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terça-feira, maio 25, 2021

Países ricos compram vacinas demais e criam escassez nos países pobres

Publicado em 25 de maio de 2021 por Tribuna da Internet

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da OMS

Tedros Ghebreyesus, da OMS, critica as nações ricas

Flávia Mantovani e Gustavo Queirolo
Folha

Em dezembro do ano passado, uma britânica então com 90 anos fez história ao receber a dose que inaugurou a vacinação contra a Covid-19 no mundo. Seis meses depois, mais de 1,6 bilhão de doses foram aplicadas. A maioria delas, porém, em braços de habitantes de países ricos.

Com 15% da população mundial, esses países concentram quase metade das vacinas disponíveis. Enquanto um terço de seus habitantes recebeu ao menos uma dose, nas nações pobres a proporção é de apenas 0,2%.

RESERVA DE MERCADO – Assim como ocorreu com o acesso a respiradores e máscaras ao longo da pandemia, os países que tinham mais recursos e poder na geopolítica global chegaram primeiro e reservaram para si a maior parte dos imunizantes disponíveis. As primeiras compras foram feitas pelos EUA e pelo Reino Unido em maio de 2020, quando as vacinas ainda estavam em desenvolvimento.

“Isso cria uma reserva de mercado. Os países disputam quem vai sair antes da crise econômica, e os que se posicionaram estrategicamente entraram na frente na fila da vacina, que é fundamental para essa retomada”, diz o médico sanitarista Ulysses Panisset, da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), especialista em cooperação internacional na área da saúde.

Como resultado, os Estados Unidos, por exemplo, têm quantidade suficiente para vacinar três vezes sua população e o Canadá comprou 10 doses por habitante. Enquanto isso, países como Guatemala, Honduras e Mali não imunizaram nem 1% de seus moradores, e seis países africanos nem começaram suas campanhas.

APARTHEID DAS VACINAS – O cenário é o que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, definiu, na última semana, como “apartheid das vacinas”. Adhanom, que também classificou a situação como um “fracasso moral catastrófico”, fez um apelo para que os países doem parte de seus excedentes ao Covax Facility, consórcio global criado para distribuir os imunizantes aos países de renda baixa e média.

Cientistas alertam que a reserva de doses pode se voltar contra os mais ricos. Se o vírus continuar circulando, pode sofrer mutações que resultem em variantes mais perigosas, como a B.1.617, que surgiu na Índia. Essas variantes se espalham pelo mundo e podem ser, eventualmente, resistentes às vacinas.

Em suma, o chamado “vacinacionalismo” pode vir a ser contraproducente inclusive para aqueles países com imunização eficiente.

INSEGURANÇA TOTAL – “Só estaremos seguros quando todos estiverem seguros”, diz Joan Costa-i-Font, professor de economia da saúde na London School of Economics. “Uma variante pode surgir a qualquer hora. Isso não pode ser uma competição entre ganhadores e perdedores.”

Costa-i-Font, que considera a reserva excessiva de vacinas um “autointeresse míope”, afirma que esses países “logo vão perceber que, para que suas economias se recuperem, seus vizinhos e parceiros comerciais também precisam ficar livres do vírus.”

“Na Europa, isso é uma preocupação muito forte atualmente”, diz o médico e advogado sanitarista Daniel Dourado, pesquisador da USP e da Universidade de Paris. “Na França, por exemplo, há muito intercâmbio com países da África francófona. Deixar o vírus circulando nos países pobres pode derrubar a estratégia de vacinação de todo mundo”, afirma.

ABISMO ESPERADO – Para Dourado, o abismo entre os países no acesso à imunização já era esperado. “A lógica da vacina é a lógica de mercado. Os países centrais têm mais recursos e capacidade de produção, e os periféricos dependem de doações.”

Ele faz uma analogia com a fome no planeta. “Tem comida suficiente para todo mundo, mas continua havendo fome. Da mesma forma, em breve teremos vacinas suficientes para imunizar o mundo inteiro, mas não significa que vão ser bem distribuídas.”

Até o fim de 2021, estima-se que a indústria farmacêutica consiga produzir 11 bilhões de doses, o suficiente para a população adulta mundial, diz um documento divulgado na última quarta-feira (19) por associações profissionais do setor na Europa e nos EUA.

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