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terça-feira, junho 01, 2021

Protestos de sábado fazem com que bolsonaristas dirijam ataques a Lula

Publicado em 1 de junho de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Sidney Falcão (humorpolitico.com.br)

Pedro do Coutto

A onda de protestos contra o governo Jair Bolsonaro verificada no último sábado fez com que os seus apoiadores  passassem a atacar diretamente Lula da Silva, buscando assim a polarização tendo em vista o desfecho nas urnas de 2022.

Assumiram a posição destacada como o melhor caminho para que o bolsonarismo possa enfrentar o lulismo, o que, em síntese, significa reduzir a possibilidade de surgir um terceiro candidato capaz de abalar o choque que hoje parece estabelecido para a próxima disputa presidencial.

BANDEIRA PRÓPRIA – A meu ver, os bolsonaristas não possuindo projetos a destacar que possam ir ao encontro das reivindicações sociais que se projetam no cenário nacional, partem para uma tentativa de afastar o debate do plano das ideias, da economia e do lado social, restringindo assim as alternativas pela falta de uma bandeira própria  capaz de motivar os eleitores e eleitoras do país.

A direita, aliás, está tentando obter efeitos eleitorais sobre a polarização porque não possui uma mensagem capaz de seduzir o eleitorado. O bolsonarismo não toca em nenhum ponto favorável à população e preferem buscar o debate entre duas figuras políticas que se encontram consolidadas no momento.

No momento só não, digo eu, no futuro marcado para outubro do próximo ano. No mundo inteiro a direita procura destacar defeitos das correntes adversárias, incorporando o velho anticomunismo em seus posicionamentos. Mas como o comunismo não assusta mais ninguém, o debate restringe-se à tentativa de influenciar aqueles que irão votar mais pelos defeitos dos  adversários do que pelas qualidades que deixam de apontar, no caso brasileiro, do governo do país.

REDES SOCIAIS – Sem dúvida, os protestos de sábado surpreenderam pela reunião de manifestantes em várias capitais do país. Tais manifestações devem ter sido impulsionadas pelas redes sociais, uma vez que não houve nenhuma convocação oposicionista para que as pessoas levassem os seus protestos às ruas, partindo de um apelo pela vacina e terminando com a ameaça de um corte no regime democratico.

Matheus Teixeira, na Folha de São Paulo, focaliza um movimento de aproximação entre  o Supremo Tribunal Federal e o Congresso numa engrenagem baseada na ideia democrática contra Bolsonaro, que a rigor sintetiza a possibilidade de uma ruptura nas instituições brasileiras.

Como aconteceu diversas manifestações de bolsonaristas pedindo pela volta da ditadura militar com Bolsonaro no comando, além do fechamento do Congresso e do STF, os fatos comprovam que a preocupação de resguardar a democracia faz com que, como observa a reportagem, se construa uma ponte na Esplanada de Brasília entre dois poderes, isolando o terceiro, no caso o Executivo. Cenário não falta para comprovar tudo isso.

DECLARAÇÕES – Basta ver as declarações do próprio Bolsonaro contra qualquer punição, por mais leve que seja, contra Eduardo Pazuello. Inclusive a situação do ex-ministro da Saúde não foi estabelecida por nenhum ato do Palácio do Planalto. Pazuello, pelo que se supõe, não está ocupando nenhuma função pública. Apesar disso, o presidente da República se empenha para que ele não seja enquadrado no regulamento disciplinar do Exército baseado na própria Constituição do país.

Pazuello já foi representado pela Advocacia Geral da União, embora não seja mais ministro da Saúde. Ele também ainda não retornou às funções militares. Assim, é surpreendente o empenho do governo, sobretudo porque o próprio presidente da República se viu na obrigação de afastá-lo da Saúde.

GOVERNOS DITATORIAIS –  Portanto o empenho de Bolsonaro, revelado pelo próprio Planalto de que Pazuello não seja punido por ato do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, soa estranho aos ouvidos da grande maioria da população brasileira que não deseja reviver as sombras que resguardam no passado recente os governos ditatoriais que se sucederam de 1964 a março de 1985. Foram assim 21 anos de autoritarismo.

O STF e o Congresso sob ameaça, naturalmente, assumiram uma posição capaz de exprimir a preocupação dos dois poderes contra a ameaça de um terceiro poder que só pode ter origem nas armas. Aliás, a ocupação do poder só pode ser alcançada por dois caminhos. O caminho das urnas ou o caminho das armas. A semana que começou ontem será um espaço de tempo de fundamental importância para que os rumos a partir de agora se esclareçam.

IGP-M –  O IGP-M da Fundação Getúlio Vargas, como destaca Roberto Dumas, na FSP de ontem, é formado por fatores que se distanciam do relacionamento social entre o governo e o poder de consumo da população.

O autor da matéria coloca bem a questão, pois se o IGP-M reflete os preços das commodities, produtos que seguem os preços internacionais, e também com base nas flutuações do câmbio, não faz sentido que se transforme em ponto de reajuste dos aluguéis e do consumo da energia elétrica.

Como se constatou o índice subiu mais de 30% de 2020 para 2021. Enquanto os salários permaneceram estacionados no marco zero da realidade. Vê-se por essa colocação que é impossível continuar sendo um fator de reajuste tanto da energia elétrica residencial quanto dos aluguéis aos quais estão vinculados milhões de brasileiros.

CRIPTOMOEDAS – Júlia Moura, também na Folha, publicou matéria revelando ter ocorrido uma nova desvalorização das criptomoedas, modelo que já possui um ativo bastante alto no mesmo nível do risco que nelas representam os aplicadores.

O volume das perdas ocorridas no mês de março, publicadas agora, mostram nitidamente uma questão eterna: as engrenagens financeiras, no fundo da questão, dependem do poder de consumo sobre o qual repousam as movimentações. Nenhuma medida financeira por si só é capaz de produzir riqueza e muito menos melhorias da economia ou produção de qualquer avanço social.

CONCENTRAÇÃO DE RENDA – O lance financeiro não existe se não tiver uma base sólida no poder aquisitivo da população. Lance de dados financeiros não criam, por isso, riqueza. Muito menos são capazes de melhorar o panorama econômico ou proporcionar qualquer redistribuição de renda. Pelo contrário; só promovem mais concentração. Isso porque somente os segmentos de renda alta podem ter acesso ao balanço dos índices que representam o caminho da concentração, não o da redistribuição.

O problema da concentração de renda não é só do Brasil, mas em nosso país atinge um grau elevadíssimo. A prova está aos olhos de todos. Basta recorrer aos vídeos que focalizam do alto os redutos da pobreza. A imagem fala por si e resume a triste verdade de que uma parcela enorme da população vive sem contar com o abastecimento de água e serviço na rede de esgotos. As duas imagens, na verdade, são as que condenam a concentração de riqueza levada a uma estratosfera tanto política quanto social.

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