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terça-feira, fevereiro 20, 2024

Golpe jamais daria certo sem apoio parlamentar, empresarial e mundial

Publicado em 20 de fevereiro de 2024 por Tribuna da Internet

Charge do Frank Maia (Arquivo Google)

Diogo Schelp
Estadão

À medida que vêm a público novos detalhes das investigações a respeito de um plano de Jair Bolsonaro e de seu entorno de promover um golpe de Estado, fica mais e mais evidente que suas chances de sucesso eram reduzidas. Ainda que o então presidente e seus assessores mais próximos conseguissem convencer toda a cúpula das Forças Armadas a aderir à aventura golpista, estariam faltando outros elementos essenciais para que ele pudesse permanecer no poder à revelia do resultado das urnas.

Bolsonaro acreditava, segundo o roteiro do suposto golpe revelado até agora, que bastava apoio popular e militar para impedir a posse de Lula.

POVO E EXÉRCITO – O “meu povo” nas ruas ele já tinha, de fato. Faltava o “meu exército” sair da inércia e tomar uma atitude. Era certamente uma fórmula para criar o caos momentâneo, com mortos e feridos inclusive, mas não para “virar a mesa” de maneira duradoura.

Em agosto de 2021, depois de um dos tantos episódios em que Bolsonaro deu a entender que não respeitaria o resultado das eleições, este colunista consultou cinco cientistas políticos e historiadores, dois deles estrangeiros, para analisar as chances de o Brasil sofrer uma ruptura institucional caso ele cumprisse sua ameaça. É interessante perceber, em retrospecto, que todos acertaram em suas análises.

Em resumo, eles previram que Bolsonaro poderia se ver tentado a incitar o caos social, principalmente por meio da mobilização de tropas sob o comando de altos oficiais, de policiais amotinados e de populares dispostos a partir para a violência. Mas para ele despontar como o único capaz de restaurar a ordem, precisaria do respaldo inequívoco das elites políticas e econômicas do país, além de um rápido reconhecimento internacional.

FORA DE COGITAÇÃO – O apoio externo a uma ruptura democrática no Brasil estava fora de cogitação. O governo de Joe Biden, dos Estados Unidos, deu sinais de sobra de que se oporia a um golpe. Tampouco haveria a concordância dos vizinhos sul-americanos. Bolsonaro ficaria isolado. Apoio partidário também não existia.

Com exceção de um ou outro parlamentar bolsonarista, o centrão e as lideranças do Senado e da Câmara dos Deputados teriam muito a perder com a mudança do status quo. Todos sabem que qualquer ditador não perde uma chance de fechar o Congresso.

A adesão do empresariado a uma ruptura institucional estaria, quando muito, restrita a alguns poucos desmiolados, como os que teriam sido citados em áudio de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, revelado nos últimos dias.

SERIA PÉSSIMO – Aceitar que o Brasil resvalasse para uma ditadura seria péssimo para os grandes negócios em um mundo globalizado, com investidores ultrassensíveis à percepção de risco e à instabilidade.

Antes mesmo do primeiro turno da eleição presidencial, a carta em defesa da democracia e do sistema de votação promovida pela Faculdade de Direito da USP e que contou com a assinatura de grandes banqueiros e industriais já deixava claro que os donos do PIB brasileiro não dariam seu endosso a aventuras golpistas.

Se de fato houve uma tentativa de golpe por parte de Bolsonaro e seus aliados, foi extremamente mal calculada, ancorada em uma concepção delirante de como seria recebida pelos principais setores da sociedade. Mas o fracasso da investida não a torna menos grave.

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