Publicado em 23 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet

Exército rejeita qualquer investida antidemocrática de Bolsonaro
Pedro do Coutto
A reportagem de Daniel Gulino e Gabriel Mascarenhas, O Globo de domingo, matéria excelente, destacou não apenas uma profunda divergência entre o vice Hamilton Mourão e o presidente da República, mas sobretudo revelou uma tendência do Exército em rejeitar qualquer investida antidemocrática de Bolsonaro para permanecer no poder a qualquer custo, mesmo que esse custo seja a Constituição, a democracia e a liberdade.
Sem dúvida, a concretização de uma ruptura que vinha sendo desenhada há vários meses, transformou-se no fato político mais importante neste fim de semana, funcionando também como abertura de um horizonte contra a utilização das Forças Armadas para um governo que é o maior opositor dele próprio.
ENFRENTAMENTO – A partir de agora, desta segunda-feira, os campos passarão a ser ocupados por tendências muito mais aparentes do que ocultas. Hamilton Mourão assumiu o enfrentamento de representar um plano de combate contra todas as forças antidemocráticas, estejam elas na superfície ou na sombra dos acontecimentos que irão se desenrolar.
Não é difícil prever a queda do governo que, conforme assinalou Bernardo Mello Franco em artigo ontem no O Globo, só está contando agora com o apoio de radicais da direita, isolando-se assim das demais forças existentes na política brasileira.
Por falar em radicais da direita, como os que defenderam o sequestro e a prisão do ministro Alexandre de Moraes através das fake news, vale lembrar que a Força Expedicionário Brasileira lutou nos campos da Itália na 2ª Guerra Mundial exatamente contra a extrema direita representada pelo nazismo de Hitler e pelo fascismo de Mussolini.
MARCAS NO TEMPO – A história deixa sempre as suas marcas no tempo, seja no terreno dos combates, seja nas águas profundas dos mares que afogaram mais de mil brasileiros tripulantes de navios mercantes e mistos que navegavam sob a bandeira de nosso país.
A extrema-direita nazista e fascista possui ramificações profundas na América do Sul. Tanto assim que o Brasil foi o único país do continente a declarar guerra à Alemanha e à Itália. Sofremos o afundamento de 33 navios do total de 35 torpedeados covardemente por submarinos alemães, como lembrou o general Cordeiro de Farias ao firmar um convênio com o presidente da LBA, Luís Fernando da Silva Pinto, destinado a fornecer apoio aos que integraram a nossa Marinha Mercante.
Os afundamentos começaram em 1941 com o cargueiro Taubaté nas águas do Egito no transporte comercial de cargas. Os atentados continuaram até 1944 com o afundamento do navio Vidal de Oliveira. Oito navios, entre eles o Baependi, foram afundados no litoral brasileiro. Cordeiro de Farias lembrou na ocasião o heroísmo dos homens da Marinha Mercante que não tinham à bordo sequer uma metralhadora para se defender.
COMPORTAMENTOS – Haviam três comportamentos de comandantes de submarinos alemães. Um o de torpedear o navio e seguir em frente. Outro, o que aconteceu a um vizinho meu de Ipanema, de vir à tona e jogar água, pães e sal aos náufragos. Mas havia um terceiro, este absolutamente sinistro, que era de vir à tona e metralhar os que nadavam pela vida. O Brasil declarou à Alemanha e à Itália em 1942.
Havia integrantes do governo Vargas que tinham simpatia pelo eixo nazi-fascista. Triste fato, mas é verdade também que na urbanização do Castelo, no Centro do Rio, Vargas inaugurou duas ruas, Franklin Roosevelt e Winston Churchill. Não inaugurou nenhuma rua com o nome de Hitler ou de Mussolini. Mas essa é outra história.
O que surpreende na existência de radicais da direita é que os integrantes desta corrente não têm compromisso com a memória dos fatos. O que é direita hoje? É somente a tentativa de repetir uma ditadura que foi de Vargas de 1937 a 1945, mas principalmente um esforço contra o tempo para reviver os crimes hediondos que levaram Hitler ao esgoto da história universal.
RENDA DO TRABALHO – A reportagem é de Fernando Canzian, Folha de S.Paulo deste domingo e os dados são de Marcelo Neri, diretor da Fundação Getúlio Vargas para área social. Com o declínio, as classes D e E voltaram a crescer e nada menos do que 24 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a viver com uma renda familiar inferior a R$ 1205 por mês, o que representa um rendimento per capita de somente R$ 300. Se alguém estava tentando descobrir o caminho para a fome, o resultado aí está.
Enquanto isso, Lauro Jardim, O Globo, informa que o ministro Paulo Guedes está contratando uma empresa de publicidade para uma campanha de apoio à Reforma do Imposto de Renda. Repito então a frase que ficou na névoa do tempo e que deu margem a um dos temas da campanha de JK na sucessão de 1955: “Salário não é renda”.
Saudades dos anos dourados que Jânio Quadros destruiu com a sua renúncia em agosto de 1961. Recebeu o governo democratizado e jogou fora grande parte do futuro do Brasil.