SÃO PAULO - Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados de matar a menina Isabella, de 5 anos, em 29 de março, apresentaram ontem à Justiça uma história apoiada em dois pilares: acusar a polícia de abuso de autoridade e levantar suspeitas contra funcionários do prédio de onde a menina foi atirada, um pedreiro e um antenista. Apesar de falarem separadamente, concordaram em quase tudo.
Interrogado pelo juiz Maurício Fossen, do 2º Tribunal do Júri de São Paulo, no Fórum de Santana, Zona Norte, Alexandre se disse indignado com o tratamento recebido na delegacia logo no dia do crime. Segundo ele, os policiais tentaram coagi-lo a confessar o assassinato.
Ele disse que o delegado Calixto Calil Filho chutava lixeiras e esmurrava mesas enquanto dizia: "Você é um psicopata frio." Alexandre disse que a delegada Renata Pontes o chamou de "assassino". Na primeira hora do interrogatório, Alexandre permaneceu algemado e manteve a calma. Algemada, sua mulher chorou quando falou de Isabella.
Ao acusar a polícia, Anna Carolina contou que a delegada Renata queria que ela entregasse o marido. Segundo ela, Renata disse que ela estava encobrindo Alexandre por amor e ameaçou: "Eu vou colocar você numa (prisão) temporária. Você não tem faculdade e o Alexandre tem. Você tem noção do que é cair numa prisão?"
A madrasta de Isabella disse também que foi levada pela polícia a seu apartamento na madrugada do crime, para fazer uma reconstituição, e, ao chegar, deparou-se com cerca de "dez pessoas tomando café e comendo o chocolate das crianças". As informações foram passadas pela Assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça.
Para rebater as acusações, a Secretaria da Segurança Pública divulgou nota com a versão da delegada Renata Pontes. Nela, a secretaria informou que ela "jamais induziu, sugeriu, aconselhou ou mandou que Anna Jatobá desse qualquer tipo de resposta ou informação contra a própria vontade".
Anna Carolina foi interrogada por quase quatro horas, das 13h50 às 17h30. Alexandre aguardou numa das celas do 3º andar. O depoimento dele começou às 17h48 e terminou às 20 horas. Antes do depoimento, como estavam em celas de frente uma para a outra, eles se viram e Alexandre tentou acalmá-la. Ambos vestiam uniforme de presidiários e repetiram versões ditas à polícia.
Enquanto o juiz lia a denúncia, Anna Carolina disse que as acusações eram "totalmente falsas". Alexandre também reafirmou inocência. Além do ataque à polícia, Anna Carolina surpreendeu ao dizer que a mãe da menina, Ana Carolina de Oliveira, chegou alterada e "xingando muito" ao Edifício London, após a queda da menina.
Diante da cena, ela disse à mãe: "Sua idiota, estou preocupada com sua filha. "A mesma "sensibilidade" foi constatada no dia do velório, quando a madrasta disse: "Puxa, Carol, você nem ligou para ela ontem (dia do crime)."
Estratégias
Alexandre fez questão de dizer que, após constatar a queda de Isabella, desceu até a portaria e não encontrou o porteiro, assim como disse Anna Carolina. Também afirmou que a cerca elétrica estava desligada, como havia mencionado sua mulher.
A madrasta reiterou em seu interrogatório que o marido brigou com um antenista e que o zelador perguntou, no dia do crime, se Isabella era filha apenas de Alexandre e chegou a falar que dois pedreiros de nomes Wando e Paulo, que trabalharam na reforma de seu apartamento, poderiam ter passagem pela polícia.
Reforçou a estratégia de levantar suspeitas sobre terceiros. A defesa fez perguntas para que ela, nas respostas, mostrasse como Isabella gostava deles, que o prédio não é seguro e não mantém controle da entrada e da saída.
O principal advogado de defesa, Marco Polo Levorin, também questionou se ela e Alexandre são destros - a resposta foi positiva -, provavelmente para juntar essa informação a algum dado do laudo de George Sanguinetti, que colabora com a defesa para contestar as informações dos laudos oficiais.
Sobre a afirmação da madrasta de que brigava muito com Alexandre quando moravam no prédio antigo, mas que tinham uma vida mais tranqüila após o nascimento de Pietro, o promotor Francisco Cembranelli perguntou como os vizinhos puderam reconhecer a voz dela numa discussão minutos antes do crime.
Ela respondeu que uma coisa é brigar com ele e outra é chamar a atenção dos filhos. Cembranelli também questionou o motivo de Alexandre não ter mencionado as brigas do casal à polícia. "Acho que foi vergonha", afirmou.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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