Foto: Divulgação/Polícia Federal
PF investiga pagamento de propina em licitações em municípios no Pará21 de janeiro de 2025 | 20:25PF investiga propina no Pará após prisão de assessor de deputado com R$ 1,1 milhão
A investigação da Polícia Federal que resultou na prisão de um assessor parlamentar com R$ 1,1 milhão no Pará apura o suposto pagamento de propinas em licitações no estado tendo como alvo uma empresa que firmou contratos com prefeituras que superam R$ 24 milhões em recursos federais.
Um dos dois homens detidos em flagrante em Belém era assessor do deputado federal Antônio Doido (MDB-PA), aliado do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).
Jacob Aarão Serruya Neto, assessor do congressista, e Wandson de Paula Silva foram presos em flagrante na última sexta-feira (17) por suspeita dos crimes de peculato, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Procurado, o deputado federal Antônio Doido não respondeu à reportagem –ele demitiu o seu assessor no domingo (19), dois dias após a prisão. As defesas de Jacob Aarão e Wandson de Paula não quiseram se pronunciar.
A investigação foi iniciada a partir de uma denúncia anônima encaminhada à Polícia Federal na última quinta-feira (16). O denunciante informou que um valor superior a R$ 1 milhão seria sacado da conta da empresa A.C. Silva Comércio para o pagamento de propinas para servidores públicos. O horário da operação e o endereço da agência bancária também foram informados.
A empresa, constituída em outubro de 2020, tem como atividade principal o comércio de produtos alimentícios e possui outras 34 atividades secundárias. Seu único sócio é registrado como funcionário de outra firma do setor de alimentos com salário de R$ 1.700, fato que despertou a atenção dos investigadores.
A investigação também apontou que a empresa A.C. Silva participou de 57 licitações desde a sua fundação. Em 2021, venceu 33 licitações municipais, conforme informações do Tribunal de Contas dos Municípios do Pará. Parte dos contratos tinha como principal fonte recursos de origem federal.
Na representação inicial, a PF relatou que recebeu a informação de que Wandson realizaria um saque milionário em uma agência bancária em Belém, que seria repassado a Jacob. O dinheiro foi recebido em uma sala reservada dentro da agência bancária e colocado em uma mochila.
No local, os policiais constataram o repasse da quantia e realizaram a prisão dos dois. Agentes da PF apreenderam R$ 1 milhão em sacolas plásticas e outros R$ 100 mil dentro do veículo que Wandson utilizava. Foram apreendidos dois veículos, incluindo um blindado.
Na avaliação dos investigadores, o saque de alto valor em espécie é indício de lavagem de dinheiro, e a corrupção “foi configurada no momento em que o representante comercial de uma empresa, envolvida em diversas licitações com órgãos públicos, repassou o dinheiro” ao assessor, um servidor público.
Interrogados na sede da PF no Pará, Jacob Aarão e Wandson de Paula decidiram ficar em silêncio.
Os dois foram soltos no sábado (18) por decisão da Justiça Federal no Pará, que determinou a imposição de medidas cautelares, como comparecimento mensal no fórum e proibição de se ausentar de Belém sem autorização prévia da Justiça.
Agora, as investigações da PF devem mapear os contratos firmados da A.C Silva Comércio e analisar a troca de mensagens entre os suspeitos após autorização judicial.
Em 2024, o deputado Antônio Doido foi candidato à Prefeitura de Ananindeua, segundo maior município do Pará, com o apoio de Helder Barbalho.
Ele enfrentou nas urnas o prefeito Daniel Santos (PSB), ex-aliado de Helder que se lançou pré-candidato a governador em 2026. O prefeito foi reeleito com 83,5% dos votos.
O deputado Antônio Doido é casado com Andreia Dantas Costa, empresária e dona de uma construtora que possui contratos com o governo do estado. Ela não é investigada nesse caso.
Helder já usou a aeronave dela para evento de campanha no ano passado. À época, afirmou que o avião foi emprestado por aliado político.
Caio Crisóstomo/João Pedro Pitombo/FolhapressPoliticaLivre