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sábado, junho 26, 2021

Empresa que receberia R$ 220 milhões por Covaxin está sediada em escritório de contabilidade


Sede em cingapura da empresa Madison Biotech, empresa usada para tentar receber antecipadamente US$ 45 milhões da compra da vacina indiana Covaxin Foto: Agência O Globo / Bárbara Nascimento

No endereço, trabalham um acupunturista e um contador

Bárbara Nascimento e Paulo Cappelli
O Globo

A empresa Madison Biotech, sediada em Cingapura, entrou na mira da CPI da Covid após um servidor público revelar, em entrevista ao GLOBO, que a companhia receberia um pagamento antecipado de R$ 222,6 milhões do Ministério da Saúde para importar a vacina Covaxin. A reportagem do GLOBO esteve no endereço informado pela Madison Biotech — e constatou que no local funciona, na verdade, um escritório de contabilidade.

A história tem origem no interesse do Brasil pela compra da vacina Covaxin no final do ano passado. Depois de alguns meses de negociação, no dia 25 de fevereiro, foi assinado um contrato de importação de R$ 1,6 bilhão para a compra de 20 milhões de doses do imunizante, fabricado pela farmacêutica indiana Bharat Biotech, que é representada no Brasil pela Precisa Medicamentos.

IRREGULARIDADES – O negócio chamou a atenção do servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, que prestou depoimento nesta sexta-feira na CPI da Covid. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, ele contou que se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro em março e listou uma série de suspeitas de irregularidades no processo de importação da Covaxin.

A principal delas teria relação com com um documento em que era previsto o pagamento antecipado de US$ 45 milhões (R$ 222,6 milhões) para a Madison Biotech, que não faria parte do contrato assinado entre o Ministério da Saúde e a Precisa, representante da Bharat no Brasil.

O GLOBO foi em busca dos representantes da Madison em Cingapura. O registro da empresa informa que ela funcionaria numa sala em um pequeno prédio comercial de dois andares no 31 Cantonment Road, no bairro de Tanjong Pagar, um distrito histórico perto do setor financeiro.

ACUPUNTURA E CONTABILIDADE – No local, uma sala de acupuntura funciona no andar superior. No piso inferior, uma placa estampa o nome Sashi Kala Devi Associates, um escritório de contabilidade e auditoria com 40 anos de existência.

Lá, uma mulher que se identificou como Sashi afirmou conhecer a Madison, mas disse que não poderia responder por ela. Sashi contou que seu escritório dá suporte a empresas que estão se instalando em Cingapura e afirmou que está prestando serviço para a Madison.

— Nós estamos dando suporte a eles com tudo isso, com o que eles nos dão instruções. Eles vão montar seu próprio escritório, mas não conseguiram vir para Cingapura e contratar as pessoas por conta do fechamento das fronteiras — disse Sashi.

ASSOCIADA DO LABORATÓRIO – A mesma versão foi dada pelo vice-presidente do Bharat Biontech, Srinivas Vellimedu. Ele sustenta que a Madison Biotech Pte Ltd é uma associada do laboratório.

— Ela atua como uma empresa internacional de compras e marketing para a Bharat Biotech. Todas as transações feitas entre as duas empresas sempre foram destinadas a estar em conformidade com as regras e regulamentos do país e serão realizadas em condições normais de mercado — disse Vellimedu.

Vellimedu pontuou, contudo, que a empresa já está operando, ainda que não tenha conseguido enviar fisicamente sua equipe para Cingapura. Ele afirmou ainda que há um diretor da empresa no país, mas não quis revelar o nome. Ao ser questionado sobre os detalhes do contrato com o Brasil, o vice-presidente se limitou a responder que a equipe responsável entraria em contato. O GLOBO procurou formalmente a assessoria de imprensa da empresa, mas não obteve resposta.

VENDA EM ATACADO – Criada em 14 de fevereiro de 2020, a Madison possui em seu quadro de diretores pessoas ligadas à Bharat Biotech. Uma delas é Krishna Murthy, fundador e presidente da fabricante da Covaxin. A outra é Rchaes Ella, responsável por desenvolver pesquisas de imunizantes.

Consulta ao site oficial do órgão do governo de Cingapura responsável pelo registro de empresas mostra que a Madison informa ser especializada em “venda por atacado de medicamentos farmacêuticos (Ocidente)”. A companhia tem sede num distrito histórico da região central de Cingapura.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Nada de novo em matéria de empresa-fantasma, sem sede nem representação. Aqui no Brasil são chamadas de “empresas-parte”. Ficam sediadas no escritório de contabilidade que serve de hospedeiro e no seu alvará de localização é registrado o endereço, seguido da palavra “parte”. Por fim, como se sabe, Cingapura é um dos paraísos fiscais que sediam a nata da pilantragem empresarial. (C.N.)


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