Por Edoardo Pacelli*
Graças à alta no preço do gás e do carvão, as energias renováveis estão se tornando mais baratas. Porém, o uso forçado de carvão mostra que pensar em depender apenas do sol e do vento ainda é algo irreal.
A crise energética na Europa mostra o quanto estas economias ainda dependem do mercado de combustíveis fósseis, que se torna cada vez mais volátil, devido a uma série de fatores convergentes. A ferrada das contas vai doer.
Enquanto isso, pelo menos, surgem notícias positivas: o Instituto de Economia de Energia e Análise Financeira (Ieefa) informa que a energia produzida a partir de fontes renováveis é sempre mais barata – e a estabilidade das renováveis é um antídoto cada vez mais poderoso para a volatilidade do gás e do carvão.
Citando um estudo da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), analistas do Ieefa descobriram que, na última década, o custo da eletricidade da energia solar em grande escala caiu 85%, enquanto caiu 68% o custo da energia solar concentrada, isto é produzida por sistemas fotovoltaicos, capazes de transformar energia solar em térmica.
Como? Explorando a refração da luz solar, obtida por meio de superfícies reflexivas, como espelhos, para concentrá-la em um receptor muito menor. Dessa forma, o calor é convertido em energia mecânica por uma máquina térmica – geralmente uma turbina a vapor – cujo eixo motor está conectado o eixo de um gerador elétrico.
A energia eólica também custa bem menos, uns 50%: o preço onshore diminuiu 56%, o offshore 47%. Resumindo, as energias renováveis costumam ser mais baratas do que as alternativas poluentes.
A tendência representa a resposta ao preço do gás natural e do carvão, dois fatores-chave, que triplicaram o preço da eletricidade no Velho Continente em comparação com o ano passado. O preço do gás natural liquefeito também subiu a níveis recordes recentemente. O custo do gás e o aumento do consumo pós-pandemia obrigam os países a recorrer às centrais a carvão, cada vez mais caras devido às políticas dissuasivas europeias.
O Ieefa escreve que as flutuações (devido a vários fatores) são indicativas de quanto a indústria de combustíveis fósseis está se tornando cada vez mais imprevisível. Em julho, o pesquisador australiano Tim Buckley, diretor do Energy Finance Studies, observou de que forma os investidores globais estavam acelerando o afastamento em investir nos combustíveis fósseis e se preparando para “colocar quantidades cada vez maiores de capital em projetos de infraestrutura de energia renovável”.
Todos os dados apontam para uma reconversão louvável do sistema, em chave verde, onde as energias renováveis formarão a espinha dorsal da produção de energia. Mas ainda se fala de um futuro muito remoto: a capacidade de produção verde é importante, porém ainda muito marginal (os mais de 2.800 GW instalados na Itália, por exemplo, cobrem 20% das necessidades); a capacidade de armazenamento continua bem limitada (devido a obstáculos tecnológicos); e o mesmo conceito se aplica à eficiência da rede. A recaída no uso do carvão (representando o último recurso) atesta a falta de alternativas.
Na transição energética, de hoje para a neutralidade de carbono (2050), só podemos contar com tecnologias de ponte: gás e nuclear. E como recordou o professor Davide Tabarelli, presidente e fundador, desde 2006, da NE – Nomisma Energia, empresa de pesquisa em energia e meio ambiente, a Itália não usa a energia nuclear nem o gás natural, que importa do exterior, em vez dos 200 bilhões de metros cúbicos de reservas hídricas. É difícil reduzir os custos de energia quando o sistema baseado em energias renováveis ainda não foi completado.
*Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália) e editor da revista Italiamiga.
Monitor Mercantil