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sábado, maio 28, 2022

Pobreza e criminalidade não andam juntas




Uma grande razão para isso é que crimes violentos são geralmente motivados por discussões, rancores pessoais, insultos percebidos e conflitos interpessoais semelhantes, não pela necessidade econômica. 

Por Barry Latzer* (foto), City Journal

Muitos analistas, assim como o público em geral, acreditam que a pobreza é uma das maiores causas de crime, se não a maior. Mas um novo estudo de um grupo de pesquisa da Universidade Columbia faz-nos recordar de algo que a história mostrou repetidamente: que a relação entre a pobreza e o crime está longe de ser previsível ou consistente. O estudo da Columbia revelou a espantosa notícia que quase um quarto (23%) da população novaiorquina de origem asiática estava empobrecida, uma proporção que supera a da população negra da cidade (19%). Isso foi uma surpresa, dada a percepção comum de que os asiáticos estão entre os grupos sociais mais ricos do país. Mas o estudo contém um aspecto ainda mais espantoso: na cidade de Nova York, o índice relativamente alto de pobreza entre os asiáticos está acompanhado por incidências de crime excepcionalmente baixas. Isso derruba a crença comum de que a pobreza e a criminalidade andam juntas.

Os asiáticos continuamente tinham índices baixos de encarceramento por crime violento — geralmente menores que a sua proporção na população, menores que as de negros e hispânicos, e, em uma categoria (agressão), até menores que as de brancos, que, em conjunto, são pobres muito mais raramente.

Usando dados do Departamento de Polícia de Nova York, calculei os índices de encarceramento por crimes violentos em cada grupo social, levando em conta o tamanho da população de cada um.

Com valor de 1,2 por 100 mil, o índice de prisão por assassinato cometido por asiáticos foi de quase um quinto do índice dos negros. Se a pobreza fosse a principal causa de crime, esperaríamos que o índice dos asiáticos fosse tão alto, se não maior, que o dos negros. Que o índice dos asiáticos é relativamente baixo é algo que ilustra o que eu chamo de “desacoplamento crime/adversidade”, um fenômeno recorrente. Como eu observo na minha história do crime: “Ao longo da história americana, grupos sociais diferentes cometeram quantidades diferentes de crimes violentos, e nenhuma relação consistente entre a extensão da desvantagem socioeconômica de um grupo e seu nível de violência é evidenciada.”

No que se refere a crimes violentos — assassinato, agressão, roubo e similares — a história tem um enredo complicado. No fim do século XIX e começo do século XX, imigrantes pobres judeus, poloneses e alemães tinham índices de crimes relativamente baixos, enquanto recém-chegados italianos, mexicanos e irlandeses em desvantagem cometiam crimes violentos em índices mais altos. Esse desacoplamento crime/adversidade também parece ser um fenômeno global. Na Grã-Bretanha, por exemplo, um criminologista observou que “todos os grupos minoritários com índices elevados de crime e encarceramento têm desvantagens sociais e econômicas, mas alguns grupos étnicos minoritários desfavorecidos não têm índices elevados de criminalidade”. Lá, também, era o caso que os asiáticos eram mais desfavorecidos que os negros, mas os últimos tinham índices criminais muito mais altos.

Por que é que a pobreza não está relacionada de forma consistente com o crime? Uma grande razão para isso é que crimes violentos são geralmente motivados por discussões, rancores pessoais, insultos percebidos e conflitos interpessoais semelhantes, não pela necessidade econômica. Em consequência, não é provável que o declínio na condição financeira de alguém cause comportamento criminoso violento. Isso explica por que motivo uma recessão ou depressão econômica não leva invariavelmente a um pico nos crimes. Na segunda metade dos anos 1930, por exemplo, o crime violento caiu, mesmo com o país passando por alguns dos piores anos da Grande Depressão. Da mesma forma, durante a Grande Recessão de 2007-2009, quando a economia entrou em declínio, o crime caiu.

Quanto ao comportamento de grupo, os fatores culturais ajudam a explicar as diferenças em níveis de crimes violentos. Os afro-americanos, por exemplo, exibiram índices altos de crime violento desde o fim do século XIX até o presente. Esses padrões derivam de suas origens sulistas, onde os brancos tinham índices mais altos de violência que os brancos de outras regiões. Imigrantes iniciais da Irlanda e da Itália também exibiam índices altos de criminalidade até que, subindo para a classe média, descobriram que tal violência havia se tornado flagrantemente autodestrutiva. Desse modo, a história e experiência de um grupo, não determinantes biológicos como a cor da pele ou a raça, levam a comportamentos violentos.

Como vimos no caso da imigração irlandesa e italiana para os Estados Unidos — e um dia veremos na população americana negra e latina — a mobilidade social para a classe média está associada com uma diminuição acentuada nos crimes violentos. As razões para isso são facilmente apreciáveis. A pessoa de classe média tem tudo a perder e pouco a ganhar com a violência interpessoal: lesões, perda de status e sanções penais. Além disso, a esfera cível oferece alternativas efetivas para resolver disputas pelas quais indivíduos de classe média podem pagar.

Agora podemos entender melhor por que tantos criminosos são de baixa renda. Não é a pobreza que causa o crime, mas, em vez disso, são as pessoas mais abastadas que evitam o conflito violento, efetivamente cedendo o campo para os pobres.

A esquerda e a direita concordam que a mobilidade das minorias para a classe média reduzirá o crime. Discordam, no entanto, a respeito da melhor forma de chegar lá. Isso é assunto para outra conversa.

*Barry Latzer é professor emérito de justiça penal no John Jay College of Criminal Justice, Universidade da Cidade de Nova York. Seu livro mais recente, O Mito do Punitivismo: Uma Defesa do Sistema de Justiça Americano e uma Proposta para Reduzir o Encarceramento e Proteger o Público (trad. livre; Republic Books) está disponível como e-book e será lançado em edição impressa no próximo mês.

Gazeta do Povo (PR)

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