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segunda-feira, março 23, 2009

EDITORIAL: CPI a serviço da direita






Delegado Protógenes Quieiroz

As manchetes em página dupla de O Globo de 19 de março são sintomáticas da podridão estrutural que se alastra pelo cenário político brasileiro. Na página oito, “Nove ministros, inclusive Dilma, festejam Dirceu”, ao lado de “Delubio pede refiliação ao PT para tentar ser deputado”, com a matéria revelando que a manobra conta com inteiro apoio do líder da bancada na Câmara, Candido Vacarezza. Mais embaixo, “Dilma abre hoje, com Geddel, torneira de obra”. Na página nove, destaque, de margem a margem, para “Protógenes é indiciado pela Corregedoria da PF”. Dá para entender a relação?

Na terra onde a bandidagem comemora, nada mais natural: o policial que usa o aparelho do Estado para desvendar as bandalheiras bilionárias do sistema financeiro, protegendo o bem público, é transformado em réu. Mais precisamente, réu numa investigação conduzida por outro delegado, este no papel tradicional de proteger os poderosos.
Há aí material para farta reflexão quando os historiadores futuros se debruçarem sobre a análise do tempo em que vivemos. Se até lá, é claro, não vermos o país retratado numa conjuntura dantesca, na qual a lei do mais forte seja a constituição em vigor.Para nós da esquerda combativa, não há alternativa. Assumimos lado diante da gravidade da operação que se monta contra o delegado Protógenes, sem que isso nos omita da discussão maior sobre o caráter da crise atual do capitalismo e seus possíveis desdobramentos.
Ou seja, sem nos afastar da avaliação das medidas que os Estados, de forma geral, vêm tomando para manter os privilégios do grande capital ─ usando recursos públicos para socializar prejuízos e privatizar os lucros ─, não nos podemos furtar a combates sobre os quais a pressão social pode influir no resultado. E o caso Protógenes é um desses.
Abandonado às feras, ele vai sucumbir. Sua situação é a do cordeiro em luta com o lobo na disputa da água do riacho. A própria matéria anunciando possibilidade de pena de até dez anos de prisão, por vazamento de informação, é prova disso. Esconde, no final, que as escutas foram feitas com proteção legal de decisão da Justiça. Mas, no destaque das primeiras linhas, e como se fosse um crime inominável, destaca a ameaça da Corregedoria da atual PF de até levá-lo à expulsão dos quadros da instituição através de processo administrativo.
O presidente do Supremo Tribunal Federal viria em defesa dele com a mesma presteza com que o fez em relação a Daniel Dantas? Certamente que não. Cabe às forças progressistas da Nação, aos que lutam por “um outro mundo possível”, incorporar essa batalha como meta fundamental. Meta que impeça o retorno ao poder na PF daqueles que, no Congresso, no Judiciário ou na própria instituição, sempre a entenderam como instrumento das classes dominantes, no apoio aos regimes autoritários e na repressão ao mundo do trabalho.
Fonte: Fundação Lauro Campos

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