Carlos Chagas
Certas coisas, não dá para entender ou entendemos muito bem. Na segunda-feira, discursando para os novos generais que lhe foram apresentados, o presidente Lula não poupou os Estados Unidos. Disse coisas que se não justificariam o rompimento de relações nem a chamada do embaixador americano a Washington, pelo menos determinariam uma nota ou comentários de protesto.
Para o primeiro-companheiro, enquanto os Estados Unidos exercerem o papel de tutores de Israel, não haverá paz no Oriente Médio. Mais ainda: as Nações Unidas não podem mais ficar à mercê do grupo recém-saído da Segunda Guerra Mundial. O planeta mudou, não dá para os cinco integrantes permanentes do Conselho de Segurança decidirem tudo. Outros países devem ter assento igual naquele colegiado, como Brasil, Índia, Alemanha e Japão, por exemplo.
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Naquela mesma noite os telejornais abriram espaço e tempo para o pronunciamento presidencial. Esperava-se que os jornais, no dia seguinte, não apenas divulgassem as críticas do “cara”, mas comentassem suas consequências, tanto faz se a favor ou contra. Pois bem: nem uma linha. Nada.
Significou o quê, esse silêncio? Provavelmente, pela secular linha adotada pelos nossos jornalões, a vontade de continuar agradando nossos irmãos do Norte, não publicando críticas até justas aos Estados Unidos. O Lula, afinal, teve razão em dizer o que disse.
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Resta aguardar, agora, se haverá alguma retaliação. Quem sabe o cancelamento da vinda de Hillary Clinton à posse de Dilma? Improvável, porque a diplomacia americana está de olho no futuro e ficou até feliz pela troca de Celso Amorim por Antônio Patriota. De qualquer forma, é bom aguardar.
DISCO VELHO
Insiste o presidente Lula em repetir um disco velho e desafinado. Ainda esta semana voltou a acentuar que em 2005 as oposições tentaram afastá-lo do governo, votando seu impeachment por conta das denúncias do mensalão. Falou, a um grupo de dirigentes do PT, que na época tomou a determinação de não repetir nem Getúlio Vargas, que se matou, nem João Goulart, “que renunciou”.
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Começa que o Jango não renunciou. Foi deposto pelos militares. Depois, porque a hipótese dele ser impedido era inteiramente inviável. O Congresso, no qual o Lula dispunha de maioria, jamais votaria a cassação de seu mandato. Acresce terem sido apenas dois ou três senadores do PSDB a aventarem a hipótese, mais para provocá-lo do que para obter algum resultado.
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Mesmo assim, o presidente já repetiu mil vezes haver sofrido a tentativa de um golpe, mas que iria para as ruas e para as favelas, onde ninguém o derrotaria, apoiando-se no povo. Parece fantasia, à maneira dos Cavaleiros de Granada, aqueles que alta madrugada saíram em louca cavalgada, brandindo lança e espada. Para que? Para nada.
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O que importa nessa história é o mensalão, do qual jamais o presidente se valeu mas que aconteceu, até gerido pelo seu então chefe da Casa Civil, conforme acusação do Procurador Geral da República. Não vai ser fácil desfazer a trama, nem reduzi-la a uma simples coleta de dinheiro para pagamento de dívidas de campanha. Foi roubalheira mesmo. Lambança das grandes.
E AGORA?
Nestes últimos dias de glória, aliás, justas, o presidente Lula declarou que nem um centavo dos recursos destinados ao PAC seria cortado do Orçamento. Na ocasião, chegou a passar um pito no atual e futuro ministro da Fazenda, Guido Mantega, que aventou a hipótese.
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Pois vem agora a nova relatora do Orçamento, Serys Slhessarenko, e ao preparar o texto final, reduz de 43,5 bilhões para 40,15 bilhões o montante destinado àquelas obras. São pouco mais de três bilhões de corte. Como a senadora é do PT, a equação fica um pouco mais complicada. Logo virão as explicações de que não foi bem assim, mas foi.
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Resta saber o que acha a nova presidente, Dilma Rousseff. Porque se é para cortar gastos, certamente ela não se oporá…
CHANCES PARA VIRGÍLIO
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Antes mesmo de ser derrotado na tentativa de reeleger-se o senador Artur Virgílio viu-se acometido de prolongada pneumonia, da qual se recupera. Por isso veio apenas uma vez a Brasília, permanecendo em Manaus até o restabelecimento completo. Só que existe outra razão para ele ficar no Amazonas: corre no Tribunal Regional Eleitoral processo para impedir a diplomação ou a posse do senador Alfredo Nascimento, reeleito e já escolhido pela presidente Dilma para retornar ao ministério dos Transportes. As acusações envolvem irregularidades na campanha. Caso o novo ministro se veja arcabuzado, seria substituído por Artur Virgílio, no Senado
Fonte: Tribuna da Imprensa
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