Diretor-executivo é preso sob acusação de corrupção e tráfico de influência
BRASÍLIA - Sem algemas ou cenas televisadas, foi preso ontem o delegado Romero Lucena de Menezes, "pai" das operações espetaculares da Polícia Federal. Homem de confiança do diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, Menezes é suspeito de advocacia administrativa, corrupção passiva e tráfico de influência.
Diretor-executivo da PF e responsável por coordenar todas as grandes ações no país, Menezes é investigado por supostamente vazar informações sigilosas da operação Toque de Midas, que investigava indícios de fraude em licitação em benefício da empresa MMX Logística, subsidiária da EBX, do empresário Eike Batista. A cúpula da PF achou "desnecessária" a prisão.
A suspeita é embasada em conversas telefônicas grampeadas com autorização judicial entre o gerente da MMX Amapá Ltda, Renato Camargo dos Santos, e o irmão de Menezes, José Gomes de Menezes Junior.
Nos diálogos, os dois discutiriam uma forma de manipular um inquérito policial que apura a prática de crime ambiental pelas empresas Mineração Pedra Branca do Amapari e MMX. Na conversa, eles discutiriam inclusive a possibilidade de afastar o delegado responsável pelo caso com o auxílio de Menezes. Diante das provas, os dois também tiveram a prisão cautelar decretada a pedido do procurador da República Douglas Santos Araújo, responsável pelas investigações.
Além das suspeitas de vazamento de informações, Menezes passou a ser investigado também por supostamente se valer do cargo para conseguir contratos para a empresa do irmão, Serv-San De acordo com investigadores, Menezes teria, inclusive, ameaçado destituir o atual Superintendente Regional da PF no AP, Anderson Rui Fontel, caso os interesses do irmão não fossem atendidos.
Informações ainda não incluídas no inquérito, mas que estão sob investigação no Ministério Público Federal, apontam que Menezes seria dono de 45% da empresa Serv-San, em sociedade com o irmão. A informação não foi confirmada por Menezes.
As suspeitas do MP recaem sobre dois processos em andamento na PF: um para credenciar o irmão de Menezes como instrutor de tiros na Polícia Federal do Amapá e outro para fraudar a inscrição de José Gomes no curso especial de segurança portuária, sob responsabilidade da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça.
Menezes recebeu a voz de prisão do próprio Corrêa, que não quis tecer juízo de valor sobre a decisão da Justiça, amparada em parecer do Ministério Público do Amapá. Constrangido, Corrêa se disse chocado com a denúncia, mas afirmou que ninguém está acima da lei e que decisão da Justiça é para ser cumprida, "seja quem for a autoridade pública". A PF abriu também procedimento de investigação na corregedoria para verificar o nível de envolvimento de Menezes nas irregularidades, ou se ele foi só alvo de exploração de prestígio do irmão.
Menezes foi substituído no cargo pelo delegado Roberto Troncon Filho, diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado, que acumulará as funções. Ao longo do dia, foram cumpridos também sete mandados de busca e apreensão nos Estados do Amapá, Pará e Distrito Federal.
Em Brasília, as diligências atingiram o gabinete de Menezes, sua residência e até o Ministério da Justiça, onde foram apreendidas fichas de inscrição de candidatos a um curso de segurança portuária aplicadas pelo irmão do diretor da PF na Comissão Nacional de Portos (Conportos), órgão colegiado presidido pelo Ministério da Justiça. O material apreendido tratava da realização de curso na área de segurança portuária.
Toda a investigação começou depois de deflagrada a operação Toque de Midas, em julho deste ano. O vazamento de informações acabou por esvaziar a operação e ficou comprovado, inclusive, em nota oficial da MMX, que dizia ter ouvido rumores de uma eventual investigação da PF.
A investigação, o pedido de prisão de Menezes - para que não atrapalhasse as investigações - e as suspeitas levantadas pelo procurador abriram uma crise entre a Polícia Federal e o Ministério Público.
Desde o início das investigações, confidenciou o procurador, agentes da PF não quiseram participar do inquérito, receosos dos efeitos que o ato poderia provocar no diretor-executivo. A apuração, disse o procurador, foi praticamente toda feita por ele, sem o auxílio de policiais.
Foi esse um dos motivos que levaram o procurador a manter o silêncio após a prisão. Inicialmente, Araújo aceitou a proposta do diretor-geral da PF para que concedesse uma entrevista coletiva em conjunto com delegados na sede da polícia para explicar o caso. Depois, ao recordar que houve resistência de policiais em colaborar com as investigações e que declarações poderiam ampliar o tamanho da crise, o procurador preferiu recusar a proposta e evitar as declarações. Uma nota à imprensa chegou a ser produzida, mas o procurador preferiu descartá-la.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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