biden, faz alegorias ao agressor russo.

O mais aflitivo para Bolsonaro deveria ser o mico de ter se solidarizado com Putin poucos dias antes da invasão, durante a visita um tanto fora de hora que fez ao líder russo. Impropriedade que se soma aos erros grotescos de sua inteligência militar, que falhou feio. Não viu riscos de guerra iminente, deixando mais de 500 brasileiros entre as bombas na Ucrânia, instruídos a não deixar o país no pré-conflito anunciado e agora sem guarita ou plano de retirada.

Ainda que possa ter reflexos na economia do país, a invasão russa está longe de influir na eleição brasileira de outubro. Mas ela escancara a admiração dos protagonistas mais bem posicionados nas pesquisas a líderes autocratas, que vilipendiam a democracia. É simples: ser neutro na guerra contra a Ucrânia é apoiar Putin. E didática: neutralidade entre agressor e vítima só existe na cabeça de covardes e oportunistas. Figurinos sob medida para Bolsonaro e Lula.

Jornal Metrópoles

Brasileiros na Ucrânia: ‘Se virem’ - Editorial




Sem plano de saída, a embaixada brasileira em Kiev orienta que cada um se vire por conta própria

Eis o bolsonarismo em sua essência: Jair Bolsonaro não governa – descumpre as obrigações do cargo –, mas alardeia, nas redes sociais, informação falsa. No dia em que a Rússia iniciou seus ataques contra a Ucrânia, o presidente Bolsonaro disse, no Twitter, estar “totalmente empenhado no esforço de proteger e auxiliar os brasileiros que estão na Ucrânia”. Ainda assegurou que a embaixada em Kiev estava aberta e pronta para auxiliar “os cerca de 500 cidadãos brasileiros que vivem na Ucrânia e todos os demais que estejam por lá temporariamente”.

No entanto, a afirmação de Bolsonaro era falsa. Quem entrou em contato, na quinta-feira, com a embaixada do Brasil em Kiev recebeu informações bem diferentes. Era desaconselhado a ir até a representação diplomática e informado de que não havia como assegurar uma saída do país em segurança, o que foi confirmado pelo Itamaraty, em Brasília. Ou seja, não havia nenhum plano para proteger ou retirar os brasileiros da Ucrânia.

Conforme relatou o Estado, dois brasileiros que pediram auxílio para sair da Ucrânia receberam de um diplomata esta orientação: “Se virem”. Além de inusitada, a mensagem é rigorosamente desesperadora. O órgão do Estado brasileiro que deveria prover proteção a seus cidadãos reconhece seu despreparo diante da situação que, longe de ser uma surpresa, era há algum tempo uma possibilidade não desprezível. Basta ver que outros países já vinham retirando seus nacionais da Ucrânia, entre outras medidas.

A orientação “se vire” não é muito diplomática, mas contém, eis a dura realidade, uma profunda verdade. Diante do padrão de comportamento bolsonarista, trata-se de um conselho realista. Se depender de Jair Bolsonaro, não haverá Estado planejando e cuidando das pessoas. Se depender do bolsonarismo, cada um estará sozinho e desprotegido, abandonado às suas próprias forças. Foi assim com as enchentes na Bahia em janeiro. Foi – e continua sendo – assim durante a pandemia.

Não é apenas irresponsabilidade, o que já seria grave. O bolsonarismo debocha do País e dos brasileiros. Há evidentemente despreparo e ignorância, mas é também descaso, indiferença. Nada é levado a sério. Em sua visita a Moscou, Jair Bolsonaro chegou a dizer que, “coincidência ou não, parte das tropas (russas) deixaram a fronteira”, após o seu encontro com Vladimir Putin. A situação era de tensão, com risco de guerra, mas o presidente Bolsonaro preferiu fazer graça, difundindo informação falsa. E nada fez para proteger os brasileiros na Ucrânia.

A Presidência da República tem responsabilidades. Omissões do chefe do Executivo federal podem causar problemas graves, muitas vezes colocando brasileiros em risco de morte. Jair Bolsonaro segue, no entanto, alheio a tudo isso, achando-se autorizado a leviandades. Na visita a Moscou, disse que “Putin é uma pessoa que busca a paz”. Descaso com a verdade, descaso com as pessoas.

Que, apesar de Bolsonaro, o Estado brasileiro possa, com urgência, oferecer proteção e um plano de saída aos brasileiros na Ucrânia. 

O Estado de São Paulo

Para aliados, guerra escancara um Bolsonaro fraco, fanfarrão e preguiçoso

 




Por Vicente Nunes (foto)
Aliados do presidente Jair Bolsonaro se deram ao trabalho de avaliar todos os movimentos públicos dele desde que estourou a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, na quinta-feira (24/02). A percepção geral é de que se escancarou de vez um presidente fraco, fanfarrão e preguiçoso.

No entender desses aliados, o momento era de o presidente ter um comportamento sóbrio, conciliador e, sobretudo, ciente de seu papel de líder, mantendo intenso diálogo com chefes de Estado para não só ressaltar a importância do Brasil no contexto global, mas mostrar que ele têm trânsito entre os que detêm poder.

A consolidação dessa péssima imagem de Bolsonaro, afirmam aliados, chega em um momento ruim, pois o presidente vinha melhorando seu desempenho na pesquisas de intenção de votos, enquanto o principal concorrente, o ex-presidente Lula, do PT, está estacionado ou caindo lentamente.

A gota d’água para a decepção dos aliados foi a ida de Bolsonaro para Guarujá no carnaval. O presidente mostrou que não está nem aí para a guerra que pode trazer consequências terríveis para o Brasil, como recessão e mais inflação. Prefere andar de lancha e posar para fotos com apoiadores.

Agora, dizem aliados, é esperar pelas próximas pesquisas, que já captarão os impactos da guerra na percepção dos brasileiros. O mundo inteiro registra protestos contra a Rússia. Bolsonaro, pelo seu silêncio ensurdecedor, continua mandado sinais de apoio ao ditador Vladimir Putin.

Correio Braziliense

A Guerra de Putin e a política nos EUA




Crise na Ucrânia altera debate sobre clima, energia importada e ameaça estrangeira

Por Vinicius Torres Freire

Joe Biden preocupa-se com quantas mulheres vai nomear para o Banco Central. Seu Partido Democrata se ocupa de quais pronomes pessoais usar com pessoas LGBTQ+ —ou não. Quer cortar a despesa militar e fazer uma transição para a "economia verde" que sujeita o país a caprichos de estrangeiros, de quem depende para ter energia bastante ou a preço razoável.

A direita tradicional americana cai assim de pau em Biden, acusado também de molenga com Vladimir Putin. Sim, a direita tradicional e letrada do Partido Republicano. Os trumpistas vão além. Elogiam Putin e querem deixar a Rússia para lá, pois o problema seria a China.

Percebe-se por que Jair Bolsonaro lambe as botas de Putin: porque pegou gosto lambendo a sola de Trump.

A direita tradicional e parte dos democratas querem que Biden arranque o couro de Putin até para mostrar à China que não está para brincadeira e que não vai tolerar nem sinal de ucranização de Taiwan. Querem também que o governo derrube restrições ambientais à produção de petróleo e gás, de modo a tornar os EUA independente e capaz de vender a energia de que seus aliados precisam, dane-se a transição verde. Enfim, diz que os americanos devem se preparar para uma nova Guerra Fria, o que implica ter ideias diferentes sobre autossuficiência econômica em itens estratégicos, alterar a política de alianças regionais (exigindo mais fidelidade) e mudar suas bases militares para perto das fronteiras inimigas, da Rússia em particular.

Biden deveria começar essa mudança de rota já no discurso anual do Estado da União, na próxima terça-feira (1º), dizem esses críticos. Não deve mudar, mas a guerra de Putin pode trincar ainda mais a ideia de globalização, rasgar a fantasia de cooperação internacional e favorecer os críticos da "transição verde"

A epidemia sugeriu que é um risco depender do estrangeiro para se abastecer de vários produtos e insumos, não apenas médicos. Mostrou que a vigilância sanitária mundial é um fracasso e que, quando o vírus bate à porta, é cada um por si. Além disso, a guerra e o risco da dependência de combustíveis importados reavivam discussões sobre energia limpa e ritmo da transição verde. No mínimo, o establishment europeu vai pensar em como abrir mão de fontes mais sujas de energia sem depender do gás russo.

Esse faniquito da direita pode parecer disparate oportunista, pois se trata de problemas de escala diferente: uma crise grave, mas circunstancial (guerra), e uma crise já crônica (mudança climática) que pode se tornar apocalíptica —tais crises seriam motivos para acelerar a transição.

Resta convencer os eleitores. Todos são esfolados pela crise mundial de energia. Estão cada vez mais abertos a ideias xenófobas ou isolacionistas. Essa mentalidade é alimentada, por exemplo, pela propaganda do "vírus importado", pelo medo de gente importada (imigrantes), pela noção de que o mundo lá fora é um lugar de perigos ou onde se desperdiça um dinheiro que deveria ser gasto em problemas nacionais. A circunstância da guerra na Ucrânia tende a agravar essas reações e reacionarismos.

No entanto, circunstâncias assim ruins vêm se encaixando umas nas outras pelo menos desde o início do século: revoltas contra a desigualdade, crises de refugiados (gente em fuga da fome e do horror), crises financeiras desastrosas, tumulto climático, peste e agora guerra. Cada rodada de problema circunstancial entrincheira a reação obscurantista às crises e deixa intocados os responsáveis pelas desgraças.

O longo prazo é feito de curtos prazos, de circunstâncias, para dizer a coisa com sarcasmo sinistro.

Folha de São Paulo

Guerra tem dono




Por Dorrit Harazim (foto)

A História é como uma faca: você pode usá-la para cortar pão, mas também para matar. O falecido Fritz Stern, eminente estudioso da História da Alemanha, dizia o mesmo de analogias históricas — elas tanto podem jogar luz e clareza sobre um tema como gerar contendas envenenadas de insensatez. No caso da invasão da Ucrânia por uma Rússia imperiosa presidida pelo czar moderno Vladimir Putin, tem as duas coisas. Com mandato eleitoral para ficar no poder até 2036, quando fará 84 anos, Putin decidiu recuperar pelo menos algumas zonas de influência perdidas com a implosão da União Soviética. Ou, pelo menos, tentar inverter os últimos 30 anos de arrogância militar por parte dos Estados Unidos e dos países europeus reunidos na Otan.

Para tanto, recorreu a uma “guerra de escolha”, e não “de necessidade”, repetindo terminologia usada por Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations de Nova York. Ao contrário das “guerras de escolha”, que em geral terminam mal para quem as lança, Haass designa como “guerra de necessidade” o recurso à força para a proteção da sobrevivência ou dos interesses vitais de um país. Cita como exemplo a entrada dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Decididamente, não é o caso da Rússia de 2022. O rolo compressor com que Putin atropelou a soberania territorial do país vizinho deixou não só 45 milhões de ucranianos sem chão — seja em fuga, seja de coquetel molotov em mãos —, como estonteou o planeta.

Os desdobramentos do ataque inicial têm mudado de gravidade a cada par de horas, arrastado para o conflito novos protagonismos e produzido riscos ainda desconhecidos. Portanto qualquer previsão seria temerária por ora. O que não muda são os horrores da guerra. “Eu não sei com que tipo de armamento a Terceira Guerra Mundial será travada”, escreveu Albert Einstein em 1949, “mas a Quarta será combatida com paus e pedras”. O cientista tinha visto a humanidade se aniquilar entre 1940 e 1945 e fazer uso decisivo das pesquisas sobre bombas atômicas que ajudou a formular.

Nesta semana, quando Putin disse que quem interferisse na invasão da Ucrânia sofreria “consequências nunca antes experimentadas na História”, foi fácil entender a referência a seu arsenal de 6 mil ogivas nucleares apontadas para o Ocidente. Ato deliberado. Das duas uma: ou o homem forte do Kremlin pensa realmente no impensável, ou fez uso apenas retórico do horror possível para se impor ao mundo.

No fundo, em graus variados, todas as potências nucleares pensam no armagedom que têm em mãos. Vale transcrever aqui um diálogo de 1972, bastante concreto, entre Richard Nixon, então presidente dos Estados Unidos, e seu secretário de Estado, Henry Kissinger. O tema era o atoleiro americano no Vietnã, e Nixon cogitava aniquilar, de uma só tacada, a ampla rede de diques, docas e ferrovias construídos pelos vietnamitas. A fita gravada desse diálogo reptiliano só foi tornada pública 30 anos mais tarde, graças à Lei de Acesso à Informação dos Estados Unidos. Nixon começa:

— [O bombardeio de diques] vai afogar a população?

— Cerca de 200 mil pessoas, responde Kissinger.

— Prefiro usar bomba nuclear. Você entendeu, Henry?

— Isso eu acho que seria demais.

— A bomba nuclear, por que ela incomoda você? Pelo amor de Deus, Henry, eu quero que você pense grande... O único ponto sobre o qual divergimos é em relação aos bombardeios. Você vive preocupado com as baixas civis...

— Os civis me preocupam porque não quero que o mundo se mobilize contra você por ser um açougueiro.

Até mesmo estadistas considerados gigantes, como Winston Churchill, questionaram a sensatez de manter algum cavalheirismo humanista em tempos de guerra. Numa minuta em sete pontos de suas anotações pessoais de 6 de julho de 1944, Churchill escreveu: “Necessidade de pensar a sério sobre uso de gás venenoso. Eu não recorreria ao expediente exceto se (a) a situação para nós for de vida ou morte ou (b) se o recurso encurtar a guerra em um ano (...). Plano de encharcar a Alemanha de gás deve ser estudado por analistas frios, e não por aqueles carolas que sempre aparecem uniformizados cantando hinos derrotistas”.

Toda guerra tem seu corolário de barbárie. Assim como toda guerra costuma ter dono. A da Ucrânia leva a assinatura única de Vladimir Putin, enquanto a invasão, ocupação e destruição do Iraque soberano em 2003 (outra “guerra de escolha”, sem motivo) foi obra do presidente americano George W. Bush. O tamanho da condenação mundial, ínfima no caso de Bush, as distancia na percepção global. O grande diferencial entre ambas é de fundo: o ato de guerra de Putin não permite divergências. O regime é autocrático. Os Estados Unidos de Bush eram, e ainda são, uma democracia.

Coube ao ex-guerrilheiro tupamaro, ex-presidente do Uruguai e humanista vitalício José Alberto “Pepe” Mujica, de 86 anos, refrasear as palavras de Einstein citadas no início deste artigo. Em comentário de dois dias atrás para a rádio Deutsche Welle, perguntou: “Será possível que a humanidade do futuro não possa abandonar os orçamentos militares, a loucura da guerra? Seguiremos na Pré-História, com a única diferença que a barbárie dos homens primitivos parece brincadeira se comparada à barbárie dos homens contemporâneos”.

O Globo

Na paz e na guerra




A Rússia invade a Ucrânia, o mundo reage e Bolsonaro está em outro planeta

Por Eliane Cantanhêde (foto)  

Enquanto a Bahia afundava em dor, lama e mortes, o presidente Jair Bolsonaro gastava R$ 900 mil para andar de jet ski no lindo mar azul de Santa Catarina. Enquanto o mundo afunda em ameaças e incertezas com a guerra na Ucrânia, Bolsonaro faz motociatas por aí. Para que serve um presidente? Para curtir a vida e fazer campanha?

Na definição do ex-chanceler Celso Amorim, a posição brasileira é “esquizofrênica”. Bolsonaro lava as mãos, como quem não tem nada a ver com isso, o vice Hamilton Mourão radicaliza, defendendo o “uso da força” contra a Rússia, e o Itamaraty faz contorcionismos em busca de racionalidade.

Essa “esquizofrenia” tem origem na incapacidade de Bolsonaro de presidir o País e na certeza de que Vladimir Putin não invadiria a Ucrânia. Por isso, Bolsonaro manteve a ida a Moscou quando o mundo já dava a guerra como certa e o Itamaraty não orientou os brasileiros que vivem na Ucrânia a deixarem o país, a exemplo de vários outros.

A guerra pegou o Brasil de calças curtas. No dia da invasão, Bolsonaro deu duas entrevistas, mas falou de futebol e não deu uma palavra sobre Rússia e Ucrânia. À noite, desautorizou Mourão. No meio-tempo, disse num post que estava “totalmente empenhado” em proteger os 500 brasileiros na Ucrânia.

O Itamaraty corrigiu: não era bem assim. E, na live com Bolsonaro, o chanceler Carlos França disse que: (1) “já estamos elaborando um plano”. Como assim? Elaborando? Já deviam ter um há muito tempo e já começado a tirar as pessoas; (2) esperavam “condições ideais de segurança”. Durante a guerra? Não era melhor antes?; (3) por fim, pediu “paciência”. Não é pedir demais a quem está sob bombardeio?

Os EUA advertiram contra a ida de Bolsonaro a Moscou, reclamaram da “solidariedade” à Rússia e pediram o voto na ONU. Em entrevista inédita, embaixadores ou encarregados de negócios do G7 (países mais industrializados), da União Europeia e da Ucrânia cobraram uma posição firme do Brasil.

Apesar dos temores e de Bolsonaro, venceram os diplomatas, os militares e a pressão internacional, e o Brasil votou contra a Rússia no Conselho de Segurança da ONU. Depois, registrou que tentara amenizar o texto, mas só para inglês ver. Ou melhor, para russo ver. Durante todo o tempo e toda a tensão, o grande ausente foi... Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição a uma Presidência que nunca ocupou.

DIDA. Numa cobertura na Venezuela, tive sinusite e febre alta e Dida Sampaio, apesar dos pesados equipamentos, carregava meu laptop e minha mala e cuidava dos lugares nos eventos e no avião militar para mim. Eternamente grata. Grande fotógrafo, querida pessoa. 

O Estado de São Paulo

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