Letícia Fontes e Rafaela Mansur
O Tempo
Se mantiver o ritmo atual de vacinação contra a Covid-19, o Brasil pode levar mais de 4 anos para imunizar toda a população contra a doença. Em Minas Gerais, vai demorar ainda mais – 5 anos e 2 meses. De acordo com o Canal Vacina Minas, do governo do Estado, até segunda-feira, 15 dias após o início das aplicações, 167.827 pessoas haviam recebido a primeira dose da vacina, uma média de 11.188 por dia. Com essa velocidade, todos os 21,2 milhões de mineiros — incluindo os menores de 18 anos, que, por enquanto, estão fora do plano de imunização — só estariam protegidos em 2026.
Em Belo Horizonte, a perspectiva é um pouco melhor: a aplicação dos imunizantes seria concluída daqui a um ano e dez meses, considerando o ritmo atual. O cenário preocupa especialistas, uma vez que a celeridade do processo é essencial para o controle da pandemia.
VACINAR 90% – De acordo com o imunologista Anthony Fauci, líder da força-tarefa americana de resposta à pandemia, para controlar o número de casos e mortes pela Covid-19, é preciso vacinar pelo menos 90% da população.
No Brasil, até segunda-feira, apenas 0,98% dos habitantes foram imunizados, segundo o banco de dados do Our World in Data, o que corresponde a 2,08 milhões de pessoas. Para imunizar toda a população, seriam necessários mais de quatro anos.
Até mesmo no maior Estado do país, o processo é lento: mantido o ritmo atual, São Paulo levaria quatro anos e sete meses para vacinar os mais de 46,2 milhões de habitantes. Até a tarde de segunda-feira, 442.224 haviam sido imunizadas.
BAIXO DESEMPENHO – Para especialistas, o número de vacinados está bem aquém da capacidade do sistema de saúde. Na avaliação da professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas), Ana Paula Fernandes, as consecutivas falhas do Ministério da Saúde, a falta de planejamento e as falhas de comunicação entre União e municípios são alguns dos fatores que contribuem para o atraso.
“O Brasil tem condição de acelerar esse processo. Em termos de disponibilidade de logística e mobilização, nós somos referências no mundo, a questão é a desorganização do governo. A lição que fica é que não dá para repetir futuramente os erros de agora. Nós temos capacidade para produzir e desenvolver uma vacina no Brasil e agora poderíamos estar protegendo nossa população e exportando, como a China e a Índia. Estamos pagando caro pela falta de investimentos”, afirma.
PERDA DE VIDAS – O infectologista Leandro Curi diz que cada dia sem vacina significa milhares de mortes a mais. “Infelizmente, a vacinação no Brasil deixou de ser saúde e virou guerra, disputa política. A ciência produziu em um ano várias vacinas, um recorde histórico, quem não conseguiu se organizar e acompanhar foram os governos”, avalia o especialista, destacando a importância de todos se vacinarem.
“O importante é: quando chegar sua vez na fila de vacinação, vacine-se, não importa com qual (imunizante). Vacina é um pacto social”, conclui.
Na última semana, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, informou em entrevista a O Tempo que as negociações com o laboratório americano Covaxx para a aquisição de uma nova vacina contra a Covid-19 têm avançado, mas não há prazos estabelecidos.
50 MILHÕES DE DOSES – A intenção é que o governo mineiro compre 50 milhões de doses e as disponibilize ao Ministério da Saúde. Amaral afirmou, ainda, que, caso não haja atraso no repasse de doses pela pasta federal, todas as 275 mil pessoas pertencentes aos primeiros grupos prioritários do Estado devem ser vacinadas até maio.
Neste mês, o governador Romeu Zema (Novo) chegou a dizer que a imunização dos mineiros pode demorar até um ano.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como se vê, o governador está otimista demais. Antes de dar declarações, Romeu Zema deveria, mineiramente, consultar as estatísticas. (C.N.)