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segunda-feira, dezembro 26, 2022

Lula terá 9.587 cargos para distribuir entre aliados na Esplanada

 


Explanada dos Ministérios


Dados do Ministério da Economia apontam quase 10 mil cargos comissionados

Número não inclui autarquias, universidades, institutos federais e o Banco Central

O governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá 9.587 cargos comissionados para distribuir na Esplanada, sendo 40% delas em cargos comissionados, ou seja, destinados a qualquer pessoa. O levantamento é do jornal "O Estado de S. Paulo" e não inclui vagas em agências reguladoras, instituições de ensino e o Banco Central. Esses órgãos, apesar de ligados à administração federal, possuem autonomia administrativa e, por esta razão, as indicações não passam pelo crivo direto do presidente da República.

De acordo com o jornal, que obteve dados do Ministério da Economia, há ainda 31.185 funções comissionadas, que são destinadas para a ocupação de servidores públicos efetivos que ganham um aumento salarial enquanto estiverem naquela função.

Se forem incluídas nas contas as indicações a autarquias, universidades, institutos federaie e BC, o número alcança mais de 90 mil cargos. O Executivo federal tem, no total, 568,4 mil cargos. As estatais não entram nessa contabilidade.

Com a criação de novos ministérios (hoje são 23 e no futuro governo a estrutura terá 37 pastas), novos cargos devem ser criados. Apesar disso, aliados do futuro governo prometem que o desmembramento de ministérios se dará com o desmembramentos de pastas e utilizando o número de cargos já existentes. Até aqui, o presidente eleito já anunciou 21 nomes para sua equipe, restando ainda 16 vagas para seprem preenchidas.

O número de nomeações, apesar de alto, já foi bem maior em gestões petistas. Quando Dilma Rousseff deixou o poder, em 2016, o Executivo possuia 21.155 cargos de direção e assessoramento superior.

De acordo com os últimos dados disponíveis no Painel Estatístico de Pessoal (PEP), o ministério com mais cargos a serem preenchidos é o de Economia, que hoje concentra quase 1,2 mil posições. Nem toda essa força de trabalho, porém, estará à disposição do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pois o atual modelo de Economia, montado por Paulo Guedes, será desmembrado.

Em seguida nesse ranking vem a própria Presidência da República, com 850 posições; a Agricultura, com 751; e a Cidadania, com 511 Na Advocacia-Geral da União (AGU) são mais 365 postos e 363 no Ministério da Defesa. Os dados do Painel estão atualizados até outubro.

Professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a cientista política Gabriela Lotta se dedica a estudar a burocracia brasileira. Na sua avaliação, o país não tem hoje um excesso de cargos de livre nomeação, mas, sim, um excesso de funções comissionadas, o que acaba resultando na politização de postos que deveriam meramente ser técnicos.

"Se a gente olhar só para esses 9 mil, a gente não tem um número absurdo de cargos, na comparação com outros países. É um número proporcional ao tamanho da nossa máquina pública (...). A questão é que, quando a gente junta as funções gratificadas, aí você cria um problema, que é a politização excessiva dos cargos de médio escalão, mesmo que sejam restritos às pessoas concursadas", disse Lotta. "Esses cargos descem muito (na hierarquia) e politizam a máquina pública. Então, são pessoas que trabalham em áreas-meio. É o gerente de recursos humanos, a pessoa da Corregedoria. Áreas que deveriam ter um caráter técnico, até para proteger o servidor público, ficam à disposição do governo de turno", completou.

Para o cientista político e professor do Insper Fernando Schuler, a grande quantidade de cargos e funções é coerente com o modelo de Estado que se consolidou no Brasil, no qual a prestação dos serviços públicos é feita diretamente pela administração pública.

"O Estado brasileiro arrecada 33% do PIB. É um Estado grande. E tem a ver com o modelo de gestão pública que construímos, que começa no governo de Getúlio Vargas (no período do Estado Novo, de 1937 a 1945), passa pela ditadura militar (1964-1988) e se consolida com a Constituição de 1988", observou ele.

Reformulação

Os cargos comissionados no Executivo foram reformulados por uma medida provisória em setembro de 2021, durante o governo Bolsonaro. Aprovada pelo Congresso, a MP simplificou a estrutura existente antes e criou um novo tipo de posto, chamado de Cargo Comissionado do Executivo (CCE), que hoje forma a maior parte das posições, junto com os antigos DAS. No caso dos DAS, há certa defasagem dos salários, que hoje chegam a R$ 16,9 mil. Já os novos CCEs pagam até R$ 17,3 mil brutos para os ocupantes.

Na teoria, os ocupantes de cargos comissionados são profissionais comprometidos com o projeto político que venceu as eleições e integram a administração pública para ajudar os governantes de turno a adotar a agenda escolhida pela população no voto. Dos 9,5 mil cargos comissionados na estrutura do Executivo, 70% (ou 6,7 mil) estão em Brasília.

Estadão / O Tempo

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