Helio Fernandes
No sábado, 27, euforia total. Militares, moradores, cidadãos desses antros, e toda a população do Rio-capital, do Estado do Rio e do Brasil, dominados pela satisfação que jamais conheceram: no domingo, dia seguinte, os traficantes seriam presos, não escaparia ninguém.
Depois daquela altamente satisfatória corrida da quinta-feira, quando centenas de traficantes fugiram de centenas de policiais locais e tropas federais, ninguém tinha a menor dúvida: os moradores retomariam suas casas, voltariam, viveriam como nunca, entrando e saindo de casa como qualquer cidadão.
No sábado, às 8 da noite, um coronel do Exército e um delegado federal anunciavam: “Demos ultimatum aos traficantes para se entregarem até meia-noite. Se isso não acontecer, INVADIREMOS IMEDIATAMENTE, todos serão presos”.
Um estrategista que conhece mesmo as coisas, me disse: “A operação invasão não será feita à noite, embora todos tenham recebido óculos especiais para a noite”. Como conhece mesmo, debaixo de tensa e angustiante expectativa, no domingo às 8 da manhã, I-N-V-A-D-I-R-A-M o sempre chamado Complexo do Alemão.
Depois de tanta expectativa, a mais frustrante e decepcionante realidade: não conseguiram nada, não prenderam ninguém. Se não fosse “a fantasia, o delírio, a idolatria e o exibicionismo da TV Globo”, a derrota (ou a não vitória) teria tido repercussão ainda mais desesperadora, teria dominado tudo.
O que aconteceu para que nem 1 por cento das PROMESSAS militares e civis se cumprisse? É que dali, NINGUÉM, mas NINGUÉM mesmo, jamais subirá o Complexo do Alemão. Não tinham a menor ideia do que encontrariam. Os policiais locais, há anos ficaram trocando com os bandidos, só chegavam até aquele limite mostrado na quinta-feira. Policiais desorganizados, sem plano, nada parecido com aquele ridículo da manchete do Globo: “É O DIA D”. Comparando com a INVASÃO comandada pelo general Eisenhower.
As tropas do Exército e da Marinha, que foram importantíssimas, nem sabiam onde ficava o chamado Complexo do Alemão. Não tinham a menor ideia do que encontrariam, ninguém explicou: podem chegar até a metade da subida, depois, só a pé, sem equipamento pesado.
Tendo chegado aos obstáculos, constataram, perplexos, tinham que enfrentar a adversidade do território, e as armadilhas colocadas pelos bandidões-traficantes-senhores-dos-morros. Ultrapassados os entraves, naturais ou fabricados, a surpresa geral: NÃO HAVIA NENHUM TRAFICANTE, NEM CHEFÃO NEM CHEFINHO, O QUE FAZER?
Então, os porta-vozes começaram a “blefar” e a “chutar”, “apreendemos fuzis, cocaína, maconha, tudo em grande quantidade”, mas sem números que pudessem obter comprovação. E isso consumiu o domingo, a segunda e a terça, ontem, sem nada da importante. Na segunda à noite, o governo federal anunciou: “O Exército ficará combatendo os traficantes e não só no Alemão, pelo menos até junho ou julho de 2011”.
Pois ontem, terça-feira, às 9 da manhã, cabralzinho deu entrevista à TV Globo, dizendo textualmente: “Vou pedir ao presidente Lula para manter aqui no Rio as tropas federais, do Exército e Marinha”.
É o máximo em matéria de desinformação e exibicionismo. O que “pedia” a Lula já estava nas ruas, todos já sabiam. As manchetes das Primeiras do Globo, da Folha e do Correio Braziliense, eram praticamente sobre isso. Anunciavam a decisão do presidente, sem o conhecimento de cabralzinho, como fui o único a revelar.
Já que falamos em entrevista, mostremos o que o secretário Beltrame disse com exclusividade para a TV Record, exibida no domingo e reproduzida na segunda-feira. Essa entrevista confirma inteiramente o que eu disse antes: quando recebeu de cabralzinho a notícia de que o comando de toda a operação seria do Exército e Marinha, respondeu: “Não temos nada que ceder o comando para gente de fora”. “Gente de fora” era o Exército.
Textual na entrevista de Beltrame, exibida e repetida pela Record: “CHEGA de pirotecnia, CHEGA de hipocrisia, CHEGA de varrer sujeira para baixo do tapete”. A quem o secretário de Segurança se dirigia. Só podia ser a cabralzinho. Certo ou errado, Beltrame CONDENAVA O ENFRENTAMENTO.
De qualquer maneira, Beltrame fez “história”. Condenando o ENFRENTAMENTO, ENFRENTOU o governador. Na história do Rio (pelo menos), é o primeiro secretário a DENUNCIAR o governador que o nomeou. Beltrame sabia e continua sabendo: “Cabralzinho está tão desgastado, desmoralizado, humilhado e desprestigiado, que não tem cacife para demiti-lo”.
A TV Globo, desesperadamente tenta prolongar o fato jornalístico, usando e utilizando todos os mais variados canais. (Até o Rural foi mobilizado). Mas a audiência de até segunda-feira foi embora. Principalmente por que quase tudo é repetição. Com todos os formidáveis recursos de que dispõem, porque não denunciam e desalojam os chefões-traficantes? Não interessa?
Dos grandes, quatro ainda estão soltos e tranquilos. Existem mais de 200 “chefinhos e subchefes”, sem a importância desses QUATRO GRANDES. Vejamos:
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PS – Fabiano Altanário, conhecido como Fabio e na intimidade como FB. É o mais agressivo de todos, foi quem derrubou o helicóptero da Polícia Militar, a INVASÃO devia ter começado ali, Cabralzinho foi contra.
PS2 – Polegar, dono da casa que serviu para municiar o noticiário desde domingo. Não mora nessa casa, seu endereço permanente é na Mangueira, que controla, mas suavemente. Não é adepto da violência, Mangueira é menor, mas importante. Revelação não tão sigilosa; Polegar tem um QI alto, teria sucesso em atividade legal. No momento não está na Mangueira, embora se estivesse não seria perturbado nem preso.
PS3 – Nem e Pezão são considerados “livre-atiradores”. Não têm o domínio total dos morros, mas a participação nos resultados é garantida e proveitosa. Pezão tem fortes ligações com taxistas, principalmente os que exercem a profissão ilegalmente, atacando e intimidando profissionais de verdade.
PS4 – Não consegui maiores informações sobre o Nem, ou melhor, o que me diziam era contraditório.
PS5 – Para as autoridades federai, existe um relatório sobre cabralzinho, não escrito, mas longe de estar sigiloso. Não é longo, tem apenas duas ou três frases, não obtive cópia, tive que guardar na memória,
PS6 – É assim: “O governador do Estado do Rio, que há 3 anos recusou a participação das tropas federais no combate ao TERROR dos traficantes, agora teve que cumprir ordens. Perdeu autoridade, a independência, ficou com a parte menor do Poder”.
PS7 – Como gozação, o informante encerrou: “O governador é agora uma espécie de Rainha da Inglaterra”. Como era o fim, perguntei: “Isso é promoção?” Riu e se despediu.