Dora Kramer
Estava marcada para ontem à noite a emissão do certificado da aliança entre PT e PMDB na eleição presidencial, embora nenhuma das partes esteja em condições plenas de assegurar à outra o cumprimento do acordo de divisão da chapa apoiada pelo presidente Luiz Inácio da Silva entre Dilma Rousseff, candidata a presidente, e Michel Temer de vice.
Tenha sido sacramentado ou não o compromisso no jantar aprazado, tanto faz, porque nada haveria de perene, que resistisse à ação do tempo, além do retrato de Lula com a turma em clima de comemoração. Empenhar a palavra é uma coisa, executar a ação tal como o combinado é que são elas. Ao preço de hoje, o presidente da República e a cúpula do PMDB acertam a venda de terrenos na lua, baseados nos interesses de cada um, sustentados na premissa da obtenção da maior vantagem possível sobre o parceiro.
Vejamos o que propõe o PMDB: que o PT lhe garanta a vaga de vice a fim de que tenha como companheiro de chapa influência suficiente para negociar as alianças regionais para as eleições de governador e disponha mesmo do poder de atrapalhar o plano no âmbito nacional caso o companheiro crie problemas.
Se ainda não ficou claro o suficiente, o PMDB está propondo ao PT que lhe abra espaço para azucrinar sua vida, aí incluída a possibilidade de ameaçar explodir a aliança presidencial se necessário for. A direção do PMDB teve essa ideia quando se convenceu de que Lula não atenderia à proposta anterior de enquadrar o PT aos costumes mais convenientes aos peemedebistas nos estados.
Ao contrário do prometido não faz dois meses, o PT vai armando seus palanques sem dar muita atenção (propositadamente?) às promessas feitas oficialmente pela direção do partido nos jornais. Em português claro: o PMDB entendeu que o PT está “enrolando”.
É o termo exato usado pelos dirigentes peemedebistas – governistas e oposicionistas –, cuja convicção só manifestada em privado e sob garantia de anonimato é a de que o presidente Lula está a par e avaliza a embromação. Pudera. Do ponto de vista do PT – o único a partir do qual o partido pode fazer análise de estratégias sem tornar-se um anexo do PMDB –, não há uma única vantagem em fechar o, digamos, negócio agora.
Em tese, garantiria os seis ou sete minutos de acréscimo no tempo de rádio e televisão. Mas teria assegurado o apoio incondicional da máquina do PMDB? Por bem mais que uma vaga de vice, o PMDB já deixou no ora veja candidatos próprios a presidente: Ulysses Guimarães e Orestes Quércia. José Serra, candidato a presidente em 2002 na companhia oficial do partido, viu dessa missa mais que a metade.
Faltassem provas da firmeza ideológica do PMDB, o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo, está nos jornais a fornecer uma bem substanciosa: “Se não tivermos a vice, apoiamos o Serra.” Simples, assim.
Tenda dos milagres
Com o vale tudo pelo eleitoral operando a conversão religiosa da ministra Dilma Rousseff, a agenda segue cheia: já havia ido à Igreja Renascer, segunda-feira foi à Assembleia de Deus, sexta-feira será a missa na Igreja do Bonfim, na Bahia, domingo a procissão do Círio de Nazaré, no Pará.
A romaria da semana que vem inclui uma visita ao recém-nascido filho de Ivete Sangalo, em Salvador, faltando para fechar o circuito, uma escala no Gantois, para reverência a Mãe Carmen, filha e sucessora de Menininha depois da morte de Creuza, a irmã mais velha.
E, se houver receptividade, a Mãe Stela, sacerdotisa do Axé Afojá, o terreiro mais antigo e tradicionalista da Bahia.
Malvadeza Durão
“Maioria” dos gaúchos é maneira de dizer. A quase totalidade dos gaúchos, 74%, desaprova o governo Yeda Crusius. O índice de aprovação fica na casa dos 20%. Arredondando números, 80% não estariam dispostos a reconduzir a governadora ao posto em 2010. Um fenômeno respeitável, ainda mais se tomarmos como medida a palavra de especialistas segundo os quais 40% de rejeição é o máximo que suporta alguém com intenção de se eleger.
Não bastasse, o partido da governadora, PSDB, quer apoiar o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), na eleição estadual. Natural, então, que o tucanato preferisse ver Yeda fora do páreo para a reeleição.
Mas as coisas não se passam assim. Como Fogaça não quer o apoio da governadora, o PSDB acha melhor que ela concorra. Isolada e, na percepção dos correligionários, para perder.
Redução de dano
O chanceler Celso Amorim deu um jeito de amenizar o vexame do apoio à candidatura derrotada do egípcio antissemita Farouk Hosni, para a Unesco. Diz que graças a isso o Rio levou a Olimpíada de 2016 com o voto dos árabes.
Fonte: Gazeta do Povo
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