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segunda-feira, dezembro 13, 2010

Antonio Santos Aquino diz que Golbery foi um grande estrategista, que criou e ensinou uma geração de jovens como Romero Jucá, líder no Senado de FHC e Lula. Agradeço a Aquino, aproveito para mostrar ligeiramente o Poder do SNI na ditadura.

Helio Fernandes

Aquino, como militar, deve ser lida com atenção a tua denominação de estrategista para Golbery do Couto e Silva. Para mim ele foi um grande “estrategista” em causa própria, cuidou de si mesmo, passou a vida tentando golpes para chegar ao Poder. Mas só conseguiu ser vitorioso quando já estava na reserva. Você sabe que os oficiais da ATIVA detestam e até repudiam os que passam para a reserva, esquecidos de que também será esse o futuro de todos.

Golbery foi sempre derrotado na ATIVA, e na verdade não passou de tenente-coronel, se reformando como general por causa das duas promoções, então obrigatórias. Sendo apenas militar, deixou os herdeiros satisfeitos. Conseguiu ser presidente (no Brasil) da Dow Chemical, que ganhou fábulas vendendo napalm (destruidor de vidas e territórios) aos EUA, e retardando o fim da guerra da Vietnã.

Quando Jânio Quadros “renunciou”, Golbery que era bom estrategista de si mesmo, percebeu que estava acabado, passou para a reserva, foi para a fazenda (magnífica) que tinha no interior de Goiás. Onde já estivera como punição. E aí começou verdadeiramente seu sucesso.

Ao contrário do que ele mesmo imaginara, conseguiu o “golpe” vencedor. Nos bastidores, a participação de Golbery foi intensa e imensa. Quando chegou ao Poder, vencera em todos os sentidos, destruiu o ostracismo, todos bajulavam o “general”. Rico, poderoso, o que seria contratempo para qualquer um, menos para ele. Teve que deixar a presidência da Dow Chemical, passou a presidente de HONRA. Com as mesmas vantagens, benefícios, mordomias.

Verdade seja dita, registrada, ressaltada, ressalvada: jamais participou de tortura, não era adepto da violência. Só se interessava por dinheiro e Poder. Gostava de viver confortavelmente, bem informado, sabia que os torturadores matam e violentam, mas também não têm tranqüilidade, são caçados pelos torturados. (Pelo menos os poucos que sobrevivem).

Foi o homem que deu forma, sentido e conteúdo ao SNI. Que imitava, no possível, a estrutura da CIA, embora Golbery raramente saísse do Brasil. Transformou esse órgão de espionagem num centro de Poder tão importante, que com a morte de Costa e Silva, com exceção de um único, todos os “presidentes” tinham que ser desse SNI.

Menos ele, o mais importante de todos. Sabia de “ciência própria” que o Exército jamais aceitaria (mesmo ou principalmente numa ditadura) um “presidente” que não fosse general da ATIVA, 4 estrelas, e que não fizesse concessões, a não ser ratificadas pelo alto comando.

Essas diretrizes eram tão entranhadas no processo militar e na própria sucessão ditatorial, que quando Costa e Silva morreu, para escolherem o “sucessor”, pela primeira vez colocaram urnas em quartéis, navios, estabelecimentos da Aeronáutica. E o general de 3 estrelas Afonso Albuquerque Lima, derrotou o general Orlando Geisel. Golbery fez campanha para ele, era intimíssimo dos dois irmãos. Albuquerque Lima não tomou posse, por causa da declaração do derrotado Orlando Geisel: “Como é que um general de 4 estrelas, como eu, vai bater continência a um presidente de 3 estrelas?” Ha!Ha!Ha! Orlando Geisel foi o criador e movimentador do DOI-CODI, antes como CODI-DOI. (Isso fica para outra oportunidade).

O “presidente” inicial, saído do SNI, foi o general Médici. Não queria mesmo, não era desprezo ou desinteresse pelo Poder, e sim cansaço. E rigorosamente verdadeiro: achava que não tinha condições de ser “presidente”, mesmo com todas as aspas, bordados e paetês. Finalmente aceitou, dividiu o Poder com Orlando Geisel, que foi repudiado para “presidente”, mas mandou mesmo. (A segurança do país, que incluía tudo, ficou sob o comando dele).

E sem qualquer dúvida: Médici ratificou, direta ou indiretamente, sabendo ou não sabendo, querendo ou não querendo, todas as violências praticadas. E não apenas no Rio, São Paulo e Pernambuco. Foi o primeiro a dizer, do alto do Planalto, 30 anos antes de Lula: “Eu não sabia de nada”.

Com Ernesto Geisel “eleito” para sucedê-lo, Médici fez a única exigência, numa pergunta pessoal a quem iria substituí-lo: “O general Golbery ocupará algum cargo no seu governo?”. E Ernesto Geisel, arrogante, prepotente, não torturador, mas que não podia prescindir de Golbery, respondeu: “Golbery? Não o vejo há anos”. Golbery seria o homem-forte de Ernesto Geisel. O que o “presidente” que assumiria poderia dizer?

Golbery dominou os 5 anos de Ernesto Geisel, utilizou seu estilo de não aparecer muito, mesmo porque, naquela época, o exibicionismo tinha pouco espaço. Hoje, todo esse espaço vem da televisão. Chateaubriand trouxe a televisão para o Brasil em 1950, custou a se firmar. Hoje, sem televisão, poucos existem. E os “proprietários” de canais de televisão, têm que agradecer à ditadura e aos ditadores. Enriqueceram e se tornaram poderosos, com a COLABORAÇÃO e a SUBSERVIÊNCIA dos generais.

***

PS – Anteontem, sábado, num programa de televisão sobre o “massacre” ao maior cantou popular de uma época, Wilson Simonal, o Boni, que começou na TV-Rio e só foi para a Globo quando ela estava qualificada, consolidada e garantida, afirmou: “A TV Globo foi muito censurada e policiada, não podíamos divulgar nada, sem AUTORIZAÇÃO”. Ha!Ha!Ha! Nunca imaginei que o Boni fosse tão audacioso e desinformado. Ha!Ha!Ha!

PS2 – Na verdade, Walter Clark foi quem fez tudo na TV Globo. Mesmo internamente, é considerado “o único gênio da televisão brasileira”. Até começar a beber, “bebeu tudo o que existia ou que podia”.

PS3 – Uma noite, o “presidente” Geisel recebeu todo o comando da TV Globo para um jantar no Planalto. Bêbado, Clark espinafrou a ditadura e o próprio Geisel, caiu desmaiado. Foi retirado do jantar, como se fosse um lixo. E para Roberto Marinho (presente, lógico), era mesmo lixo. Não aguentava mais ser “o segundo na própria empresa”. Ali mesmo Clark foi demitido.

PS4 – Termino aqui, agradecendo ao Aquino a oportunidade de lembrar em vez de esquecer. Acabava a Era Golbery, mas o “sistema 64” continuava dominado pelo SNI. Depois de Geisel, veio Figueiredo, sucessão tumultuadíssima, quase outro golpe dentro do golpe.

PS5 – Como presidente, (vindo do SNI) Figueiredo quase não pôde fazer nada, “inimigos” de todos os lados. Basta dizer que, numa obra no gabinete de Figueiredo, encontraram todo um esquema de CENSURA E ESCUTA, MONTADO PELO SNI.

PS6 – O audacioso e onipotente chefe do SNI, que se atrevia a “CENSURAR” o próprio “presidente” militar, era o General Otavio Medeiros. Que determinou (e mais verdadeiro, comandou) o “empastelamento” da Tribuna da Imprensa e a catástrofe (que não houve por milagre?) do Riocentro, foi esse mesmo Otavio Medeiros.

PS7 – Já estava acertado, o próximo presidente seria esse general-do-SNI. E como Castelo ficou 3 anos, Médici 4, Geisel 5, Figueiredo 6, Otavio Medeiros teria 7 anos para permanecer no Planalto.

PS8 – Como a ditadura acabou antes, o general Otavio Medeiros “perdeu um país inteiro”. Passou a beber mais do que o Walter Clark. Como chefe do SNI, tinha mais de 300 seguranças. Desesperado e embriagado, andava na rua, ia aos supermercados, ninguém o reconhecia ou ameaçava. Isso foi o que o levou à morte. O diagnóstico médico? Nenhuma importância.

Helio Fernandes |/Tribuna da Imprensa

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